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Fotografia: Adriana Monteiro / RUM
Marcelo Hermsdorf

Cultura 05.05.2025 17H29

“Camões transformou uma língua que era de comunicação numa de prestígio, de cultura”

Escrito por Marcelo Hermsdorf
O comissário das Comemorações do V Centenário do Nascimento de Camões, José Augusto Bernardes, esteve na abertura das 12 horas de atividades que decorrem em Braga para marcar a iniciativa ‘Um Dia para Camões’.
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Música criada por inteligência artificial, com dança e textos de dois sonetos de Luís Vaz de Camões. Foi assim que alunos da EB1 do Carandá exploraram de forma criativa as expressões artísticas da obra do poeta maior da língua portuguesa, numa verdadeira ‘Miscelânea de Camões, esta segunda-feira, na abertura da programação que marca 12 horas de atividades que decorrem em Braga durante a iniciativa ‘Um Dia para Camões’.


Coube a Luís Moura, de 10 anos, interpretar a personagem homenageada e brinca que “só tenho 500 anos, e não conhece nada das modernices de agora”. O jovem revela que esta é uma réplica de um espetáculo que apresentaram em fevereiro no Forum Braga. A interpretar saltimbanco, Luca Soares, de nove anos, aponta que treinou na escola com o professor e em casa os textos de Camões, para decorar para a apresentação, enquanto Letícia Mendes, de dez anos, a dama de honra da peça, diz sempre ler, especialmente poemas.


O comissário das Comemorações do V Centenário do Nascimento de Camões, José Augusto Bernardes, sublinha ser “fantástico evocar hoje um poeta que nasceu há 500 anos”. Para o responsável da programação em celebração de Camões, o autor “transformou uma língua que era de comunicação numa língua de prestígio, de cultura”.


Segundo José Augusto Bernardes, Camões é sempre atual, que também destacou o papel da Universidade do Minho nos estudos sobre o autor, com o professor Vitor Aguiar e Silva, “se não o maior, um dos maiores estudiosos de Camões” e que continuam vivo e a ser cultivadas em Braga, no seu Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos. “A poesia de Camões tem uma dimensão de encanto que excede a compreensão”, refere.


Pala UMinho, a vice-reitora para a Cultura e Território, Joana Aguiar e Silva, filha do investigador elogiado por Augusto Bernardes, acredita que a Universidade “tem um papel fundamental em não deixar que se instale um certo clima de superficialidade que muitas vezes afeta a dimensão cultural hoje em dia”. Para a professora, é fundamental valorizar a formação de novas gerações do património linguístico, identitário do património cultural e linguístico de Portugal.



"Camões não pode ser ensinado em 2025 como era em 2000"


A responsável critica o facto de ser “obrigatório o estudo da literatura”, o que leva com que os mais pequenos façam por obrigação, o que aponta “ser mau”. “Eles têm é que conseguir deleitar-se com a nossa literatura, com a nossa língua, com a preservação do nosso património cultural e linguístico”, afirma, sublinhando que é preciso “atualizar, dar novos formatos a nossa cultura, as nossas tradições, e eventualmente, vesti-las de novas roupagens que sejam mais atrativas para novos públicos”.


Algo que José Augusto Bernardes também considera ser um caminho, pois, para o comissário das Comemorações do V Centenário do Nascimento de Camões, que “não pode ser ensinado em 2025 como era em 2000, e que a escola sofreu alterações muito grande”. Aponta ainda que “está aberto um debate”.


Durante 12 horas, Braga acolhe teatro, música, poesia, artes plásticas e atividades educativas sobre a língua portuguesa. Segundo Ricardo Rio, presidente da Câmara Municipal, a celebração passa mensagem de que ler e manter vivo Camões “é algo muito importante, não apenas do ponto de vista literário, não apenas do ponto de vista cultural, mas também enquanto imagem daquilo que é a identidade e a história do nosso Portugal”.


Para o autarca, por mais que se viva “numa sociedade globalizada, o domínio da língua materna é um fator de identidade e de afirmação”, ressaltando o envolvimento e a participação das escolas nas atividades desenvolvidas ao longo do dia.

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