Enfermeiros em greve. Especialistas dizem ser prejudicados em 250 euros por mês

A adesão à greve dos enfermeiros no Hospital de Braga ronda os 95%, mas há serviços onde é total. Os números foram avançados à RUM, pela dirigente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, Denise Salsa.
A paralisação de 12 horas está já a afetar alguns serviços do hospital, nomeadamente a cirurgia e a consulta externa.
“Nos vários serviços onde temos passado, há muitos serviços com 100% de adesão e seguramente a nível global espera-se uma greve com uma adesão de cerca de 90% a 95%. No bloco operatório estamos acima dos 95% de adesão à greve, em muitas consultas externas também com 100% de adesão”, adiantou a sindicalista.
Denise Salsa lembra que “muitos dos problemas identificados já têm alguns anos” e continuam sem solução, porque “a administração diz não tem autonomia para resolver alguns destes problemas, mas muitas administrações de outras ULS já resolveram alguns destes problemas”, como é o caso da “harmonização dos dias de férias entre contratos em funções públicas e contratos sem termo”. Além disso, “a aplicação da legislação que diz respeito aos horários de trabalho dos colegas de Oncologia e da Psiquiatria, dado o seu risco de penosidade acrescido e que estão tipificados por lei”.
“O hospital cumpre para os contratos em funções públicas, mas não cumpre para os restantes enfermeiros. Temos aqui problemas já identificados desde 2022, quando foi publicado o decreto-lei 80B, que previa a contabilização de pontos para efeitos de progressão e temos a situação dos colegas que iniciaram funções com contratos precários, fossem eles de substituição, de 3 meses, de 6 meses, que depois quando vinculam, muitos deles 4 ou 5 anos após o primeiro contrato, vêm todo o seu tempo anterior não ser contabilizado para efeitos de progressão na carreira”, acrescentou.
O SEP aponta também “a questão dos colegas que gastaram 10 pontos para progredir apenas 7 euros, à revelia daquilo que a legislação institui, que são saltos remuneratórios nunca inferiores a 28 euros”. “Temos muitas instituições no país que atribuíram pontos a quem começou a trabalhar depois de julho. Este hospital diz que não tem orientações nesse sentido e, portanto, quem iniciou funções a partir dessa altura não teve direito a contabilização de pontos nesse ano”, denunciou ainda Denise Salsa.
Além destas reivindicações, a classe aponta “à vinculação dos contratos precários e a contratação de mais enfermeiros para permitir um melhor rácio e uma melhor qualidade na prestação dos serviços”. Sem respostas da administração, o SEP prevê continuar a luta, nomeadamente com mais dias de greve.
Enfermeiros especialistas dizem receber menos “250 a 300 euros” por mês por não verem a carreira reconhecida
Hélder Teixeira é enfermeiros especialista no Hospital de Braga há quase dez anos e aderiu à greve desta terça-feira por considerar que “o SNS usufrui dos enfermeiros especialistas de uma forma muito ingrata”. “A maior parte dos enfermeiros que trabalham neste Hospital e que são enfermeiros especialistas não recebem como tal. O ano passado houve um concurso de especialistas em que entrou muito pouca gente para o quadro do hospital, não se percebeu sequer o tipo de cálculos que foi feito”, começou por dizer.
Segundo Hélder Teixeira, a ULS Braga pediu “aos enfermeiros especialistas de cada serviço que fizessem projetos”, sendo que a realização desses projetos foi feita em horário pós-laboral. “Estamos neste momento a trabalhar quatro enfermeiros especialistas no Serviço de Cirurgia Geral do Hospital de Braga e nenhum deles é de quadro especialista, ou seja, nenhum de nós está na carreira, nenhum de nós é pago como especialista e isto significa que nós recebemos ainda menos que os colegas que são generalistas”, especificou o enfermeiro.
Hélder Teixeira diz estar a perder “cerca de 250 a 300 euros” mensais, por não ser reconhecido como enfermeiro especialista.
Os enfermeiros do Hospital de Braga estão em greve esta terça-feira. A adesão ronda os 95% e há já serviços afetados, com cirurgias e consultas a serem adiadas.
c/ Maria Carvalho
