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Município de Braga plantou dezenas de árvores, apelidou a zona como novo pulmão verde da cidade e depois cedeu terreno para privado construir ginásio com piscina. (FOTO: ELSA MOURA/RUM)
Elsa Moura

Regional 08.08.2023 14H24

Moradores "enganados" pela CMB exigem pulmão verde prometido

Escrito por Elsa Moura
A zona verde que os moradores da Rua Luís Soares Barbosa usavam para lazer está vedada, antecipando a construção de um pavilhão privado do grupo Supera. Moradores não se conformam, mas presidente da CMB diz que decisão está tomada.
Declarações de Margarida Viana, José Carvalho, Ricardo Silva e Ricardo Rio

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Os moradores da Rua Luís Soares Barbosa, na freguesia de S. Victor, em Braga, dizem ter sido “enganados” pela Câmara Municipal e não se conformam com a já autorizada construção de um equipamento desportivo privado, de grandes dimensões, que vai eliminar a única zona verde fruível naquele quarteirão. 


O terreno, propriedade do Município de Braga, foi concessionado por mais de duas décadas ao grupo privado Supera, que na Península Ibérica conta com vários ginásios de topo.


Margarida Viana é uma das vozes contestatárias que luta para travar a construção ao lado da Avenida Padre Júlio Fragata. Há 28 anos que reside num dos prédios localizados mesmo em frente a este terreno. Aos microfones da RUM lembra que desde sempre se falou que seria "um espaço verde". 

"Claro que nos sentimos enganados e frurstrados. Com o passar do tempo, os moradores foram solicitando a plantação de árvores assim como a instalação de um parque infantil e máquinas de fitness. Em 2015, o vereador do Ambiente, Altino Bessa veio cá plantar árvores e disse que este era o novo pulmão da cidade de Braga e agora vão destruí-lo. Não merecemos espaços verdes em Braga", vincou.


De facto, no ano de 2015, Altino Bessa deslocou-se a este mesmo terreno para proceder à plantação de árvores de diferentes espécies autóctones. Uma ação "para a fotografia", já que os títulos que saíram na imprensa local no dia seguinte, com o próprio a anunciar o novo "pulmão verde de Braga", não passaram disso mesmo. Poucos anos depois, em 2019, o Município de Braga dava início a um processo tendo em vista a disponibilização do mesmo terreno para a construção de mais um pavilhão para fins desportivos e de caráter privado.


Moradores usam espaço para passear, ler e conviver

Os moradores utilizam o espaço, ainda que não abarque qualquer equipamento urbano atrativo nem esteja devidamente limitado com proteções, já que fica localizado junto a uma das avenidas mais movimentadas da cidade. Os moradores passeiam-se por ali com os seus filhos e com os seus animais de estimação. Um espaço verde que na pandemia acolheu também muitas festas de aniversário.


E toda a história começa ainda antes da pandemia, com uma publicação do próprio presidente do município nas suas redes sociais. "O futuro Complexo Desportivo Municipal Supera pode ser assim. (Um projecto de investimento totalmente privado, a quem caberá a exploração do mesmo durante 40 anos, antes de o equipamento reverter para a Autarquia. E, pelo qual, a Câmara vai receber no imediato, além de outros benefícios, um milhão e cinquenta mil Euros.)", lê-se numa publicação de Ricardo Rio datada de fevereiro de 2019, acompanhada de uma imagem do projeto onde se pode visualizar um equipamento de grandes dimensões e duas piscinas exteriores.


"Não vale tudo!" "Queremos espaços verdes"


Pouco depois é submetida uma proposta da coligação de direita a reunião de executivo municipal e começam a ser levantadas várias questões, nomeadamente dos partidos da oposição. A ideia foi contestada por eleitos em sede de assembleia de freguesia de S. Victor, em sede de reunião de executivo municipal e de assembleia, mas sem sucesso. Entretanto, a covid-19 atrasou o processo e seguiram-se outras etapas, nomeadamente de licenciamento. 

Agora, tudo está encaminhado para que a obra arranque, mas os moradores contestam tal decisão e têm-se manifestado contra este processo, seja com o lançamento de uma petição online como com a colocação de tarjas no terreno, para que quem passe fique sensibilizado. "Queremos espaços verdes"; "Não vale tudo", são duas das frases que ainda se podem ler no local, já que outras tarjas acabaram por desaparecer nas últimas semanas.


José Carvalho, ativista ambiental, acrescenta que o município de Braga está a fazer o contrário do que refere a Estratégia Municipal de Adaptação às Alterações Climáticas e os moradores avisam que a instalação deste novo equipamento significará mais trânsito e mais dificuldades de acesso.


De acordo com os últimos censos, na zona entre o Retail Center e o Braga Parque estão aproximadamente 4.900 pessoas registadas, mas os números devem ser sunstancialmente superiores, até porque são vários os relatos de apartamentos sobrelotados.


Presidente da Junta de Freguesia de S. Victor pede ao presidente da CMB "sinal de urbanidade do séc. XXI"


Ricardo Silva, presidente da Junta de Freguesia de S. Victor, é um dos defensores da continuidade deste espaço verde. Lembra que ali os índices de poluição sonora e de poluição de monóxido de carbono "são elevadíssimos", sublinhando a importância de "dar um sinal de que [a CMB] quer cumprir os objetivos de desenvolvimento sustentável que tanto apregoa". "E, depois, era um sinal de urbanidade do século XXI, termos a preocupação mais com os moradores do que com o setor económico-financeiro. Não somos mandatados para mandar nas pessoas, mas para representar pessoas. Há aqui um grupo de cidadãos que tem uma ideia, que apresenta propostas, o município teria obviamente que ouvir", argumenta o autarca independente.


Decisão está tomada e reivindicação de moradores não vai mudar nada, avisa Ricardo Rio


O pavilhão que ali se pretende erguer contará com uma sala fitness de 1.300 metros quadrados, quatro salas de aulas de grupo, piscina climatizada de 25 metros, piscina climatizada interior de aprendizagem, spa-hidromassagem, sauna e banho turco, ludoteca, piscinas exteriores, solário e parque infantil e ainda uma zona de estacionamento com capacidade para 150 lugares.


Contactado pela RUM, o presidente do Município de Braga, Ricardo Rio garante que o esclarecimento solicitado pelos moradores à autarquia será feito, mas "não vai alterar em nada as decisões tomadas e devidamente formalizadas pelo executivo municipal".


A petição online lançada em julho pelos moradores conta com mais de 900 assinaturas, e este grupo informal procura agora angariar fundos tendo em vista a contratação de um advogado para seguir com um processo pela via judicial. Entretanto, a APA também foi alertada para esta construção e já se comprometeu com uma visita ao local para averiguar a situação, já que por ali passará o ribeiro do Lugar do Pinheiro, que desagua no rio Este. Os moradores prometem denunciar toda a situação na próxima Assembleia Municipal de Braga, já que falharam a última por não comunicarem atempadamente a participação tal como se exige.


Entretanto, alguns partidos já reuniram com este grupo de moradores, nomeadamente Iniciativa Liberal, Livre, PAN e PS.

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