Cultura 17.08.2022 10H12
"A Bienal de Cerveira tem uma margem gigante de crescimento"
Quem o diz é a nova diretora artística, Helena Mendes Pereira.
A Bienal Internacional de Arte de Cerveira "tem uma margem gigante de crescimento" além de que em 44 anos de história "não alcançou o reconhecimento merecido". Quem o diz é da nova diretora artística, Helena Mendes Pereira. Na noite de terça-feira, em entrevista ao programa Campus Verbal, a curadora assume que a longevidade nos cargos prejudicou o crescimento do evento que se realiza de dois em dois anos na pequena vila ao lado do rio Minho.
"Não tem o reconhecimento merecido porque não considero que o trabalho tenha sido sempre feito no máximo potencial. Esta continuidade dos agentes no tempo cria vícios. Estas posições de direção artística devem ser claramente temporárias", começa por defender.
Por isso, a nova diretora artística da Bienal Internacional de Arte de Cerveira, assume que não pretende ficar muitas edições à frente do projeto. "Ninguém é capaz de se renovar o suficiente para apresentar sempre novidade. É preciso mudar", continua.
Sem deixar de elogiar o trabalho e esforço desenvolvido ao longo de todo o percurso da Bienal de Cerveira que já conta 44 anos, Helena Mendes Pereira considera que, "sem atrair novas pessoas", a organização não teve capacidade para se renovar.
Ideia de Liberdade vai estar patente no programa da próxima edição, em 2024
O programa da futura edição da Bienal Internacional de Arte de Cerveira já está alinhavado e estará direcionado para a ideia de liberdade, lembrando ainda Jaime Isidoro, pintor e fundador da bienal. Segundo a atual diretora artística, o programa pretende "pensar a liberdade" e, em simultâneo, "potenciar o contacto com outros colecionadores e outras bienais, levando a bienal de Cerveira fora e trazendo outras estruturas de referência e coleções para dentro de portas", anuncia.
Já sobre os cem anos do nascimento de Jaime Isidoro estarão em destaque "iniciativas" relacionadas com o seu legado, mas "com uma nova roupagem", afastando a ideia de saudosismo.
A candidatura para financiamento do programa da próxima edição da Bienal Internacional de Arte de Cerveira já seguiu para a Direção Geral das Artes.
Por seu turno, a galeria Bienal de Cerveira, um dos novos espaços da iniciativa dedicada à Arte Contemporânea, terá uma nova centralidade na próxima edição. O espaço passará a acolher o espólio permanente da Bienal de Cerveira, sempre a partir de curadores externos. Uma ideia defendida por Helena Mendes Pereira que considera que é preciso "mudar o esquema".
"Que passemos, não a ter dois ou três referencias no país e percebermos que há outros e muito bons a fazer programação de arte contemporânea. Temos que trabalhar mais em rede uns com os outros", sublinha a responsável.
"Porque é que quando chega o momento de escolher, escolhemos homens?"
Helena Mendes Pereira é a primeira mulher a assumir a direção artística da Bienal Internacional de Arte de Cerveira. Ainda que o evento se realize há 44 anos, só em 2021 é que o cargo mais visível da estrutura passou a ser desempenhado por uma mulher.
Em entrevista ao programa da RUM, a diretora assume que é um facto "muito preocupante" já que "há mais mulheres a acabarem formação nas áreas diretamente ligadas à programação cultural", além das estruturas terem mais mulheres que homens. "Não estou a dizer que temos que estar em maioria, mas se elas estudam mais e se estamos mais dentro das estruturas, porque é que quando chega o momento de escolher, tendencialmente escolhemos homens?", questiona.
Bienal de Cerveira merece financiamento permanente do Estado central
Helena Mendes Pereira não esconde que "há um caminho, Lisboa - Vila Nova de Cerveira -, que tem que ser feito mais vezes". Ao longo de 2022, vários representantes do poder político nacional já passaram pela bienal internacional, mas a diretora artística considera que é preciso mais, esperando, por exemplo receber o atual ministro da Cultura ainda nesta edição.
Recorde-se que ao longo dos últimos 44 anos, a Bienal Internacional de Arte de Cerveira foi maioritariamente financiada pelo poder local, "algo que é preciso mudar", com um reforço de verba proveniente do estado central.