Regional 06.08.2024 07H00
Sinalética na Av. Dr. António Palha irrita comerciantes. CMB cita código da estrada
Está assim desde a penúltima semana de julho, mas comerciantes e moradores estão revoltados. Não foram ouvidos e consideram que a solução prejudica toda a gente. Exigem à CMB que reconsidere.
Os comerciantes e moradores da Avenida Dr. António Palha, em Braga, estão indignados com o município que recentemente remodelou a sinalética horizontal para dar seguimento a uma nova zona ciclável. Queixam-se de que foram retirados vários lugares de estacionamento que agora afastam os clientes. Em poucas semanas, os comerciantes ouvidos pela RUM falam num decréscimo acentuado nas vendas, apelando ao município que reconsidere o que ali foi feito.
Além disso, referem que não foram ouvidos nem avisados do que ali iria acontecer tendo sido confrontados numa manhã de segunda-feira com obras no local e impedimento de acesso a todos os lugares, o que terá deixado todo o comércio na envolvente sem clientes nesse dia.
"O negócio caiu e teve dias em que caiu mais de 50%" confessa o proprietário de uma pastelaria com mais de vinte anos de negócio naquele local. Dizem que se trata de um "desincentivo" ao comércio local. "Cortam-nos as pernas", afiança o proprietário do talho. "Não estamos contra a ciclovia, mas precisamos de estacionamento e há um espaço morto deste lado", acrescenta outra das empresárias referindo-se à zona entre a pastelaria e a Caixa Geral de Depósitos.
Entretanto, na sexta-feira, 9 de agosto, têm reunião marcada com a vereadora das obras municipais. A ideia é "conseguir pelo menos alguns lugares de estacionamento". Pedem "consenso" e diálogo "para resolver as coisas", considerando que com esta sinalética o município de Braga "está a estourar com o comércio local".
Outra das reclamações está na saída da rotunda para a Avenida Dr. António Palha que é encurtado para apenas uma faixa de rodagem. Nesse aspeto, o pelouro das obras municipais abre a possibilidade de estudar uma alteração.
Além disso, moradores e comerciantes temem que a zona fique com o "trânsito caótico" em setembro, aquando da reabertura das escolas.
O próprio presidente da União de Freguesias de Nogueira, Fraião e Lamaçães, José Pinto de Matos, considera que os comerciantes, os moradores e a própria junta deveriam ter sido auscultados sobre o que ali se pretendia implementar. "Claramente vê-se que faltou aqui diálogo. As pessoas têm ideias, têm propostas alternativas. Estamos numa zona de comércio e serviços, numa grande pressão para estacionamento, e tudo isto condiciona os negócios. As pessoas deviam ter sido ouvidas. A junta também não foi ouvida, recebemos apenas uma notificação, dois dias antes, que previsivelmente iria ser feita pintura nesta zona", explicou o autarca que se juntou aos moradores e comerciantes.
Abaixo-assinado já deu entrada na CMB
No município, já deu entrada um abaixo-assinado manifestando "total insatisfação pelas recentes alterações efetuadas, sem consulta prévia ou comunicação adequada" e alertando para "impactos negativos", solicitando "uma reconsideração do projeto".
Avisam que os pequenos comerciantes "dependem do estacionamento próximo para atrair clientes", mas alertam também para as dificuldades de residentes "que não possuem garagem". Já no acesso para pessoas com mobilidade reduzida notam que "sofrerão um impacto significativo na mobilidade diária". Alegam ainda que "não foi tido em consideração o direito dos moradores que fizeram a aquisição dos apartamentos com a expetativa do estacionamento".
"Município apenas tornou mais visível a proibição de estacionamento que já existia" - Olga Pereira
Contactada pela RUM, a vereadora com o pelouro das obras municipais, Olga Pereira recusa que tenham sido retirados lugares de estacionamento e assinala que com a criação da ciclovia ficou mais visível que os carros que diariamente ali estacionavam estavam em infração. Diz também que passou a existir uma zona de cargas e descargas que há muito era reclamada pelos comerciantes. "Os lugares não podiam ter ficado. O código da estrada define que a zona de proteção das paragens de autocarro é de 30metros, tem que ter cinco metros para a frente e 25metros para trás. É chegar lá com a fita métrica e fazer as contas. Fizemos um lugar de cargas e descargas que serve os comerciantes, coisa que não tinham até ao momento", esclarece. Olga Pereira vai mais longe e considera que "na verdade" o município "não fez tantas alterações assim", apenas "com a criação da ciclovia tornou mais visível a proibição de estacionamento". "Ele [o estacionamento] já não era permitido anteriormente", conclui.
Sinalética continua a ser ignorada por muitos automobilistas
A RUM assistiu a vários constrangimentos enquanto realizava esta reportagem, nomeadamente com pessoas com mobilidade reduzida. Com o único lugar ocupado e a vários metros de distância da Caixa Geral de Depósitos, os automobilistas acabam por parar em local indevido para largar passageiros com mobilidade reduzida, por exemplo. Além disso, de um lado da via e do outro, mesmo com sinalética visível, são muitos aqueles que continuam a ignorar e a estacionar as viaturas, seja no local de cargas e descargas, como nas próprias paragens de autocarro. Os motoristas da TUB acabam por largar os passageiros na faixa de rodagem como constatou também a RUM.
Dependendo do resultado da reunião da próxima sexta-feira, caso a autarquia não esteja disponível para eventuais alterações, comerciantes e moradores asseguram que vão prosseguir com outras formas de luta.