Cultura 15.07.2020 20H57
"Para quem fica com 50 datas canceladas é difícil voltar a ter ânimo"
Quatro artistas falaram sobre a criatividade em tempos de pandemia no Café-Concerto RUM by Mavy.
Devido à pandemia, a cultura teve de ser repensada e a imaginação, a todos os níveis, dos diferentes profissionais do sector foi colocada à prova. Quatro artistas participaram esta quarta-feira na tertúlia 'A criatividade durante a pandemia', incluída no ciclo de conversas 'A Cultura de Hoje na Região', organizado pela RUM a propósito das comemorações dos 31 anos de emissões legais, que decorre nas quartas-feiras deste mês no Café-Concerto RUM by Mavy.
Para Marta Moreira, o confinamento “não afectou todos os profissionais da área da mesma forma”. A escritora e performer refere que muitas artistas “conseguiram, por terem uma forma de sustento mais estável, dar a volta por cima e encarar a situação como um processo de aprendizagem e de auto-reflexão”.
No entanto, a co-criadora da Plataforma do Pandemónio, que surgiu no período de pandemia, alerta que o panorama supracitado é “um privilégio reservado a tendencialmente poucas pessoas”. “Para quem realmente fica, por exemplo, com 50 datas interrompidas ou canceladas, é muito difícil voltar a ter ânimo para continuar a tocar, escrever ou pintar”, acrescenta.
Arlindo Fagundes também marcou presença na tertúlia. O ilustrador da série 'Uma Aventura' destaca que “não se tem dado muita importância” aos profissionais da área da cultura com menos mediatismo, como os que estão ligados ao som e à iluminação, que se encontram "caladinhos e solitários a tentar viver de um trabalho que deixou de existir”.
Além disso, o artista, que, entre outras actividades, é também realizador e autor de banda desenhada, dá o seu exemplo, referindo que fez ilustrações para "um livro que foi impresso, publicado, mas que não foi vendido e que neste momento não se sabe quando vai ser”.
A cultura em suspenso e o "descalabro financeiro"
Numa perspectiva mais pessoal, Rui Rodrigues alerta para o panorama devastador que a pandemia criou. “Não consigo resumir aquilo que tem sido a viagem dos últimos meses da minha vida. É a maior tragédia da minha vida”.
Explicando que vive "exclusivamente do trabalho realizado nesta área”, o músico, autor e formador afirma que “financeiramente tem sido um descalabro”, enaltecendo que “os apoios são residuais". O baterista de bandas como Big Fat Mamma, Red House Blues Band, Pyroscaphe e do grupo de percussão tradicional Bombos com Alma refere ainda que lidera projectos em que há várias pessoas que “dependem” dele.
Já José Oliveira, responsável por várias iniciativas ligadas à sétima arte, começa por dizer que “muito raramente o cinema é a sua fonte de rendimento”. Ainda assim, lamenta que a pandemia tenha “suspendido” a exibição de dois filmes realizados por si, como são os casos de 'Conselho da Noite' e 'Guerra'.
Por outro lado, o fundador do cineclube Lucky Star, sediado em Braga, afirma que o seu trabalho como professor e formador também foi “interrompido” devido à pandemia.