Regional 30.10.2024 12H23
"O INL precisa de recuperar a competitividade internacional que perdeu"
Clivia Sotomayor Torres, a segunda Diretora-Geral da história do INL, concedeu à RUM uma grande entrevista abordando temas como financiamento, desafios e necessidades do equipamento.
A diretora-geral do INL, Clivia Sotomayor Torres, afirma que o Laboratório Ibérico de Nanotecnologia (INL) "perdeu competitividade internacional nos últimos nove anos" e que uma das missões da sua equipa para os próximos três passa por recuperar visibilidade, atrair investigadores de todos os continentes, captando em simultâneo investimento que permita intensificar e diversificar a atividade e renovar os equipamentos que passaram de únicos em 2009 a "obsoletos" em 2024.
Numa grande entrevista concedida à RUM, no espaço semanal Campus Verbal, Clivia Sotomayor Torres, há um ano na liderança do laboratório, reconhece que a estrutura não investiu na promoção internacional para captar investigadores de mais nacionalidades e que essa é uma das tarefas para o mandato.
Com um orçamento anual a rondar os 30 Milhões de Euros critica o facto de "menos de um terço deste valor" ser da responsabilidade dos Estados-Membros que lançaram o INL, Portugal e Espanha, uma verba muito curta e que não foi atualizada com o passar dos anos.
"Com os estados membros a contribuírem com apenas um terço dos nossos gastos é bastante difícil fazer investigação", avisa. O desafio passa também por "otimizar recursos para os planos de investigação estratégica" até porque os temas de trabalho científico devem ser definidos pelo INL e não ser o INL a orientar o seu trabalho de acordo com os fundos disponíveis para áreas pré-estabelecidas pelas instituições financiadoras.
O INL necessita de "voltar à ribalta" da investigação internacional
Em 2019 o INL contava com 400 investigadores de todos os continentes, mas a pandemia da covid-19 coincidiu com a saída de muitos deles que não regressaram. Em 2024 trabalham no INL entre 300 e 360 investigadores e menos de 100 pessoas na área administrativa, que representam 84 nacionalidades diferentes. A maioria são de nacionalidade portuguesa, seguindo-se os espanhóis e os indianos. Também por isso, é tempo de "retomar iniciativas para [o INL] voltar a ser competitivo e atrair cientistas da Europa e de outras partes do mundo”, explica.
Clivia não tem dúvidas em admitir também que “o INL não fez publicidade suficiente ao que oferece a estudantes ou Pós-Docs que venham para cá”. “Temos facilidades únicas, há muitas oportunidades de progressão na carreira", diz. A intensificação de campanhas sobre o que o INL “oferece”, as suas “regalias” no âmbito de trabalhador com estatuto internacional e exemplos de histórias de êxito são alguns pontos a referir junto das instituições internacionais na expetativa de atrair mais talento, e talento jovem para Braga.
INL precisa de 50 Milhões de Euros para renovação de equipamentos
Pouco depois de chegar ao INL, Clivia Sotomayor Torres alertava, sobretudo, para a necessidade de renovação de equipamentos e neste tema é perentória: “são necessários 40 a 50 Milhões de Euros” para investir em equipamentos essenciais para que o INL não perca competitividade para outros centros de investigação internacionais.
Entretanto, o INL tem-se destacado, por exemplo, na resposta a necessidades na área dos semicondutores e a pandemia tornou visível a crise mundial no setor, levando a União Europeia a implementar um regulamento de Circuitos Integrados que visa garantir o abastecimento da UE com o aumento da produção interna. Com a experiência e capacidade do INL nesta matéria, o Laboratório Ibérico está atento e a trabalhar para captar investimentos.
Verbas financeiras anuais dos estados-membros - Portugal e Espanha - são apenas um terço do orçamento anual
O orçamento anual do INL ronda os 30 Milhões de Euros e menos de um terço é oriundo dos estados membros Portugal e Espanha. Uma das estratégias que está a ser pensada para atrair mais investimento passa por candidaturas em consórcio, mas um reforço das comparticipações dos estados português e espanhol também seria meritória analisando o comentário ao contributo dos estados-membros.
A nova diretora-geral do INL aguarda a disponibilidade de agenda do ministro da Ciência e Inovação, Fernando Alexandre, para uma visita ao espaço assim como uma reunião para discutir o ponto em que se encontra o INL e quais as suas necessidades, à semelhança do que pretende fazer com o governo espanhol, mesmo que isso signifique uma visita de trabalho ao país vizinho.
A professora e investigadora chilena, inúmeras vezes premiada pelo trabalho desenvolvido na área, diz também que este é um trabalho em “equipa” não escondendo a sua "fé" no impacto dos jovens investigadores através do desenvolvimento científico desencadeado a partir do INL. Aliás, um dos compromissos passa precisamente por atrair mais jovens com vontade de explorar novos caminhos. "O conselho do INL deu-me uma tarefa muito concreta. Quer que o INL seja reconhecido pela sua excelência na investigação. Não significa investigação pura ou aplicada, é investigação em geral. E para isso, lançamos programas para os quais estamos a apoiar postulações dos nossos cientistas, programas de prestígio, bolsas do Conselho Europeu de Investigação, ou bolsas de estudo individuais e do programa Marie Curie", finaliza.
Nasceu no Chile, viveu depois no Reino Unido, Alemanha, Irlanda e Espanha até aterrar em Portugal há dez meses. A viver em Braga confessa estar encantada com a cidade, mas realça as paisagens do Parque Nacional da Peneda Gerês. Admite que contacta com poucas pessoas fora do INL, mas está "aos poucos" a apaixonar-se por Portugal.