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Braga ao início da tarde desta segunda-feira. FOTO: ELSA MOURA/RUM    
Elsa Moura

Academia 16.10.2017 16H33

“É imprescindível que os políticos oiçam as universidades”

Escrito por Elsa Moura
A análise de António Bento Gonçalves, investigador do Centro de Estudos em Geografia e Ordenamento do Território da Universidade do Minho. É um dos principais especialistas da floresta em Portugal.

Os politicos devem passar a ouvir e não fingir que ouvem as Universidades no que ao ordenamento da floresta respeita. O recado é deixado por António Bento Gonçalves, docente no departamento de Geografia da Universidade do Minho e um dos principais especialistas da floresta em Portugal.


Horas depois do pior dia do ano, em que o país registou mais de 500 incêndios e mais de trinta vítimas mortais (um número ainda em actualização), o investigador admitiu, em declarações à RUM que “apesar de nunca se estar à espera de algo tão dramático, a literatura académica apontava para os riscos que ontem acabaram por se registar”. “Há artigos que apontam para que sempre que passa uma tempestade tropical se gerem ventos e condições climáticas muito propícias a este tipo de incêndios”, sublinhou, apontando que o país “estava em condições perfeitas para uma situação destas”. 


O investigador questiona se o Estado fez tudo para realmente alertar as pessoas para a situação que se previa verdadeiramente dramática. “Porque é que nestas situações continua a haver tanta gente a usar o fogo, por crime, por negligência e por mau uso”, questiona o docente da academia minhota. O desordamento florestal em Portugal é uma das principais preocupações do investigador que continua a reiterar a necessidade de elaboração de um verdadeiro cadastro do território.


Entre as medidas a adoptar para evitar incêndios de grandes proporções nos próximos anos em Portugal, o investigador da academia minhota alerta para a necessidade de reordenamento florestal, a aposta na educação dos jovens e, sobretudo, avisa que os decisores políticos precisam de ouvir os académicos.


“É imprescindível que os decisores políticos comecem a ouvir, mas a ouvir mesmo não é a fingir que ouvem, as universidades. Temos muito boa investigação um bocadinho por todo o país, com muito conhecimento”, defendeu António Bento Gonçalves. De acordo com o investigador, os problemas residem também nas instâncias de decisão que “não têm bons analistas em termos de meteorologia, não têm analistas de fogo e de progressão de fogo e continua a haver algum amadorismo em quem está a lidar com estas questões”.



“É pena que boa parte dos nossos políticos não tenham essa honestidade intelectual” – António Bento Gonçalves sobre afirmação de António Costa ontem à noite


O Primeiro Ministro afirmou ontem à noite que o aconteceu em Portugal, com destaque para a tragédia de Pedrógão e a deste dia 15 de Outubro pode voltar a repetir-se, apontando que é fruto das más políticas da floresta na última década. Para o investigador António Bento Gonçalves “as palavras do Primeiro Ministro fazem todo o sentido”. O especialista em floresta e ordenamento do território considera que a “honestidade intelectual de António Costa” devia ser seguida por “boa parte dos políticos e  responsáveis de instituições”. “Enquanto não olharmos o problema de frente não o poderemos resolver”, sublinha o académico.


António Bento Gonçalves, investigador do Centro de Estudos em Georgrafia e Ordenamento do Território da Universidade do Minho é um dos principais especialistas da floresta em Portugal. Foi ouvido no Parlamento em Fevereiro deste ano no âmbito do projecto nacional "Reforma das Florestas".

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