Academia 09.05.2025 18H13
Há professores a entrar nos quadros das escolas de Braga aos 50 anos. Um cenário "absolutamente dramático"
Licínio Lima, referência no estudo das políticas educativas, é o convidado do UMinho I&D desta semana. A carreira docente, o presente e o futuro da educação, assim como a Bienal da Educação (que será de 16 a 20 de junho) foram alguns dos temas em destaque do programa.
Há docentes com "30 anos às costas" de carreira que só conseguem uma vaga de quadro de uma escola em Braga aos 50 anos.
"Tivemos uma abertura de quadros nos últimos anos e entraram jovens professores aqui na cidade de Braga, jovens com 50 anos. Isto é absolutamente dramático.” A afirmação, carregada de inquietação, é de Licínio Lima, professor catedrático emérito do Instituto de Educação da Universidade do Minho, em entrevista ao programa UMinho I&D.
"São professores que chegam às escolas de Braga com uma carreira de 25 ou 30 anos", detalha, lembrando que são pessoas que muitas vezes percorrem "o país sem condições, largando a família".
Segundo o especialista em políticas educativas, a atual crise de professores em Portugal resulta de um “problema de planeamento”. “O Ministério da Educação há muitos anos não tem um setor de planeamento forte como já teve.” E recorda que a entrada massiva de docentes nas décadas de 1970 e 1980 anunciava, com antecedência, uma saída em bloco que não foi acautelada. “Esse movimento, evidentemente, leva hoje a considerar que esses jovens professores que entraram estão todos de saída, e isto, algum planeamento que não era muito sofisticado, permitiria concluir isto”.
O especialista alerta ainda para a forma como o discurso político contribuiu para desvalorizar a profissão ao longo das últimas décadas. “Houve um certo discurso ideológico relativamente a esta matéria, com ciclos governativos muito diferentes" e especifica que houve "momentos históricos em que não se contratou professores, passou-se a ideia de que havia professores a mais, a formação de professores abrandou. Agora, de qualquer forma, nós hoje estamos na situação de precisarmos de professores e não os termos".
"A situação vai complicar ainda muito mais, vai piorar mais antes de melhorar", vaticina.
"Nada substitui um professor”
Num momento em que se discute o papel da inteligência artificial e da digitalização na escola, Licínio Lima recusa a ideia de que a tecnologia resolva os dilemas fundamentais da educação.
“Nada substitui um professor, uma professora e esse diálogo, porque a educação é um fenómeno de socialização, é um fenómeno de diálogo, de partilha”, sublinha, recordando que "a educação é o maior contributo para a humanização dos seres humanos.”
A par do pensamento crítico e da formação cívica, defende uma “educação permanente” que vá além da lógica da empregabilidade e da simples adaptação ao mercado.
“Se os seres humanos forem estes seres críticos, capazes de intervir no mundo, de conhecer criticamente o mundo, de dialogar com os outros e de agir com os outros para a mudança do mundo, porque razão haveríamos nós de ser adeptos de uma educação como mera adaptação ao mundo que está?”, questiona.
A Bienal como um espaço de diálogo e construção coletiva
A Bienal da Educação quer abrir espaço ao diálogo entre investigadores, professores, municípios, sindicatos, estudantes e sociedade civil. O evento, que decorre de 16 a 20 de junho, contará com conferências, mesas redondas, apresentações de projetos e iniciativas culturais.
“Não é um congresso onde especialistas se vão encontrar a discutir sempre as mesmas coisas uns com os outros, não, é uma coisa realmente diferente desta”, afirma Licínio Lima.
O evento organiza-se em torno de quatro eixos temáticos: Educação, Saúde e Sustentabilidade; Pedagogia e Currículo; Avaliações em Educação; e Comunidades Educativas. No final, será apresentada uma síntese que servirá de base para recomendações.
A entrevista a Licínio Lima ao UMinho I&D pode ser ouvida em podcast.