Greve em Braga.”Não fazemos gosto em privar-nos do nosso vencimento”

Centenas de alunos do concelho de Braga estão hoje sem aulas devido à adesão massiva à greve de docentes e não docentes. Ao início da manhã desta terça-feira, centenas de crianças não chegaram sequer a entrar nas salas de aula.
Tratando-se de uma greve por tempo indeterminado, é expectável que a situação se repita nos próximos dias. Os docentes estão “exaustos” e exigem respostas do governo. “Nós não fazemos gosto em estar aqui parados, em privar os alunos das aulas e em privar-nos do nosso vencimento. Isto é uma medida mais extrema porque já temos vindo a reivindicar o reatar das negociações, mas isso não tem vindo a acontecer”, explicou, aos microfones da RUM, Ana Rita Pereira, docente dos quadros no Agrupamento de Maximinos. A professora contesta as acusações do próprio ministro dirigidas à classe e acredita que esta iniciativa pode “fazer a diferença” em benefício dos trabalhadores que reclamam a contagem de tempo de serviço, e melhores condições de trabalho. “Temos bastantes horas letivas e o nosso trabalho não letivo é também com alunos, ou seja, é letivo na mesma. O trabalho que nos pedem de foro muito burocrático rouba-nos bastante tempo para o que nos devia preocupar mesmo, que é a educação dos nossos jovens e das nossas crianças”, acrescenta.
Uma profissão “pouco dignificada atualmente”, alertam estes docentes que encontram cada vez mais dificuldades na preparação das suas aulas.
Carina Silva, professora há mais de dez anos, está na situação de contratada. Diz que este grupo de profissionais “tem um longo caminho a percorrer, sempre condições precárias, aguarda sempre uma substituição que pode ser apenas de um ou dois meses”. “É uma insegurança e uma instabilidade ao longo de muitos anos. Acredito que esta ação pode fazer a diferença porque estamos todos unidos a lutar pelos mesmos direitos”, explica.
Trabalhadores não docentes também estão em greve
A união do pessoal não docente na Frei Caetano Brandão e na Secundária de Maximinos “pode fazer a diferença”, querem acreditar estes profissionais, que apelam ainda à compreensão dos encarregados de educação.
José Manuel, funcionário deste agrupamento, apela à união dos profissionais. Apesar da adesão à greve resultar na penalização do salário ao final do mês, admite que é a única alternativa para chamar à atenção dos governantes. “Continuamos a não ser valorizados. Temos docentes e não docentes juntos na luta e estamos disponíveis para repetir a greve porque só unidos podemos conseguir alguma coisa”, argumenta.
Recorde-se que esta é uma greve por tempo indeterminado convocada pelo Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (STOP), que já entregou pré-avisos de greve para todo o mês de janeiro. No sábado, realiza uma marcha nacional em Lisboa, entre o Marquês de Pombal e o Terreiro do Paço.
O Sindicato Independente de Professores e Educadores (SIPE) também iniciou na semana passada uma greve parcial ao primeiro tempo de aulas, que se vai prolongar até fevereiro.
Incerteza para encarregados de educação leva CONFAP a exigir justificação de faltas ao trabalho
A confederação das associações de pais vai pedir ao Ministério da Educação que justifique as faltas ao trabalho nos dias em que as escolas fecham por protestos dos professores.
A alternativa é que sejam criadas condições para que, mesmo sem aulas, os alunos fiquem nas escolas.
Em declarações à Antena 1, a presidente da CONFAP, Mariana Carvalho, revela que há encarregados em risco de despedimento por justa causa por não conseguirem justificar as faltas dadas, quando são obrigados a ficar com os filhos nestas circunstâncias.
Os pais não escondem também a preocupação com as perturbações no funcionamento das escolas afetam a aprendizagem e o rendimento escolar dos alunos.
Mariana Carvalho lembra que este ano letivo é particularmente importante para os estudantes já que deveria representar o regresso à normalidade das escolas depois dos problemas causados pela pandemia.
Nas últimas semanas têm-se multiplicado as ações de luta dos professores. Para tentar pôr um travão ao descontentamento, o Ministério da Educação convocou os sindicatos para nova ronda negocial.
Mas os professores não desmobilizam. Montam logo à tarde acampamento à porta do Ministério até sexta-feira.
Recorde-se que o Ministério da Educação convocou ontem os sindicatos do setor para uma nova reunião negocial sobre a revisão do regime de recrutamento e mobilidade para os dias 18 e 20 de janeiro.
É a terceira ronda de um processo negocial que se iniciou em setembro, e cuja última reunião foi em 08 de novembro, sendo que o ministro da Educação já tinha remetido para o mês de janeiro novo encontro, justificando que, até lá, o Governo iria fazer o levantamento das necessidades do sistema educativo para desenhar propostas concretas.
Apesar de não terem criticado, na altura, o adiamento, várias estruturas sindicais têm pressionado a tutela para agendar a terceira reunião, acusando o Ministério da Educação de ter suspendido a negociação.
Em comunicado, o Ministério refere que será também “analisada uma proposta de calendário negocial sobre outras matérias”.
A abertura de outros processos negociais é uma das reivindicações das oito estruturas sindicais, incluindo a Federação Nacional dos Professores (Fenprof), que organizaram um acampamento de quatro dias, a partir de terça-feira, à frente do Ministério da Educação, em Lisboa.
Contactado pela Lusa após o anúncio das novas reuniões negociais, o secretário-geral da Fenprof explicou que as ações de luta vão, para já, manter-se como previstas, porque “a convocação de uma reunião, por si só, não altera nada”.
Os sindicatos definiram o dia 10 de janeiro, terça-feira, como o prazo para a tutela recuar em algumas das propostas que apresentou no âmbito da negociação da revisão do modelo de recrutamento e mobilidade, e iniciar novos processos negociais sobre outros temas.
Além desse acampamento, convocaram também uma greve por distritos, entre os dias 16 de janeiro e 08 de fevereiro e uma manifestação em Lisboa no dia 11 de fevereiro.
