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Elsa Moura

Academia 12.03.2020 11H55

"Estamos a assistir às primeiras pingas de uma tempestade que ainda não chegou a Portugal"

Escrito por Elsa Moura
Os alertas e conselhos de um docente de Medicina da Universidade do Minho, psicólogo e investigador na área da saúde das populações.
A análise do investigador e especialista da UMinho, Pedro M. Teixeira

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"Estamos a assistir às primeiras pingas de uma tempestade que ainda não chegou a Portugal". O aviso é do investigador da UMinho na área da saúde das populações, Pedro M. Teixeira. O docente e especialista recusa alarmismos e histeria, mas diz que é preciso um esforço consciente e colectivo para mudar hábitos, assinalando que o vírus já cá está e que os portugueses não devem confundir a estatística com a realidade.


Ouvir as conversas de rua ou fazer scroll no Facebook pode ser uma experiência complexa para qualquer um de nós. As redes sociais são inundadas com as mais variadas teorias. Da tranquilidade de quem nada muda nas suas rotinas diárias, à imensidão de imagens que mostram prateleiras de supermercados vazias como se o Mundo fosse acabar. Há mesmo de tudo. 


Segundo o psicólogo e investigador na área das populações ouvido pela RUM, nesta fase podemos falar em três tipos de reacções.

Por um lado, começa por explicar, temos "as pessoas que vão mantendo algum tipo de alerta, vão acompanhando e reagindo de acordo com aquilo com as autoridades de saúde vão solicitando".


Depois, avisa, "temos dois extremos: Um que tende a estar hipervigilante, que poderá gerar grande ansiedade e ser algo disruptivo para o bem-estar das pessoas que estão à sua volta. E ainda, os que "tenderão a ficar completamente imobilizados e até a desvalorizar em absoluto toda esta situação".


Sobre o medo, lembra que "há alturas em que o medo tem contornos irracionais, o que pode ser pouco saudável e desejável". Ainda assim, sublinha o investigador, numa situação destas "sentir medo é uma coisa normal e a questão é como vamos lidar com esse medo, como vamos gerir a informação que nos vai chegando, e como é que vamos agir em conformidade com aquilo que nos pedem para fazer", esclarece.


TEMOS DE FAZER UM ESFORÇO CONSCIENTE. SABEMOS QUE O VÍRUS JÁ CÁ ESTÁ, MAS É IMPORTANTE NÃO CONFUNDIR A ESTATÍSTICA COM A REALIDADE

O investigador insiste que é preciso mudar hábitos, embora "seja muito difícil", a começar por aqueles que passam a mensagem. "Temos assistido a situações em que nos dão mensagens de distanciamento social, não dar beijinhos nem fazer cumprimento com a mão e, no momento imediatamente a seguir, as pessoas que estão a dar a mensagem fazem exactamente o oposto do que nos estão a pedir para fazer. Temos efectivamente de estar muito atentos àquilo que temos de mudar e ajudar-nos uns aos outros. A mudança comportamental desempenha um papel muito importante", aponta.


A CHAMADA DE ATENÇÃO AOS MAIS JOVENS

Há casos de infecção de covid-19 "muito ligeiros, como se fosse uma gripe normal", reconhece o docente, que faz questão de alertar também que outros casos "agravam", estimando-se que desses casos infectados, 10% a 15% requerem cuidados intensivos e muito delicados em que as pessoas poderão não sobreviver". 

Apesar de ser particularmente grave na população mais idosa, "os mais jovens não podem desvalorizar a gravidade desta situação", diz o investigador. Em Itália, "há relatos de pessoas jovens hospitalizadas, aparentemente saudáveis, que estão com casos bastante graves em cuidados intensivos". Por isso, "temos de estar alerta e conscientes", reafirma.


A POPULAÇÃO MAIS IDOSA DEVE, MAIS DO QUE QUALQUER OUTRA, FICAR EFECTIVAMENTE EM CASA

A população mais idosa deve redobrar os cuidados e evitar saídas à rua. Pedro M. Teixeira assume que as pessoas idosas, reformadas e com mais tempo, muitas vezes são as que mais saem à rua, que mais vão aos supermercados e que muitas vezes dependem apenas de si para terem as suas compras em casa. Um cenário que exige uma nova mensagem do investigador e seguir o exemplo do que começa a acontecer em Itália, onde "vários jovens estão a disponibilizar-se, para na sua vizinhança, a identificar estas pessoas que estão mais sozinhas e fazer isso por elas", exemplifica.


"Os mais jovens devem cuidar daqueles que sempre cuidaram de si, ajudando os mais velhos a perceber que nesta fase é importante que se preservem. Isto passará. Será uma coisa transitória. Acredito que a tempestade vai passar, importante é ter consciência que a verdadeira tempestade está para chegar, ela ainda não chegou a Portugal, nós estamos a assistir às primeiras pingas de uma tempestade que está para chegar", sublinhou.


A OMS DECLARA O NOVO CORONAVÍRUS UMA PANDEMIA. O QUE SIGNIFICA ISSO?

Aos microfones da Universitária, o especialista explicou que "em termos de dimensão o problema passa a ser global. Ainda que não seja a primeira declaração de pandemia, este é um vírus novo com um conjunto de incógnitas. 


"Ninguém conseguirá prever com exactidão como é que a situação irá evoluir. Sabemos que é um vírus novo para o qual ninguém tem imunidade. Quando se fala de um cenário em que 70% ou 80% da população possa vir a estar infectada, este cenário é bastante plausível. Já ninguém põe em causa que estamos numa situação que tem alguma gravidade", atesta.



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