Cultura 28.10.2024 17H30
“O Theatro Circo tem de ser reconhecido como teatro nacional”
Diretor da CTB sugere que se recomece uma discussão alargada sobre o tema e admite que as eleições autárquicas de 2025 podem dar o mote.
O diretor da Companhia de Teatro de Braga (CTB), Rui Madeira admite que este possa ser o momento certo para reiniciar a discussão da passagem de alguns teatros municipais a nacionais, nomeadamente os de Braga e de Viseu. A premissa foi defendida há uma semana pela nova ministra da cultura, Dalila Rodrigues e é aplaudida pelo ator. O tema tem décadas, mas nunca teve desenvolvimentos práticos.
Ouvido pela RUM, Rui Madeira recorda o “historial de propostas estratégicas do desenvolvimento da criação artística do palco", ideia que segue um percurso que começou depois do 25 de abril de 1974 e no final dos anos 80” com o aparecimento do segundo teatro nacional.
Recapitulando a história, o diretor da CTB que tem o Theatro Circo como residência, admite que a passagem de teatros municipais a nacionais é reconhecer a importância de disseminar o serviço público das artes. “Portugal é completamente ao arrepio da Europa (e não falando do Leste porque o modelo é melhor), os países da Europa do sul ate à Alemanha têm um setor público muito abrangente. Portugal tem apenas os teatros nacionais do setor público e depois contratualiza com o teatro privado, como é o caso da CTB”, exemplifica.
No passado eram cinco os teatros municipais que passariam a nacionais, incluindo Braga e Viseu. “Chegou a estar no papel o centro regional das artes e do espetáculo de Braga, chegou a ser discutido mas acabou por não avançar”, disse ainda o encenador, na altura desafiado a escrever o que seria esse centro, um tema que terá sido discutido pela ultima vez há cerca de 25 anos.
Rui Madeira admite alguma naturalidade no facto de o assunto ser agora novamente mencionado pela ministra da cultura, Dalila Rodrigues. “É uma ministra que conhece a realidade fora de Lisboa, conhece o processo da descentralização e da importância da criação artística no todo o território nacional e, portanto, eu aplaudo a proposta da Sra. Ministra. É vaga, mas se pelo menos potenciar a possibilidade de rediscussão disto, é importante”, sustenta.
“Para a cidade e para o Theatro Circo é importante que essa conversa se faça e estamos numa boa altura, as eleições autárquicas”
A convicção de Rui Madeira é evidente. “De facto, um teatro como o Theatro Circo é um equipamento que tem que ser considerado nacional, pela dimensão, pela região e pela massa crítica que tem. Braga está no centro de uma zona urbana que tem mais de um milhão de habitantes”, exemplifica. No entanto, assume que é preciso saber mais do que pretende a ministra e o tema exige discussões em diferentes patamares até porque há várias questões a assegurar para que se materialize, incluindo a obrigação de “repensar os equipamentos da cidade e a importância de outros porque o Theatro Circo não pode ser uma espécie de parque de estacionamento”. “Para a cidade e para o Theatro Circo é importante que essa conversa se faça e estamos numa boa altura, as eleições autárquicas”, atira.
Sem se querer alongar no tema porque a função de um teatro municipal e de um teatro nacional é diferente, Rui Madeira antecipa uma alteração “sequencial e coerente na mudança da missão do equipamento”.
A questão da passagem de mais teatros municipais a teatros nacionais surge a propósito do lançamento de uma nova medida do atual governo que pretende aproximar os jovens dos teatros. Os jovens até aos 25 anos vão passar a ter desconto de 50% no acesso aos teatros nacionais, no âmbito das medidas “Acesso/Democratizar a Cultura”.
"As taxas de participação são muito baixas, muito reduzidas e temos de obstar a essa frente", disse Dalila Rodrigues.
Os descontos de bilheteira abrangem os teatros nacionais D. Maria II, São João, São Carlos e a Companhia Nacional de Bailado/Teatro Camões, e preveem igualmente o acesso gratuito de docentes e alunos a visitas e espetáculos nestas estruturas, no âmbito das visitas escolares.