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Nuno Gonçalves / UMinho
Vanessa Batista

Academia 06.05.2021 20H50

"Uma fotografia não vale mais que mil palavras”. É preciso refletir

Escrito por Vanessa Batista
Defende a coordenadora do projeto “Mapeamento e Sentidos Críticos do Arquivo Fotográfico da Diamang”, Fátima Moura Ferreira, investigadora do Lab2PT e professora do Departamento de História do Instituto de Ciências Sociais da UMinho.

“Mapeamento e Sentidos Críticos do Arquivo Fotográfico da Diamang” é a investigação que pretende fazer eco dos silêncios escondidos, no espólio de quase 30 mil fotografias do Arquivo Fotográfico da Empresa Companhia de Diamantes de Angola.


Este trabalho, coordenado por Fátima Moura Ferreira, investigadora do Lab2PT e professora do Departamento de História do Instituto de Ciências Sociais da UMinho, resultou na exposição “Silêncio da Terra: visualidades (pós)coloniais intercetadas pelo Arquivo Diamang", que está até 30 de Junho patente na Galeria do Paço e, posteriormente, até 10 de Setembro no Museu Nogueira da Silva.


Em entrevista ao UMinho I&D, a responsável revela que os principais objetivos do trabalho passam por "estimular à reflexão e problematização" da experiência colonial portuguesa.


As fotografias tiradas até 1974, que eram muitas vezes utilizadas como postais, retratam apenas o lado positivo do colonialismo, acabando por ocultar a violência e erotização que era feita do corpo negro. Um dos exemplos mais conhecidos é a Exposição Colonial Portuguesa, que teve lugar nos Jardins do Palácio de Cristal no Porto, em 1934. A ideia do regime de Salazar passava por mostrar, aos portugueses e estrangeiros, os feitos e sucessos do império português.


Fátima Moura Ferreira rejeita a premissa de que uma imagem vale mais que mil palavras, pois na sua opinião "as pessoas não estão treinadas para desconstruir a imagem". Ora, as fotografias que compõem este arquivo necessitam de um "olhar mais crítico".


A investigadora revela, em entrevista à RUM, que as pessoas que viviam na Diamang não estavam autorizadas a possuir uma máquina fotográfica. O acesso era dado apenas a técnicos e biólogos, com o intuito de dar apoio à atividade científica com objetivos de exploração económica ou, como já foi referido, mostrar o lado positivo da ação civilizacional. Para a docente da UMinho este é "um arquivo propagandístico" de extrema importância quer para a história africana quer para a história mundial.


A investigadora vai mais longe e frisa que o argumento histórico, nos dias de hoje, "não pode ser desculpa para tudo o que aconteceu durante o colonialismo português", visto que as pessoas tinham consciência do tipo de violência que praticavam. Para a docente o debate público carece de uma verdadeira partilha e auscultação de todas as partes, ou seja, colonizadores e colonizados.


O projeto não fica por aqui, será ampliado a partir da documentação que se encontra no Arquivo Distrital de Braga. 

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