Regional 20.01.2023 11H37
Obra de futuro hotel junto às Convertidas parcialmente embargada
ASPA volta a alertar para a fragilidade do Recolhimento das Convertidas e riscos associados à obra de construção do hotel de cinco estrelas no edifício contíguo.
A obra de construção de um hotel num edifício contíguo ao Recolhimento das Convertidas, em Braga, está parcialmente embargada e a ASPA - Associação para a Defesa, Estudo e Divulgação do Património Cultural e Natural - teme que os trabalhos coloquem em risco algum do património deste imóvel do século XVIII. Esta não é a primeira vez que a ASPA assume, publicamente, receios quanto a esta intervenção que teve início em 2022.
Um dos aspetos que preocupa o presidente da ASPA, Armando Malheiro, é o facto de, alegadamente, existirem infiltrações na capela. "Temos interpelado a câmara que diz que tem estado a cumprir as sugestões e indicações da DRCN (Direção Regional de Cultura do Norte), mas estamos a reagir porque os problemas estão à vista: há indicações objetivas de infiltração e há o parque de estacionamento. É uma obra de grandes proporções, com uma intervenção muito agressiva na zona, e, portanto, todo o cuidado será pouco", começa por referir à RUM.
No comunicado enviado à Universitária, a ASPA garante que a parede lateral da capela foi "deixada a descoberto, sem qualquer proteção, após demolição do edifício contíguo, encontrando-se exposta às agruras meteorológicas e suscetível de sofrer agressões de vária ordem. A parede exterior da capela, na fachada de frente de rua, apresenta sinais de degradação acentuada, devido a infiltrações, correndo-se o risco de haver danos cuja gravidade importa avaliar com urgência".
Na sequência das diligências efetuadas pela ASPA junto da DRCN, a associação identificou situações de não cumprimento do projeto, nomeadamente, a demolição de estruturas para além das previstas ao documento submetido a parecer "designadamente o edifício de ligação entre o Hotel e as Convertidas e a fachada posterior do edifício preexistente do Hotel".
A DRCN alerta também para o facto de existirem aspectos do projeto aprovado condicionalmente que não estão a ser cumpridos, nomeadamente, a preservação da fachada lateral e posterior, paredes interiores, escadaria principal e corpo de ligação entre o edifício e a Igreja das Convertidas.
A RUM ouviu o vereador com os pelouros do Planeamento, Ordenamento e Gestão Urbanística, João Rodrigues, que confirma o embargo parcial, mas recusa que exista património em risco. Segundo explica o vereador, a demolição apontada pela ASPA está relacionada com "a substituição de uma porta por um arco", situação que levou ao embargo parcial da empreitada, visto que esta operação não consta do projeto.
"Nos próximos dias" haverá uma inspeção ao local. Além disso, admite, "é uma obra especialmente delicada, nomeadamente pela sua localização", mas, sublinha, "o acompanhamento tem sido feito pelo município na companhia da DRCN e continuará a ser feito".
Construção de parque subterrâneo é outra das preocupações. Empresa terá colocado sensores para intervir no imediato caso surjam sinais de deslocação de terras.
Além da volumetria do edifício que irá acolher o hotel de cinco estrelas, a ASPA teme que a construção de um parque subterrâneo possa implicar danos naquele Monumento de Interesse Público. "O parque de estacionamento obriga a remoção de terras, afundamentos e outras obras. Quando não se faz uma proteção do imóvel com os requisitos necessários tecnicamente, há danos graves que podem surgir e isso aumenta a nossa preocupação. Parece-me que a empresa está a colocar sensores para prever e verificar e poder intervir logo que surjam sinais de deslocação de terras, e algum risco para as fundações do edifício ao lado. Isso deve-nos tranquilizar, mas não sabemos o dano já possívelmente causado", alerta.
Em resposta, o vereador declara que não existe nenhum parecer, do ponto de vista técnico, que tenha identificado um problema no projeto. Aos microfones da RUM, João Rodrigues admite que "todo e qualquer movimento com algo construído ao lado, aumenta a probabilidade de acontecer alguma coisa", mas refere que depois de todos os pareceres e concordância de todas as entidades, não foi colocado até agora qualquer obstáculo "do ponto de vista técnico". Por fim, o social democrata reconhece que o recolhimento "tem especial valor patrimonial para os bracarenses", mas lembra que isso "não significa que nada se possa fazer à volta das Convertidas".
Recorde-se que a referida unidade hoteleira é da responsabilidade da empresa Hotti Braga e já tinha sido contestado por vários partidos políticos na oposição. O projeto foi aprovado pelo executivo municipal com o voto contra do vereador do património e urbanismo, na época Miguel Bandeira, e do vereador da CDU.