Academia 31.05.2023 14H49
70% das mulheres migrantes em Portugal sofreram alguma forma de violência
Alerta é dado pelo estudo da Escola de Psicologia da Universidade do Minho “Efeitos da Pandemia Covid-19 em Mulheres e Raparigas Nacionais de Países Terceiros (NPT): Uma Abordagem Interseccional”.
70% das mulheres migrantes sofreram pelo menos uma forma de violência durante a pandemia e quase 60% foi vítima de discriminação. Estes são os resultados do projeto “Efeitos da Pandemia Covid-19 em Mulheres e Raparigas Nacionais de Países Terceiros (NPT): Uma Abordagem Interseccional”, apresentado esta quarta-feira, na Escola de Psicologia da Universidade do Minho, e que contou com o financiamento do Fundo para o Asilo, as Migrações e a Integração.
A investigadora acompanhou e questionou mais de 330 mulheres migrantes de 13 distritos do continente e dos Açores com níveis de escolaridade diversos, desde secundário ao ensino superior, um aspeto que a coordenadora do projeto garante não ser relevante. O fator preponderante está relacionado com o fato de serem imigrantes e de grupos étnicos minoritários.
Mariana Gonçalves adianta que uma percentagem significativa de mulheres foi "vítima pela primeira vez durante a pandemia de violência doméstica, nomeadamente, nos contextos de familiares". Contudo, a grande maioria já sofria com esta realidade, sendo que os problemas foram agravados a nível "intrafamiliar".
75% das mulheres inquiridas revela acumular cinco formas de violência das nove analisadas pela investigadora da UMinho. A violência sexual é outro dos grandes flagelos apontados pelas mulheres migrantes. 25% revela já ter sido vítima.
"Estamos a falar de uma população muito diversificada e às vezes o acesso ao digital não é tão facilitado, apesar dos conteúdos estarem disponíveis em várias línguas", alerta.
Para a Alta-Comissária para as Migrações, Sónia Pereira, este trabalho demonstra a necessidade de reforçar a formação dos técnicos que interagem com estas mulheres migrantes, mais concretamente, na sua sensibilização cultural.
"Há uma necessidade de formação importante dos técnicos que nas várias áreas interagem e podem estar em contato com mulheres que foram vítimas de algum tipo de violência, não necessariamente no gabinete de apoio à vítima. Parece-me desde já que é importante começarmos a trabalhar nesta sensibilização dos vários técnicos, por exemplo, na rede de centros locais de apoio à integração de migrantes, que estão também muito presentes na região norte", refere.
Esta sensibilização será particularmente relevante para entender e dar a conhecer os mecanismos de encaminhamento e de resposta que existem para dar a atenção devida a estas mulheres.
A sessão de encerramento, prevista para as 17h00, contará com a presença da Secretária de Estado da Igualdade e Migrações, Isabel Almeida Rodrigues, da vice-presidente da Escola de Psicologia da UMinho, Paula Cristina Martins, e do diretor do CIPsi, Pedro Rosário.