Regional 11.06.2025 12H23
“Braga está melhor do que tinha idealizado em 2013”
O presidente da Câmara Municipal de Braga concedeu à RUM uma grande entrevista onde aborda vários temas que marcaram os três mandatos. Fala ainda de futuro e dos candidatos que já surgiram para lhe suceder.
Ricardo Rio, presidente da Câmara Municipal de Braga desde 2013, prepara-se para deixar o cargo após três mandatos à frente dos destinos da autarquia bracarense. Numa grande entrevista à RUM fala do passado, presente e futuro não manifestando qualquer dúvida que na última década a cidade sofreu grandes transformações, muitas delas para melhor, e sublinha que "inquestionavelmente, as pessoas vivem muito melhor em Braga do que viviam há doze anos" e que a cidade é uma das melhores para viver a nível internacional.
Recordando que os desafios "eram enormes" e muitos deles conhecidos, considera que com diálogo e auscultação foi possível fazer mais e melhor. Lamenta não ter conseguido vender o estádio, e considera que quem lhe suceder não deve abrir mão desse desígnio, apontando para o valor de 20ME e o SCB como comprador óbvio depois de todo o investimento realizado na Cidade Desportiva nos anos recentes. A não requalificação do Estádio 1º de Maio é uma das "mágoas" que deixa, lamentando que as circunstâncias não tenham permitido avançar com a empreitada. Ainda assim, revela que o projeto tendo em vista a sua requalificação "está pronto".
Questionado sobre se Braga está em 2025 no ponto que a idealizou quando em outubro de 2013 assumiu a responsabilidade de presidente da Câmara Municipal de Braga, Ricardo Rio é taxativo: está melhor do que idealizou.
"Eu julgo que está num ponto melhor do que aquele que eu idealizei em 2013. Nós tínhamos pela frente desafios enormes. Braga era uma cidade que se encontrava estagnada, que se encontrava limitada em muitas das suas ambições, nas políticas que desenvolvia em muitas das áreas e sabíamos que ia ser um desafio muito grande poder concretizar muitas das ambições que os bracarenses tinham, daquilo que eram os projetos que nós tínhamos preconizado para cada uma dessas áreas e que fomos construindo ao longo desse período em diálogo contínuo com os cidadãos e com as instituições. Acho que essa foi de facto uma das marcas indeléveis desse período anterior à minha eleição, que depois tentei prolongar até aos dias de hoje, que foi essa capacidade de auscultar de uma forma contínua todos esses interlocutores", responde.
Recordando as dificuldades financeiras, os "esqueletos" deixados no armário pelo seu antecessor, assim como incapacidades que existiam no que respeita a qualificação de recursos humanos, organização interna, articulação com as empresas municipais, admite que todas essas condicionantes "levantavam dúvidas sobre a capacidade de levar a cabo muitas das ideias que a coligação Juntos por Braga tinha para a cidade. "A verdade é que, pelo contrário, face a essas dúvidas, acho que estes 12 anos marcaram, de facto, um período de grande transformação, de grandes concretizações, de grandes progressos em todas as diferentes áreas de governação da cidade e de desenvolvimento deste território. Acho que as pessoas hoje, inquestionadamente, vivem muito melhor em Braga do que viviam há 12 anos atrás, usufruem de um leque de infraestruturas e de serviços muito mais qualificados, e nesse sentido acho que Braga hoje é uma cidade que vai sendo reconhecida local, nacional e internacionalmente como um exemplo do ponto de vista daquilo que é o seu patamar de desenvolvimento e qualidade de vida", confidencia.
Vender o Estádio Municipal de Braga deve continuar na agenda do próximo presidente
Quis lançar um referendo local para a venda do estádio municipal, mas a pandemia condicionou o processo que acabaria por cair por terra, integrando em 2021 o leque de propostas no programa da coligação Juntos por Braga, mas acabou por não acontecer. Nesta matéria, a opinião é firme: o estádio deve ser vendido ao SCB, pelo menos por 20ME, recusando qualquer ideia relacionada com uma doação. Afirma que o município deve apostar na requalificação do Estádio 1º de Maio para o qual existe agora um projeto.
"A Câmara Municipal não tem que ser proprietária de dois estádios municipais, acho que isso foi uma megalomania. Não me parece razoável que o Sporting Clube de Braga possa beneficiar a título gracioso, indefinidamente, desse mesmo equipamento que custou tanto para os cofres municipais e, portanto, daí que eu sempre tenho defendido a lógica da venda. Acho que o SC de Braga é o comprador natural. Poderia não ser o único, quando inicialmente começamos a avançar com essa ideia admitimos que pudesse haver outro tipo de interessados, de outra natureza. Não havia cidade desportiva, por exemplo. Neste momento eu acho que o comprador natural da infraestrutura, mesmo que num processo público, nunca haverá uma negociação particular com o Sporting Clube de Braga, terá sempre que ser através de um processo de taxa pública de venda, terá por natureza que ser o Sporting Clube de Braga," sugere e continua: "Não acho que se possa alienar este estádio de forma gratuiciosa, como alguns apregoaram, e portanto o Sporting Clube de Braga tem apresentado muitas reservas a esse valor. Enquanto não houver um entendimento, porventura um futuro presidente pode ter uma visão diferente da minha e achar que os interesses públicos não têm que ser preservados desta maneira."
Ou seja, doar o estádio por um euro, como se fez em Guimarães, por exemplo?
