Regional 11.05.2021 11H51
Jovens mulheres refugiadas em Braga contam as suas histórias na RUM
Testemunhos, quase todos em árabe, foram gravados nos estúdios da RUM. O livro, "Travessia", será lançado a 26 de maio no gnration. Episódios semanais podem ser escutados em podcast.
Desde 2015, a instabilidade vivida no Médio Oriente produziu um dos maiores movimentos migratórios registados em direção à Europa e o maior movimento de pessoas em busca de proteção internacional desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Braga é uma das cidades portugueses que abre as portas aos refugiados há vários anos. Nos últimos seis meses, através da Associação Adolescere chegaram a Braga, no último meio ano, perto de uma dezena de jovens mulheres refugiadas.
O acompanhamento diário é feito por uma equipa da Adolescere e os primeiros passos na integração destas mulheres já são visíveis, como adiantou, na emissão da RUM dedicada ao Dia da Europa, Carla Fernandes.
A responsável afirma que “todas as famílias têm-se integrado muito bem e todas as crianças estão já a frequentar as escolas”. O IEFP é outra das entidades que apoia estas jovens mulheres. Foi constituída uma turma para aprendizagem da língua portuguesa. Um acompanhamento que acontece também na área da saúde, através do ACES de Braga. Carla Fernandes realça o “conjunto de esforços para que estas famílias se sintam hoje muito mais felizes e muito mais seguras”.
À Adolescere juntou-se, entretanto, a Ambigular, uma plataforma de storytelling que conta histórias do ponto de vista de quem as vive. “Travessia” conta precisamente a história de seis mulheres refugiadas em Braga. Histórias gravadas nos estúdios da RUM, que se traduzem agora em livro e em podcast.
Maria Brito, da Ambigular, afirma que as jovens refugiadas confessaram que “ao relembrarem-se dessas histórias conseguiram enfrentar alguns medos”.
“Algumas dessas histórias estavam bem enterradas e ao desenterrar essas histórias, ao mesmo tempo também proporciona a oportunidade de se lidar com elas, mas claro que não as resolve, claro que ainda existe trabalho a fazer”, explica.
O livro ‘Travessia’ vai ser lançado a 26 de maio, no gnration. Contou com o apoio da Fundação Bracara Augusta e do Alto Comissariado para as Migrações.
"Incendiaram as nossas casas. O meu irmão desapareceu, e ainda hoje, não sei o que aconteceu" - Saidia
O primeiro podcast, de Saidia, foi para o ar na RUM este domingo. Natural do Darfur, Saidia diz que “tinha uma vida estável, vivia feliz, ia à escola, tinha uma vida normal e tudo corria bem até que começou o conflito no Darfur”. “Em 2003, um grupo armado invadiu a minha aldeia, incendiaram as nossas casas, as nossas roupas, levaram os nossos pertences, o nosso dinheiro, deitaram fora a nossa comida e antes de se irem embora queimaram tudo o que não podiam levar com eles. O meu irmão desapereceu durante o ataque, e ainda hoje, não sei o que aconteceu”, conta.
"Perdi a audição do ouvido direito num dos bombardeamentos. O meu desejo agora é ter uma vida melhor, aqui, em Portugal, e que os meus filhos tenham futuro" - Wase
Wase, outra jovem refugiada a viver em Braga depois de ter sido obrigada a abandonar o Iraque também deixa o seu testemunho emotivo. Vivia em Bagdad, uma cidade que já foi “cheia de beleza e com vestígios de uma civilização”. Conta que sofreu muito no Iraque, onde perdeu a audição do ouvido direito durante um dos bombardeamentos. Não tem vontade de regressar. “Não quero viver num país onde os meus direitos não são protegidos e onde os meus filhos não estão em segurança. O meu desejo agora é ter uma vida melhor, aqui, em Portugal, e que os meus filhos tenham um futuro”, desabafa.
Restantes episódios serão lançados semanalmente nos sites da Ambigular e da Adolescere.