Empresários da restauração desiludidos com CMB

O movimento de restaurantes de Braga criado durante a pandemia – Urbac-19 – diz sentir-se defraudado pelo Município de Braga (CMB). Depois da “pompa e circunstância” no anúncio de um conjunto de medidas por parte do presidente Ricardo Rio há dois meses, os proprietários queixam-se de quase não existirem sinais práticos das mesmas.
Sobre a isenção de taxas, os que as tinham pago continuam à espera do reembolso numa altura de aperto, e a extensão das esplanadas, uma das medidas mais aplaudidas pelos empresários, afinal praticamente não tem ainda um resultado prático para os restaurantes, sobretudo do centro da cidade.
O piso irregular e o paralelo não permitem a disposição de esplanadas confortáveis para os clientes, e a colocação de estrados era a solução encontrada, mas a autarquia “demorou dois meses a responder para dizer que não autoriza”, queixa-se Tiago Carvalho, porta-voz do movimento Urbac 19, que ontem reuniu com o vereador João Rodrigues depois de solicitar uma reunião com o presidente da CMB.
Ouvido pela RUM, Tiago Carvalho refere que o município quase não licenciou novas esplanadas. “Contam-se pelos dedos de uma mão”, atira, explicando que depois de quase dois meses entre o anúncio da medida e a prática, a resposta foi negativa. “Encravou tudo na burocracia. Anunciaram que os restaurantes podiam estender a sala interior para o exterior, mas para espanto nosso, dizem que não deixam colocar esplanadas com estrado, o que não faz sentido nenhum num piso totalmente irregular e inclinado”, avisa. Os empresários não compreendem a situação e alertam ainda para as zonas de estacionamento dedicadas a trotinetes “que agora ninguém utiliza”, sugerindo que algumas podiam ser aproveitadas pelos comerciantes durante este período excepcional. “Copiamos o modelo europeu onde queremos colocar trotinetes em tudo o que é sítio, mas o outro modelo europeu onde vimos várias esplanadas, afinal não é para copiar. O presidente anunciou isto com toda a pompa e circunstância, mas em termos de resultados práticos está muito aquém”, critica.
Já quanto às taxas que a CMB isentou, os empresários que já tinham pago ainda não foram reembolsados. “Está demorado. Falou-se, mas é um bocadinho como o poder central, entre o que se fala e o que é, é um bocadinho diferente”, atesta Tiago Carvalho.
“Estamos descontentes porque alguém que se mostrou estar disponível já está um bocadinho a chutar a água do capote”
Os empresários queixam-se do tempo de resposta, do excesso de burocracia, mas também da fiscalização “apertada” do estacionamento que “prejudica os clientes”. A PSP também é visada nas acusações por não saber interpretar devidamente a lei e encerrar estabelecimentos às 23h00 e permitir esplanadas ilegais.
O regresso da cobrança do estacionamento à superfície é criticada pela Urbac-19, ainda que admita que o município também precisa de obter receita. “Há poucos locais públicos de estacionamento não pago, o resto é tudo a pagar. Existe estacionamento abusivo, mas às vezes é numa rua que não interfere muito e temos logo a Polícia Municipal a passar autos aos clientes”, relata.
Os empresários recordam o exemplo de Viana do Castelo, que protocolou 2500 lugares de estacionamento com privados para os consumidores que se deslocam ao centro da cidade. “Queremos que as pessoas vão ao centro, que o comércio funcione e que não exista desemprego, mas neste momento é só falado”, atira.
Alguns restaurantes vão retomando a sua normalidade, mas a procura é do cliente que já estava fidelizado.
No centro da cidade, em termos gerais, os restaurantes estavam muito dependentes do turismo e a situação é “caótica. Há uma série de situações que fazem com que a retoma seja de 40% ou 50% no máximo”, disse, lembrando até as empresas qie estão em teletrabalho e outras a trabalhar a meio gás, cujos clientes praticamente desapareceram.
A partir de Outubro, com a época baixa e a situação pandémica, o futuro é muito preocupante no sector. A expectativa dos empresários era “criar um pé de meia para o final do ano e ir atrás do que foi perdido em três meses de confinamento”, mas há pouca confiança.
“Não se admirem quando os despedimentos começarem a acontecer porque a situação vai ser catastrófica. Estamos a avisar e outras entidades deviam fazer o mesmo”, explicou, referindo-se à ACB e à CMB. “A ACB deveria fazer muito mais do que tem feito, a autarquia devia chamar-nos e ver até que ponto se pode minimizar o impacto. Vêem pessoas dentro dos restaurantes e pensam que as coisas já estão a funcionar, mas estão muito aquém”, sublinha Tiago Carvalho.
Os empresários da restauração admitem ainda que a falta de eventos de rua na cidade de Braga também vai prejudicar o comércio, sugerindo à autarquia que avalie melhor o que pretende fazer para o futuro.