"Acho que seria uma atitude ofensiva para aquilo que foi o percurso que este estádio representou do ponto de vista das responsabilidades públicas, dos encargos que tiveram que ser suportados. Isso é certo, que os 20 milhões, ou 15 milhões, ou o que fosse, nunca iriam comparar-se com os encargos de quase 200 milhões de euros que o estádio acarretou para o Orçamento Municipal. Quando se fala de Orçamento Municipal, está-se a falar dos dinheiros dos contribuintes bracarenses, obviamente que também me parece que simbolicamente nunca deveríamos abdicar de uma verba que fosse relevante. Aliás, eu por brincadeira costumo dizer, o Sporting Clube de Braga se vender o Banza já tem dinheiro para pagar o estádio”, atira.
OUVIR ENTREVISTA COMPLETA A RICARDO RIO
O problema da habitação em Braga. Os investimentos e a realidade local dos dias de hoje
A cidade de Braga sofreu um enorme aumento populacional. Também nos dias de hoje acolhe muito mais nacionalidades e por diferentes razões. O aumento do preço da habitação, seja pela via do arrendamento como da compra de imóveis atirou muitas famílias para condições pouco dignas. Vários agregados familiares que partilham a mesma casa, pessoas que vivem em quartos com poucas condições e diversas famílias que recebem ajuda através de instituições de solidariedade social. Por outra via, há mais empresas e mais emprego qualificado.
Admite que "enquanto houver uma família, uma pessoa que não tem acesso a uma habitação digna, que tenha que viver em condições mais precárias, o município não fez tudo na sua esfera de responsabilidade para responder a essa necessidade".
Considera que este é um tema que deve mobilizar todos os agentes e afirma que esta "é uma grande prioridade do ponto de vista das políticas urbanas para o futuro que vai ter que mobilizar os recursos e o envolvimento de todas as instituições."
Assinala também que Braga não é a única cidade da região, do país e do mundo a enfrentar esta realidade e considera que o município tem trabalhado ao longo dos anos para mitigar os efeitos deste fenómeno.
"Se nós não tivéssemos feito aquilo que fizemos nesta área, seguramente que as consequências seriam tão mais drásticas quanto nós vemos noutras cidades. Braga ainda hoje, apesar de tudo, é substancialmente competitiva com todos os outros concelhos. Atuámos sobre duas frentes. Em primeiro lugar, do ponto de vista da oferta, acho que conseguimos, através dos processos de desburocratização e aceleração dos licenciamentos municipais, através do planeamento, seja ao nível agora da revisão do PDM, que vai expandir substancialmente a capacidade construtiva, seja no passado, por exemplo, ao nível do alargamento das áreas de reabilitação urbana. (...) Nós, quando tomámos posse, o RADA, o Regime de Apoio Direto ao Rendimento, que é prestado pela Bragahabit, rondava os 200 mil euros por ano. Nós neste momento ultrapassamos os 2 Milhões de Euros por ano de apoios diretos que damos a famílias na compartilhação das suas rendas, alargamos também para os seus empréstimos bancários. Só no combate à pobreza energética de muitos agregados familiares temos mais 500 mil euros todos os anos de apoios diretos prestados pela Bragahabit", descreve.
O social democrata menciona ainda a "dignificaçao dos bairros sociais" e a criação de regimes de estímulos fiscais ao arrendamento acessível para os proprietários e para os inquilinos.
"As pessoas têm que perceber que se olham para a mobilidade como um problema que tem que ser resolvido, têm que participar nesse esforço coletivo"
O BRT só pode ter continuidade e será preciso coragem política para mais vias dedicadas ao transporte público
A gestão da mobilidade em Braga é um dos grandes desafios. A linha vermelha do BRT será a primeira a avançar, mas o autarca sublinha que este projeto exige continuidade e que o caminho terá mesmo de passar pela mudança de mentalidade dos cidadãos no que respeita à necessidade de usar mais o transporte público. O autarca considera que a TUB é hoje uma empresa muito diferente e os transportes urbanos de Braga são melhores, mais confortáveis, mais sustentáveis e com mais oferta.
"Nós vemos noutras cidades muitas políticas de supressão de acesso ao trânsito em determinados períodos, de acesso ao trânsito em determinados locais, inclusivamente de coberança de portagens para acessos em algumas das cidades internacionais. Eu não quero chegar lá, eu acho que as pessoas têm que perceber que se olham para a mobilidade como um problema que tem que ser resolvido, têm que participar nesse esforço coletivo de reduzir o número de viaturas que circulam."
Nós temos feito um esforço substancial para criar alternativas e para qualificar a oferta. Agora, se nós olharmos para a estrutura da cidade, para criarmos linhas dedicadas para transportes públicos, como alguns defendem, só por via da supressão do transporte automóvel nesses locais. Não é possível, com base na infraestrutura que a cidade tem, suprimir essa circulação, não é possível valorizar o transporte público sem ser por via da supressão ou do condicionamento significativo do transporte rodoviário", alerta.
Na opinião do autarca da coligação Juntos por Braga, "o BRT pode ser uma alavanca muito grande na mudança de percepção" dos bracarenses. Também por isso, avisa que "o BRT nunca funcionará apenas com uma linha (...) as outras têm de complementar para fazer rede". Quanto ao financiamento terá de surgir com fundos comunitários", mas também "com o envolvimento direto do Orçamento de Estado".
Ricardo Rio antecipa que a obra no Nó de Infias traga resultados positivos para o tráfego automóvel na cidade, assim como a Variante do Cávado, na expetativa de que as duas empreitadas conheçam muito breve os respetivos desenvolvimentos.
Em atualização