Academia 04.03.2022 10H18
Ensino híbrido é o presente, mas 36% dos docentes não tem formação sobre tecnologia
Marco Bento, investigador em Tecnologia Educativa no Centro de Investigação em Educação da Universidade do Minho (CIEd), foi o convidado desta quinta-feira do UMinho I&D.
36% dos professores não têm formação sobre tecnologia na sala de aula, 31% não utiliza tecnologia pois nem sempre esta está funcional e 15% considera difícil ou desnecessária. Estes são alguns dos resultados do estudo sobre o Estado da Tecnologia na Educação desenvolvido entre 18 de dezembro de 2020 e 18 de abril de 2021 e que contou com mais de 2.580 respostas de professores, diretores e outros representantes educativos.
Este foi um trabalho que resultou da colaboração entre Marco Bento, convidado desta quinta-feira do UMinho I&D e investigador em Tecnologia Educativa no Centro de Investigação em Educação da Universidade do Minho (CIEd), com José Alberto Lencastre.
Em declarações à RUM, o académico defende que as formações aos docentes devem ser direcionadas para dar uma vertente pedagógica à tecnologia, como telemóveis ou tablets, e não focados na utilização pura e dura das tecnologias.
Marco Bento fala numa "diabolização da tecnologia" durante a pandemia da parte de alguns docentes, como razão para esta posição Marco Bento aponta o facto de muitos professores terem sido "forçados" a usar novas tecnologias no ensino de emergência utilizado durante o confinamento, logo como não existiu preparação "naturalmente criaram anticorpos". No entanto, Marco Bento considera que o presente e futuro da educação é híbrido, ou seja, uma mistura entre o presencial e o digital.
Ao longo dos últimos seis anos, o investigador tem vindo a trabalhar no projeto Supertabi que está a ser implementado em 42 escolas da Maia e, por Braga, na Alfacoop. A ideia passa precisamente por transformar as práticas pedagógicas dos professores de alunos entre os 6 e os 10 anos através do uso de modelos pedagógicos mediados por tecnologias móveis. Desta forma, é dada autonomia ao aluno para decidir se pretende fazer pesquisa num tablet e/ou na biblioteca, assim como tornar a aprendizagem mais didática e divertida por exemplo em aulas de história.
Quando questionado sobre se existiram melhorias nas classificações finais destes alunos, Marco Bento não exita e responde positivamente, mais concretamente, nas disciplinas de português, história e inglês. "Não comparamos turmas umas com as outras, mas sim, a evolução dos alunos", refere. Além disso, o investigador frisa o desenvolvimento de outras competências, a título de exemplo, "interpretação de notícias, pensamento crítico e veracidade das informações consumidas". Também justo dos alunos com necessidades educativas especiais foram registadas melhorias, nomeadamente, uma maior facilidade na aprendizagem.
De acordo com o investigador, a utilização de multimédia ajuda a trabalhar a memória a longo prazo das crianças para além de incentivar à sua autonomia de pesquisa. Este fator contribui para que os docentes tenham mais tempo para alunos com maiores dificuldades.
Marco Bento deixa críticas ao modelo adotado no ensino superior que está atrasado em relação, neste caso, ao ensino primário. "Será preciso ensinar ao aluno algo que ele consegue aprender por si. Eu posso gravar uma palestra e disponibilizar a mesma previamente e utilizar o tempo de sala de aula para esclarecer dúvidas ou fazer algo mais prático", sublinha.
Para o investigador o ensino superior deveria estar a liderar este processo, o que não está a acontecer. "O ensino superior tem de se preparar para um outro género de processo mais ativo", conclui.