Nacional 22.09.2020 21H15
"Os sobredotados também têm necessidades"
Presidente da Associação Nacional para o Estudo e a Intervenção na sobredotação, Alberto Rocha, em entrevista ao Campus Verbal.
Estima-se que 3% a 5% das crianças sejam sobredotadas, mas a maioria desconhece. Em Portugal, as respostas nas escolas são "insuficientes" e o presidente da ANEIS - Associação Nacional para o Estudo e a Intervenção na Sobredotação – avisa que os sobredotados também têm necessidades.
Em entrevista à RUM, Alberto Rocha esclarece que estes alunos “têm tantas necessidades como tem qualquer outro aluno”.
“Provavelmente acha-se que como têm altas capacidades não precisam de apoio, e isto é uma grande falácia. Temos uma lei para a inclusão que na sua elaboração é muito boa, mas continua a não ser suficientemente inclusiva para os alunos com altas capacidades e sobredotação”, defende.
O presidente da ANEIS é a favor da diferenciação curricular ou o avanço por disciplina, entre outras medidas.. “Em sala de aula podemos fazer com o que temos e sem mais custos a diferenciação curricular destes alunos, os programas extracurriculares podem ser feitos dentro da escola, o avanço de ano, o avanço por disciplina, que são coisas muito importantes”, explica o responsável que acredita també, que a escola “tem autonomia e condições para fazer este trabalho”.
Envolvido no tema há mais de vinte anos, Alberto Rocha refere que a ANEIS existe “porque as escolas ainda não dão resposta a estas crianças e jovens”. O trabalho de enriquecimento semanal com estes alunos e jovens é, por isso, “um balão de oxigénio para eles”. “Não são trabalhados conteúdos curriculares, mas áreas de interesse deles”, explica.
Muitas das crianças e jovens aparecem identificadas por professores. Os mais precoces começam a ser sinalizados através dos médicos pediatras, que encaminham para a ANEIS para uma avaliação e acompanhamento.
As escolas, também quase sempre sem instrumentos específicos para avaliar estas crianças, encaminham-nas para associações como a ANEIS. São recolhidos elementos do contexto educativo, entrevistas com os pais, questionários aos professores e só depois é possível apresentar o diagnóstico.
Alberto Rocha assume que a lei “é importante, mas melhor que isso é dar resposta, nas escolas, a estas crianças”. “Não podemos falar de inclusão quando não lhes damos as ferramentas que necessitam para satisfazer a sua curiosidade”, refere.
O presidente da ANEIS lembra que muitas das vezes os alunos sobredotados “não têm paciência para ouvir matérias repetidas” e reconhece também que escola já tem implementado algumas medidas, entre elas as acelerações escolares – no máximo duas no nosso país. "Mas não é o suficiente”, avisa. “Em educação não devemos ter réguas nem esquadros. Estarmos a dizer que no secundário um aluno com competências e capacidades não pode avançar do 10º para o 12º, eu pergunto porquê?”. Nos EUA, por exemplo, é recorrente que um aluno, já na própria faculdade, continue a avançar de ano. “Temos que aceitar quando existe a competência até porque só se avança no curriculo quando estão asseguradas as questões sociais e emocionais com todos”, nota.
"Não há nada a temer quando se chega à conclusão que é o melhor para o aluno”.
Características comuns em crianças e jovens sobredotados
A curiosidade precoce e o querer saber aprofundado sobre determinados assuntos pode ser uma das características de uma criança sobredotada. A motivação pelas tarefas é outra, assim como o sentido de justiça e preocupação com os problemas da sociedade. Uma linguagem fluente, uma capacidade de leitura grande com vocabulário muito rico e elaborado para a idade. Criatividade, sentido de humor são outros traços distintivos associados.
Entre as dificuldades encontradas nestas crianças destacam-se “as amizades, porque os interesses são muito distintos”.