Oncoconsigo: Tratamentos em casa afastam doentes da carga negativa do hospital. Conforto é palavra-chave

“Temos uma paciente que nos diz, muitas vezes, que não se sente tão doente pelo facto de não ter de se deslocar ao hospital”. Este testemunho ganha voz com a médica oncologista no Hospital da Senhora da Oliveira, em Guimarães, Ilda Faustino. Foi nesta unidade de saúde que nasceu um projeto inovador, a nível nacional, o ´Oncoconsigo`.

Duas vezes por semana, uma equipa de médicos (2), de manhã, e uma de enfermeiros (4), durante uma manhã e uma tarde, visitam mais de 50 doentes, sobretudo, do concelho de Guimarães, Fafe e Vizela, que aceitaram fazer parte deste projeto que tem como objetivo humanizar os cuidados de saúde.

São dois os grupos de doentes que podem integrar o projeto: utentes mais debilitados e com dificuldades de deslocação e jovens que continuam ativos na atividade profissional. “Ficam muito felizes por ter esta possibilidade de fazer o tratamento em casa”, adianta.

Neste momento, a equipa tenta que as deslocações não sejam superiores a 30 kms. Nos domicílios é possível realizar “colheitas para análise, manutenção de cateteres, realizar tratamentos orais e antineoplásicos que necessitam de vigilância médica”. Além disso, é feita uma consulta para perceber como tem sido o dia-a-dia do paciente.

A RUM acompanhou uma equipa composta pela médica oncologista, Alexandra Teirxeira, e pela enfermeira, Manuela Morais.


São 10h00 e a equipa já está pronta para arrancar ao volante do veículo oferecido pela Liga dos Amigos do Hospital de Guimarães e do Lions Clube de Guimarães. A primeira paragem será na freguesia de Gondar, onde está instalada a fábrica de Liliana Lima que descobriu que tinha cancro da mama em 2020, ano em que decidiu dar uma volta de 180 graus à sua vida profissional. De funcionária numa instituição passou a empresária do setor têxtil/moda. Hoje, tem a seu cargo oito mulheres uma das quais está a iniciar uma luta semelhante.

Durante o tratamento, Liliana partilha aos microfones da RUM que se sentiu uma “felizarda” por fazer parte do ´Oncoconsigo`. “Fazer os tratamentos no conforto da minha casa ou no meu local de trabalho junto aos meus familiares e reduzindo o tempo das deslocações é realmente fantástico”, confessa.

O distanciamento de toda a carga negativa do hospital, onde existem diferentes histórias e tipos de cancro, é outro dos pontos positivos. ” Quando nos deslocamos ao hospital acabamos por nos cruzar com outras histórias e sofremos com o que vemos”, afirma.

Cerca de meia hora depois da administração de um hormônio sintético, medição da tensão arterial e colheita de sangue para análise, seguimos viagem até Vizela para visitar Joaquim Mendes Sá. Agricultor aposentado, esteve 15 anos emigrado, em França, onde trabalhou numa fábrica de automóveis. Aos 80 anos, luta contra o cancro da próstata que lhe foi diagnosticado em 2020.

À porta estavam Isabel Santos e Carlos Pereira, filhos, que consideram uma mais valia, pois caso contrário o pai teria de fazer uma viagem de 10 quilómetros. Durante a pandemia, lamentam terem estado “poucas vezes presentes porque não eram possíveis visitas”.

Joaquim e a esposa Emília partilham da mesma opinião. “É fantástico”, refere Joaquim que destaca o conforto de estar na sua casa. Já Emília mostra-se feliz por poder acompanhar o marido neste momento difícil.

Hospital da Senhora da Oliveira acompanha 400 casos de cancro por ano.


De volta ao Hospital da Senhora da Oliveira, a diretora do serviço de oncologia, Camila Coutinho, refere que tem sido contactada por diretores e administradores de outros hospitais, no sentido de perceber como funciona o ´Oncoconsigo`. “Tenho noção que os nossos resultados serão importantes para mostrar que este conceito é interessante e uma mais valia”, declara.

A equipa, que se inspirou em modelos Europeus e Norte Americanos, pretende avaliar os resultados obtidos junto de doentes e cuidadores em comparação com utentes que continuam com tratamentos no hospital.

De acordo com o Registo Oncológico Nacional 2019, foram diagnosticados, nesse ano, quase 58 mil novos casos de cancro em Portugal. Entre 2010 e 2019, a taxa de incidência subiu quase 20%.

Em Guimarães, a diretora do serviço de oncologia fala em cerca de 1.200 novo diagnóstico de cancro por ano, sendo que perto de 400 são acompanhados no Hospital da Senhora da Oliveira.

São os homens os que apresentam uma maior taxa de incidência de cancro. O da próstata é o mais recorrente, sendo que existem cada vez mais casos de cancro do pulmão, pele e estômago. Para estes resultados contribui o facto de 1,3 milhões de portugueses fumarem diariamente, 67% da nossa população tem excesso de peso e 50% da população portuguesa não come fruta ou vegetais, segundo dados de 2022. Contudo, o futuro pode ser mais negro. A Agência Internacional para a Pesquisa do Cancro estima que, em 2040, Portugal possa ter 70 mil casos por ano de cancro.

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Vanessa Batista
Vanessa Batista

Jornalista na RUM

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