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Rui Rocha, candidato da IL, nos estúdios da RUM. (FOTO: MARCELO HERMSDORF)
Elsa Moura

Legislativas 2025 05.08.2025 21H00

“Não escondo que o meu plano para ser candidato à CMB estava previsto para daqui a quatro anos”  

Escrito por Elsa Moura
Rui Rocha, candidato da Iniciativa Liberal à Câmara Municipal de Braga explica, na primeira grande entrevista à RUM, que o capital de experiência profissional e depois política enquanto líder nacional do partido são competências importantes para a visão que apresenta para a cidade na próxima década.  
Algumas das visões do candidato da IL na primeira parte da grande entrevista à RUM

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É conhecido pelo eleitorado de Braga sobretudo pelo seu currículo enquanto presidente da Iniciativa Liberal (IL), responsabilidade que abraçou durante dois anos e meio e que deixou poucas semanas depois das eleições legislativas de 2025. Deputado na Assembleia da República (AR) eleito pelo distrito de Braga nas últimas três eleições legislativas, nunca ocupou qualquer cargo autárquico, sendo a sua atividade profissional ligada à área de gestão de recursos humanos.


Nasceu em Angola, mas vive em Braga desde 1976 tendo saído apenas para estudar. Aos 55 anos e porque os objetivos que traçou nas últimas legislativas não foram cumpridos na totalidade, optou por deixar a liderança da IL e decidiu antecipar aquilo que confidencia, já era um objetivo: “servir a comunidade de Braga”.

“Sempre tive um desejo de servir, em determinado momento da minha vida política, a comunidade de Braga. Não escondo que tinha isso previsto para mais tarde, seria daqui a quatro anos eventualmente, mas é conhecida a decisão que eu tomei de deixar a liderança da Iniciativa Liberal (...) e como isso aconteceu, confesso que antes de tempo, enfim, do planeamento que eu próprio tinha feito para a minha vida política, surgiu a oportunidade de manifestar já a minha disponibilidade à Iniciativa Liberal para encabeçar uma lista à Câmara Municipal”, começa por responder.


Rejeitando que se trate de “uma tentativa de sobrevivência política”, garante “sem nenhum tipo de falsa modéstia” que a sua experiência política o distingue de outros candidatos, também porque “consegue ver coisas diferentes” estando disponível para trazer “uma nova energia e uma nova visão para Braga”.


Recusa também a ideia de que enquanto deputado eleito pelo distrito de Braga não apresentou questões, propostas e preocupações na AR sobre este território e dá como exemplos a TAP ou a estação de Alta Velocidade em Braga.

“Eu acompanho a vida de Braga e há questões que, sendo de dimensão nacional são muito relevantes para aquilo que acontece depois num município ou numa região. Veja-se o caso da TAP, por exemplo. Nós somos servidos pelo aeroporto Sá Carneiro. O facto da TAP ter tido uma injeção de capital à custa do contribuinte de 3.200ME  não traz nenhum benefício especial a quem vive em Braga e utiliza o aeroporto do Porto, porque a presença da TAP é absolutamente residual no aeroporto do Porto e, portanto, essa sensibilidade a temas nacionais de impacto relevante no município e na região, são muito importantes. O caso do TGV, por exemplo, com a liderança política que teve até à data, não teve a capacidade de discutir sequer e de propor a localização, por exemplo, da estação do TGV. Isso é um prejuízo grande, mas é um projeto de âmbito nacional que depois tem consequências na sua concepção para a cidade, para o município e para a região. E, portanto, não tira nem reduz a minha capacidade política de pensar sobre Braga o facto de eu estar mais concentrado em questões nacionais, pelo contrário, dá-me uma perspetiva diferente e, obviamente, como cidadão acompanhei sempre a vida de Braga e o evoluir do município”, afiança.


"O último mandato de Ricardo Rio é um mandato em perda de energia, cansaço ou motivação"


Apesar disso, não rejeita que o seu maior capital nesta corrida autárquica seja a visibilidade nacional que a liderança da Iniciativa Liberal lhe trouxe. “É natural, não rejeito isso, mas o que eu quero e desejo é apresentar aos bracarenses essa visão e essa perspectiva estratégica para o município, não a dois nem a três anos, numa transformação que será seguramente para uma década, e que eu desejo que coloque Braga como a capital do Norte. É o objetivo estratégico que eu apresento aos bracarenses”, explica, ainda que a notoriedade, admite, “faz parte da força da candidatura”.


Num balanço dos três mandatos da coligação Juntos por Braga com Ricardo Rio como presidente, Rui Rocha assume que “houve um primeiro período em que de facto trouxe coisas novas ao município”, ainda que considere que “a partir de determinado momento começou a haver alguma perda de energia, ou cansaço, ou motivação”. E neste último mandato refere que “houve uma perda de iniciativa”. “Sim, este mandato parece-me que é um mandato já em perda, essa energia perdeu-se”, critica.


"Os candidatos do PSD e do PS não entusiasmam os próprios militantes"


Já numa análise a alguns dos candidatos dos principais partidos do arco do poder e que utiliza também como outro argumento para se candidatar à CMB nas eleições autárquicas deste ano está relacionada com os processos internos do PS e do PSD na escolha dos seus candidatos.

