Academia 26.11.2020 16H00
Sinistralidade em Braga custa 3x mais que construção de rede ciclável
68% dos bracarenses andaria de bicicleta se existissem infraestruturas seguras. É uma das conclusões da tese de doutoramento de Mário Meireles, conhecido em Braga como um dos promotores da bicicleta.
Em Braga o custo da sinistralidade rodoviária é de cerca de 33 milhões de euros. O dado é referente a 2015 e integra o Estudo nacional do custo económico e social dos acidentes de viação em Portugal. Um valor três vezes superior ao necessário para avançar com a construção da principal rede ciclável na cidade dos arcebispos, segundo Mário Meireles, membro da Braga Ciclável e Bicycle Mayor, que é o convidado desta quinta-feira, 26 de Novembro, do UM I&D.
"Mobilidade Urbana Sustentável centrada no uso da bicicleta. Um sistema digital, integrado, partilhado e inteligente" é o tema da sua tese de doutoramento, pela Escola de Engenharia da Universidade do Minho em Sustentabilidade do Ambiente Construído.
Através de um questionário, o investigador concluiu que 68,1% dos bracarenses "não se sentem confortáveis com a ideia de andar de bicicleta no meio do tráfego". Além disso, dizem "não existir uma rede segura de ciclovias segregadas para as suas deslocações diárias". Barreiras ao nível das infraestruturas que afastam os bracarenses de um estilo de vida mais saudável e amigo do ambiente.
A percentagem de bracarenses que considera necessário reduzir a velocidade dos automóveis também é considerável, são 28,9%. Apenas 0,7% refere que não andaria de bicicleta "por ter um estatuto social a manter". O inquérito tem uma margem de erro de 3,1%.
O bracarense defende uma mobilidade centrada nos parâmetros das Starter Cycling Cities, um triângulo sustentável da mobilidade que prioriza andar a pé, de bicicleta e/ou de transportes públicos. Para chegar a estes modelos devem ser concretizadas mudanças ao nível da educação, promoção dos meios suaves, mas sobretudo através do investimento em infraestruturas para "mudar hábitos" de forma real.
Praticamente todo o território português está ainda a dar os primeiros passos no caminho para uma mobilidade mais sustentável, com a excepção do município da Murtosa.
Segundo cálculos europeus, a bicicleta poderá gerar um benefício de 24 mil milhões de euros por ano e andar a pé cerca de 6 mil milhões de euros por ano. Isto quando calculados os benefícios e despesas que cada meio de transporte (carro, bicicleta, andar a pé ou de transportes) gera em termos de poluição emitida, sinistralidade e ganhos/malefícios para a saúde, sendo que uma vida mais sedentária acaba por contribuir para obesidade, problemas cardiovasculares, entre outros.
Andar de bicicleta na vizinha Espanha já significa mais dias de férias no final do ano.
Os incentivos monetários, mas não só, têm demonstrado bons resultados na promoção do uso da bicicleta. Na tese de doutoramento, Mário Meireles ofereceu 50 euros em compras numa loja da cidade dos arcebispos. Durante esse período os "ciclistas" utilizaram mais a aplicação "A minha freguesia" em que foi adicionado um novo módulo, o ciclómetro.
Em países como França e Bélgica, os utilizadores são presenteados no final do ano por cada quilómetro pedalado com uma valor até 600 euros. Já aqui ao lado, na Andaluzia, os quilómetros são convertidos em dias de férias suplementares no final do ano. Medidas que Mário Meireles considera mais eficazes que apenas financiar a compra de uma bicicleta. Ideias que aos poucos estão a chegar a Portugal.
Solução para o Nó de Infias passa pelos transportes públicos.
Para Mário Meireles é premente investir no transporte público, pois só desta forma será possível diminuir o número de automóveis que entram por esta porta da cidade dos arcebispos vindos, diariamente, de concelhos vizinhos como Amares e Vila Verde. Alternativas que neste momento são escassas.
Quanto às ciclovias, nesta zona da cidade deveriam ser segregadas. Contudo, sublinha que o tipo de resposta irá depender das velocidades praticadas, de modo a garantir a segurança de todos os utilizadores.
É fundamental ter "uma espinhal dorsal" a funcionar com ligações do centro da cidade para pólos importantes da cidade como a Universidade do Minho e a Bosch, ou seja, ligações entre as "avenidas que compõem a Rodovia, a Avenida da Liberdade, Avenida 31 de Janeiro, assim como a Padre Júlio Fragata, Rua do Caires e as várias zonas residenciais e escolas secundárias para conseguir promover este meio de transporte junto da população mais jovem".
Mário Meireles acrescenta que o facto dos bracarenses andarem mais a pé, de bicicleta ou transportes públicos iria trazer benefícios também para a economia local. "Andamos mais pelo centro, por isso acabamos por ver mais lojas locais", refere.