Manhã de quinta-feira, em pleno mês de agosto. No recinto da feira, junto ao Estádio Municipal de Braga, contavam-se facilmente os clientes que procuravam as poucas bancas, que ali se instalam todas as quintas-feiras e sábado. "Dos 110 operadores, 60 ainda operam na Feira do Mercado, mas a maioria só aparece ao sábado". A informação é avançada por Hélder Oliveira, representante destes feirantes.

“São 11h00 e tive duas pessoas que me pararam na banca”, lamentou uma das feirantes que veio de Santo Tirso para, a meio da manhã, ter feito sete euros. Hélder Oliveira contava pouco mais: “Fiz 20 euros”. “Nem parece agosto”, comentou Ana Maria Pereira, feirante desde sempre.

As vendas, assume o representante, “caíram 90%”. “Se lá em cima, num mês, ou seja, oito feiras, fazia 100 euros por cada uma, no total 800 euros mensais, passei para 80 euros”, lamentou Hélder Oliveira.

Junto ao mercado, Ana Maria Pereira fazia “400 a 500 euros” numa quinta-feira de agosto. Hoje, contava 35 euros na caixa. “Às vezes, não levo dinheiro nem para a sopa”, apontou.

Antónia Gonçalves faz da feira a sua vida há 45 anos e lamenta a ‘esmola’ que tem que pedir aos clientes. Tal como a feirante do lado, considera que as condições para as bancas são boas, há espaço, mas não há quem venha comprar.

“Era das melhores feiras que tinha, agora é a pior"

“Era das melhores feiras que tinha, agora é a pior. Lá em cima tinha 400/500 euros por mês, agora, em agosto, não chega aos 100 euros e não vamos falar dos outros meses, que nem vale a pena. Em época baixa há dias que não levamos nada para casa”, afirmou Hélder Oliveira, ligado ao setor há mais de 30 anos.

O representante garante que “só quem ainda não conseguiu arranjar outras feiras é que continua” a fazer esta. O vendedor lamenta que tenham sido deslocados, mas exista agora junto à Praça, mensalmente, “uma feirinha de produtos usados, de vendedores que não estão coletados”.

“Ouvi dizer que a Câmara alega que queremos ficar aqui, mas é mentira”, garante o representante. Hélder Oliveira explicou ainda que o município efetivamente realizou um inquérito, mas garante que “60 a 70% dos feirantes não quer ficar neste local, porque não vendem”. O município, disse ainda, “quer tirar os feirantes do centro da cidade, porque, em Braga, há vergonha de existirem feirantes”.

Com a obra da academia do SC Braga a avançar a olhos vistos os feirantes desconhecem se serão novamente colocados em outra parte da cidade.

Também os clientes admitem que a feira ficaria "melhor no centro". A maioria das pessoas que hoje se deslocou à feira estava de férias. "Conheço uma feirante que deixou a feira, em parte, porque perdeu clientes ao vir para aqui". Logo abaixo, uma outra senhora, acabada de chegar, dizia à RUM que "quem ia ao Mercado aproveitava e dava uma voltinha na feira e aqui só vem quem precisa", não havendo, por isso, "tantos feirantes". 

Câmara equaciona alternativas

Num documento, assinado por Ricardo Rio, em 2020, a que a RUM teve acesso, é referido que “uma vez ultrapassadas as condicionantes da pandemia, a Feira do Mercado retomará a sua atividade na Praça do Comércio (exclusivamente na rua traseira do Lar Conde de Agrolongo), tal como definido no projeto de Requalificação do Mercado Municipal, que é do conhecimento de todos os operadores”.

Contactada pela RUM, a vereadora Olga Pereira adiantou que a autarquia está a equacionar outras alternativas, que serão, posteriormente, comunicadas.