“É que quer do ponto de vista do PS, quer do ponto de vista da coligação liderada pelo PSD, houve processos internos que foram tudo menos entusiasmantes na escolha destas lideranças e destes candidatos que agora apresentam. Nem o aparelho do PS, nem o aparelho do PSD estavam propriamente entusiasmados com estes candidatos ou pelo menos houve uma divisão dos aparelhos. Ora, se os aparelhos, eles próprios não confiam e não têm uma motivação extraordinária para apoiar cada um destes candidatos, António Braga e João Rodrigues, é evidente que os bracarenses olharão para estas candidaturas como candidaturas de alguma maneira de segunda escolha”, atira.

"Queremos ser uma energia limpa para Braga, e não uma candidatura contaminada por combustíveis poluentes que estavam ligados ao caso Spinumviva"

Ainda sobre João Rodrigues, que está há dois mandatos consecutivos na vereação do executivo municipal, Rui Rocha coloca-o como o “vereador com menos entrega e com menos capacidade executiva” na equipa liderada por Ricardo Rio.

Ainda assim, quando questionado pela RUM sobre o facto de também Rui Rocha não ter sido a primeira escolha dos liberais para a corrida autárquica, desvaloriza a questão e separa-a das outras duas que mencionou. “Vamos lá ver, as coisas aconteceram de forma muito rápida. Há uma primeira decisão minha de não continuar a liderar a Iniciativa Liberal e, obviamente, a Iniciativa Liberal como partido responsável não estava no final de maio de 2025 a olhar para as eleições autárquicas sem ter um caminho mais ou menos preparado, com pessoas, com propostas, tudo isso estava a ser feito. Mas a circunstância mudou com essa minha disponibilidade, que foi manifestada ao partido e à coordenação do núcleo de Braga e, a partir do momento em que houve essa manifestação, o caminho fez-se de forma muito rápida e de forma muito convicta, no sentido de que esta seria a melhor opção de candidatura”, argumenta.


Tal como há quatro anos, o PSD (maior partido da coligação Juntos por Braga) reuniu com a Iniciativa Liberal com o objetivo de alargar a coligação, mas ambos decidiram seguir caminhos separados. Ainda assim, as versões não são iguais do lado do PSD e do lado da IL. No caso da IL, Rui Rocha recusa que em causa estivessem lugares nas diferentes candidaturas e menciona o caso Spinumviva como determinante na decisão de não avançar em coligação.

“Não tem a ver com cargos, tem a ver com a visão e a estratégia e a necessidade de mudança e de apostar numa visão diferente, neste caso para o município, e nós nesses contactos chegamos à conclusão que essa visão não existia do lado da coligação liderada pelo PSD. Tem muito a ver também com o próprio candidato que foi apresentado, e se essas dúvidas e essas reticências existiam... (...) não quero usar o caso Spinumviva como cavalo de batalha desta campanha, mas ele existe e, portanto, se já tínhamos muitas dúvidas, esse caminho trouxe, de facto, a certeza de que não podíamos coligar-nos com esta coligação liderada pelo PSD, porque lá está, o nosso slogan é uma Nova Energia para Braga, e nós queremos ser uma energia limpa para Braga, e não uma candidatura contaminada por combustíveis poluentes que estavam ligados ao caso Spinumviva”, detalha o candidato nesta mesma entrevista.


"Seria praticamente impossível uma coligação pós-eleitoral com a coligação PSD/CDS/PPM"


E porque não há vencedores antes do dia 12 de outubro, podem ser muitos os cenários em cima da mesa. Um deles poderia muito bem apresentar-se com a necessidade de uma nova negociação entre a coligação Juntos por Braga e a IL. Convicto de que vai vencer a câmara de Braga, Rui Rocha prefere não abordar outros cenários, ainda que responda de forma direta que num cenário de vitória da coligação Juntos por Braga, a câmara municipal seria “instrumentalizada pelo aparelho do PSD e seria Hugo Soares a mandar" por força do que diz ser uma “dependência total do candidato da coligação liderada pelo PSD e das suas cumplicidades com o aparelho do PSD”.

Em jeito de conclusão, Rui Rocha adianta que “é muito, muito, muito difícil, praticamente impossível, que a Iniciativa Liberal esteja num executivo liderado por esta coligação” na qual a IL não se revê “por variados motivos”.


Novamente num cenário em que possa ser eleito vereador da oposição, Rui Rocha garante que assumirá essas responsabilidades e que não abandonará essa missão para assumir apenas as funções de deputado na Assembleia da República.

Há quatro anos a Iniciativa Liberal ficou longe de eleger um vereador, mas elegeu um deputado para a Assembleia Municipal, Bruno Machado, ele que volta a ser o primeiro candidato à AM. No próximo ciclo autárquico e depois do trabalho bem sucedido neste mandato, Rui Rocha acredita que reforçando a votação na AM de Braga, o trabalho poderá ser ainda mais impactante "com um grupo parlamentar".


No que respeita às juntas de freguesia, fez saber que a Iniciativa Liberal não vai concorrer a todas, pela dificuldade em formar equipas, mas também porque “há um padrão de exigência muito claro”. “Temos pessoas que se manifestam disponíveis, pessoas que estão interessadas, mas nós temos que fazer um trabalho de triagem dessas intenções, estamos neste momento a fazê-lo, mas é seguro, por este critério de exigência, de excelência dos candidatos que apresentamos, que não estaremos a apresentar candidatura a todas as freguesias”, conclui.


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