"São trezentas páginas de constante aflição", assim a descreveu José Saramago. 'Ensaio Sobre a Cegueira' ficciona um mundo onde quase todos ficam cegos numa epidemia que conduz à discriminação e ao isolamento dos infetados, um enredo que ressoa como nunca em 2022. 

Esta sexta-feira e sábado, pelas 21h30, o espetáculo bilingue, que resulta de uma parceria entre os teatros nacionais do Porto e da Catalunha, sobe ao palco do Theatro Circo. Em entrevista à RUM, Nuno Cardoso, encenador e diretor artístico do Teatro Nacional São João (TNSJ), reconhece o impacto do espetáculo num momento pós-pandémico. 

"Decidimos levar a peça a cena quatro meses antes da pandemia nos ter atingido, obviamente que depois de termos sofrido o ordálio que foi o covid-19 o espetáculo ganhou uma outra ressonância perante o público e perante os atores no seu processo de ensaios", revela.

Para o encenador, José Saramago fala de uma "cegueira humana", uma cegueira que não nos deixa ver os outros, "uma praga que já nos assola há muito tempo e que o covid-19 sublinhou". "Talvez tenhamos ultrapassado a pandemia do covid-19, mas infelizmente para a pandemia da nossa cegueira perante o outro ainda não encontramos uma vacina", considera o diretor artístico do TNSJ.