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Liliana Oliveira

Cultura 23.07.2020 19H56

100 anos de Amália. A eterna "voz de Portugal"

Escrito por Liliana Oliveira
Amália da Piedade Rebordão Rodrigues nasceu, no Fundão, a 1 de Julho, mas só foi registada a 23. Faria hoje 100 anos.

Cem anos de vida, 21 de saudade. O mundo não a viu nascer a 23 de Julho, mas é essa a data oficial do registo do seu nascimento. Viu a luz do mundo em 1920. Festejava no dia 1, o verdadeiro dia do nascimento.

Aquela que ficará para sempre conhecida como "a voz de Portugal" terá, em sua homenagem, um programa de comemorações até ao final do ano. Hoje, Camané e Mário Laginha actuam no Museu do Fado, em Lisboa, num concerto com temas de Amália e Alain Oulman, que compôs para a "diva" do fado. No repertório de Amália assinou canções como Maria Lisboa, Madrugada de Alfama, As Águias, Naufrágio ou Gaivota.


Amália da Piedade Rebordão Rodrigues nasceu no Fundão. O pai era músico e sapateiro e partiu para a capital à procura de uma vida melhor para os quatro filhos. A fadista estudou entre os 9 e os 12 anos, foi bordadeira e vendeu fruta. Mas a música nasceu com ela. Em 1936, participou na Marcha Popular de Alcântara. Pouco depois, conheceu Francisco da Cruz, um guitarrista amador que viria a ser o seu primeiro marido e que a indicou para o Retiro da Severa, a mais conceituada casa de fados de Lisboa da época. Deu voz ao fado dessa casa em 1939.


Um ano depois, passou para os palcos da revista, no Teatro Maria Vitória, com a peça Ora Vai Tu. Corria o ano de 1943 quando a fadista, já divorciada, foi a Madrid actuar na embaixada portuguesa. Por lá conheceu várias cantoras de flamenco como Conchita Piquer, Impertio Argentina, Carmen Amaya, Niña de los Peines.

Diz Rui Vieira Nery que essas vozes "a influenciam de tal modo que se decide a experimentar ela própria as canções tradicionais espanholas, num primeiro passo para a constituição do que virá a ser o seu repertório assumidamente internacional das décadas seguintes".


Alguns anos depois, em 1944, Amália viajou para o Brasil, com contrato para actuar durante aproximadamente um mês no Casino de Copacabana, no Rio de Janeiro. Mas acabou por ficar seis meses.

Em terras brasileiras, gravou vários discos, que começaram a chegar a países para lá dos lusófonos, dando nas vistas até nos Estados Unidos. 


"Amália será sempre uma grande figura da cultura portuguesa"


Além da carreira na música era ambição de Amália uma carreira como actriz. Deu-se a estreia em 1947, no filme Capas Negras. No final, era esperada por multidões, sendo necessário recorrer a ajuda policial para abrir passagem. Seguiu-se a participação no filme Les amants du Tage (Os Amantes do Tejo, de 1955), do franco-arménio Henri Verneuil. Amália passava dos holofotes nacionais para os internacionais. De Portugal, saltou para França e daí para o mundo. Actuou no Olympia, em Paris, nesse mesmo ano.


Participou nos espectáculos do Plano Marshall, com os mais reconhecidos artistas de cada país. Estreou-se em 1952 em Nova Iorque. Tendo já passado por Trieste, Berna, Paris e Dublin. Esteve 14 semanas em Nova Iorque, tendo até passado na televisão americana. Na América editaria o seu primeiro LP, Amalia Rodrigues Sings Fado From Portugal and Flamenco From Spain.


Em Portugal, no tempo do regime Salazarista, viu alguns dos seus fados censurados.

Por exemplo, Barco Negro, cuja letra foi reescrita por David Mourão-Ferreira depois de ter sido censurada, foi regravado na versão original em 1978.


Amália foi única na forma como escreveu, cantou, interpretou e levou o fado aos quatro cantos do mundo. Cantou versos de Camões, mas também colaborou com Ary dos Santos, Alexandre O’Neill ou Manuel Alegre.

Em 1998, foi homenageada na Expo’98 e em abril de 1999 recebeu o prémio da Cinemateca Francesa.

Nesse mesmo ano, a 6 de Outubro, foi dada a notícia da sua morte. Amália morreu em casa, em Lisboa.

Amália morreu, mas a sua voz permanece viva e o seu legado será para sempre um hino ao fado.


Recorde-se que, na altura da sua partida, o então presidente da República, Jorge Sampaio, assumiu que Amália Rodrigues seria "sempre uma grande figura da música portuguesa, da cultura portuguesa, do fado português".


Amália será recordada, até ao final do ano. Conheça a programação aqui.

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