ºC, Braga
Braga

Max º Min º

Guimarães

Max º Min º

CECS
Liliana Oliveira

Academia 14.03.2020 11H45

"Pandemia informativa". Alarmismo ou prudência?

Escrito por Liliana Oliveira
A opinião de Luís António Santos, especialista e professor de jornalismo na Universidade do Minho, sobre a postura dos órgãos de comunciação social a propósito do novo coronavírus.
Luís António Santos a propósito da postura dos media sobre o novo coronavírus

false / 0:00

Estarão os órgãos de comunicação portugueses a ser alarmistas? Ou a cumprir a sua missão de informar?

A informação propaga-se quase tão rapidamente como a própria COVID-19.

A questão tem sido levantada e a RUM procurou perceber a opinião de Luís António Santos, especialista em redes sociais e política e, também, professor do curso de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho.

“A cobertura tem sido prudente e cuidadosa”, começa por dizer o professor.


“Acho que os media estão a cumprir uma função e não acho que seja a de alarmar as pessoas"


Apesar do momento díficil que os media atravessam, marcado pela “falta de recursos e pessoas”, “parece ter havido um esforço especial para estarem particularmente atentos a este assunto”.

“Os media repercutiram, como geralmente fazem, preocupações e pronunciamentos de entidades oficiais. Não me parece que a cobertura mediática tenha sido absolutamente exagerada nos seus propósitos. Parece-me até que conseguiu ser bastante profilática”, acrescenta.

Exemplo disso, diz, foram as imagens da praia de Carcavelos difundidas pelos órgãos de comunicação social. “Acho que os media estão a cumprir uma função e não acho que seja a de alarmar as pessoas, mas de responsabilização cívica, com a prestação de um serviço público”.


“Não tentar ser os primeiros a dar a notícia, mas ser os primeiros a dá-la correctamente”


Deparamo-nos, hoje, com uma quantidade “enorme” de “informação errada ou criada deliberadamente falsa” e “os riscos para o jornalismo são também maiores”. Falamos, diz Luís Santos, de uma “pandemia informativa”, onde nem tudo é verdade, sendo, aliás, uma grande parte da informação que circula nas redes sociais verdadeiramente “falsa”.

Bastam apenas “umas horas no twitter e percebemos a quantidade de vezes que aparecem pessoas anónimas que sabem que alguém já morreu e que foi naquele hospital. Umas estão a replicar a informação de outras”, aponta Luís Santos, lembrando que “isto é muito perigoso”.


“O jornalismo para além de ter que fazer o seu trabalho tem que lidar com isto. Já tivemos um episódio menos feliz de uma empresa jornalística nacional que não cumpriu todos os procedimentos que devia e se deixou levar por uma destas informações falsas”, lembrou o professor, garantindo que “na generalidade está a haver bastante prudência e um respeito grande pelas indicações das entidades oficiais, nomeadamente da Direcção-Geral de Saúde”.


As fake news não são de agora. E o seu combate é uma grande luta. Segundo Luís Santos, “há responsabilidades e procedimentos que o jornalismo deve adoptar, de maior contenção”, por exemplo. “Não tentar ser os primeiros a dar a notícia, mas ser os primeiros a dá-la correctamente”, frisou. No entanto, alerta, este não é apenas um combate dos jornalistas, mas “de cada um de nós, nos comportamentos adoptados, seja na comunicação correcta com família e amigos, passando informação ouvida em algum sítio estranho, mas também nas redes sociais, onde com muita facilidade sucumbimos à tentação de replicar uma mensagem estrondosa”, como, por exemplo, “informação sobre medicamentos que podem curar ou a toma disto e daquilo.Tudo isso é informação falsa”.


“Há quase 40 entidades cuja única tarefa é contrariar a informação falsa que circula na internet”


O professor da UMinho adianta ainda que neste momento “há quase 40 entidades, que agregam instituições académicas e organizações de jornalistas, cuja única tarefa é contrariar a informação falsa que circula na internet”.

Sobre informação fiável, alerta, “apenas a de fontes oficiais”, como o Governo.


Perante este surto, muitas são as profissões de risco, onde se inserm, os jornalista.

No entanto, no que refere à classe jornalística, Luís Santos considera que devem “haver comportamentos alterados por parte dos jornalistas e das fontes”. Além dos “comportamentos prudentes” de cada um, o especialista defende alterações na forma como “as entidades organizam as suas comunicações”. “Poderão fazê-lo por telefone, presencialmente, mas apenas com um ou dois jornalistas e não com 20 ou 30, por documentos ou testemunhos vídeo. Teremos que ser inventivos, porque isto é um problema novo para nós todos”, finalizou. 

Deixa-nos uma mensagem