ºC, Braga
Braga

Max º Min º

Guimarães

Max º Min º

Elsa Moura

Academia 24.11.2023 17H52

Estudo da UMinho revela que quase metade das vítimas de violência doméstica já sofreu violência sexual

Escrito por Elsa Moura
O estudo coordenado pela investigadora Mariana Gonçalves, do Centro de Investigação em Psicologia da Universidade do Minho foi apresentado esta sexta-feira no Mosteiro de Tibães, em Braga.
Declarações de Mariana Gonçalves, coordenadora do estudo

false / 0:00

Um estudo desenvolvido pelo Centro de Investigação em Psicologia da Universidade do Minho sobre a realidade nacional da violência contra as mulheres e violência doméstica revela que a maioria das vítimas já sofreu mais de um tipo de violência ao longo da vida, sendo a violência sexual uma das mais prevalentes.  Durante a manhã desta sexta-feira, no Mosteiro de Tibães, em Braga, e perante uma plateia de profissionais e agentes que diariamente trabalham com vítimas de violência doméstica, a investigadora Mariana Gonçalves detalhou os resultados do trabalho denominado “Exploring intersectionality of violence against women and domestic violence: needs, impact and services effectiveness”, realizado ao longo dos últimos dois anos e que foi financiado pela fundação 'la Caixa'.


A amostra envolveu 715 vítimas de todo o território nacional e mais de 500 profissionais que acompanham casos de vítimas de violência doméstica. A média de idades das vítimas envolvidas na investigação é de 35 anos. Os valores da violência sexual acabam por representar, na ótica da investigadora, o resultado "mais chocante" já que 45% das vítimas de violência doméstica "relataram alguma forma de abuso sexual".


Mariana Gonçalves fala num "padrão" destas vítimas com "diferentes formas de violência experienciadas pela mesma pessoa e que acaba por acontecer nas várias áreas de vida" e ao longo do tempo. Os casos são relatados nas relações íntimas, no âmbito familiar, nos contextos de trabalho, do grupo de amigos e até por pessoas desconhecidas.


Apesar de em menor número e com menor visibilidade, homens têm padrões de vitimação tão graves como as mulheres


Porto e Braga são os distritos mais representados com casos de violência doméstica nesta recolha de dados. A investigadora acrescenta que apesar de uma menor visibilidade, os homens vítimas de violência doméstica têm padrões de vitimação tão graves como as mulheres. 73% das mulheres e 47% dos homens institucionalizados foram vítimas de violência sexual, de acordo com os resultados deste trabalho. 

"As dinâmicas de violência em homens e mulheres não são assim tão diferentes. Depois de estar instalada a vitimação, a resposta e as dinâmicas de violência são muito semelhantes entre homens e mulheres. Homens têm padrões de vitimação tão graves como as mulheres. Não há visibilidade e claramente há um número maior de mulheres a relatarem estes percursos, mas com os homens também a relatar de uma forma muito clara", analisou.


Estudo também revela necessidade de formação complementar por parte dos profissionais


A investigação de dois anos envolveu ainda mais de 500 profissionais que trabalham diariamente com vítimas de violência doméstica com o objetivo de repensar alguns métodos de trabalho e de ferramentas. Segundo Mariana Gonçalves, "as conclusões apontam para uma maior formação dos profissionais no âmbito de competências culturais e de práticas informadas pelo trauma", de maneira a "responder às necessidades das pessoas". 

A maioria das vítimas "avalia bem os serviços", mas há alguns relatos de violência, ainda que não física, dentro destas estruturas criadas para servir de apoio a vítimas de violência doméstica. Sobre este ponto, a investigadora refere algumas lacunas, nomeadamente resultado da ausência de formação para lidar com determinadas realidades, incluindo diversidade de culturas.


Investigação levanta realidade das populações LGBTQI


A investigadora realça outras particularidades deste projeto de investigação que "acrescenta conhecimento de dinâmicas de violência de grupos que não são habitualmente estudados", nomeadamente as populações LGBTQI e grupos minoritários. No caso dos LGBTQI, o padrão de violência "é muito específico e muito cumulativo" uma vez que acrescem a estas formas de violência "micro-agressões relacionadas com as questões da sua orientação sexual ou da sua identidade de género". Aqui, a violência familiar "é ainda mais prevalente".


O estudo foi apresentado na véspera do Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres, que se assinala este sábado. Em Braga está prevista uma manifestação, organizada pela rede 8M, com início às 15h30 junto ao coreto da Avenida Central.

Deixa-nos uma mensagem