Academia 09.03.2023 21H00
Abandono no ensino superior: Primeiro ano pode ser decisivo
Maria do Céu Taveira, professora associada do Departamento de Psicologia Aplicada da Escola de Psicologia da Universidade do Minho, em entrevista ao UMinho I&D.
O primeiro ano de entrada na universidade pode ser decisivo na escolha de continuar ou abandonar o ensino superior. A convicção é da professora associada do Departamento de Psicologia Aplicada da Escola de Psicologia da Universidade do Minho, Maria do Céu Taveira, responsável pelo projeto Europeu Erasmus "Sunstar - Suporte aos estudantes universitários em risco de abandono", em Portugal.
O trabalho foi desenvolvido, ao longo de 36 meses, por seis instituições de quatro países distintos, são eles: Portugal, Alemanha, Grécia e Sérvia. Em entrevista ao UMinho I&D, a investigadora garantiu que existem diversos motivos que podem levar ao abandono dos alunos.
"A forma como a decisão foi tomada sobre o curso durante o ensino secundário", pode ser o início dos problemas de acordo com a investigadora. "Quando conseguem realizar esse objetivo descomprimem, digamos assim, e depois os primeiros resultados não são os melhores e acabam por desanimar", conclui.
Seguem-se diversas questões internas como: será este o curso certo ou dúvidas em relação à capacidade de concluir a licenciatura. Outro fator com muito peso está relacionado com as dificuldades económicas que, caso o aluno seja deslocado, acabam por ser agravadas devido à falta de capacidade das residências universitárias. "A questão do abandono deve ser atacada muito precocemente, logo no primeiro mês", defende.
Projeto desenvolveu quatro ferramentas que permitem o autodiagnóstico e aconselhamento dos estudantes.
O projeto "Sunstar" oferece quatro tipos de ferramentas que permitem monitorizar o estudante e, simultaneamente, auxiliar o desenvolvimento do ensino superior. Uma das ferramentas colocadas à disposição é uma plataforma digital que permite o autodiagnóstico, ou seja, alerta para o caso de um aluno apresentar uma maior probabilidade de vir a abandonar a universidade.
A ideia passa por analisar "a motivação, estratégias de aprendizagem, autodisciplina, entre outras". Segue-se o envio de um "feedback estruturado de interpretação desses resultados e recomendações sobre o que pode fazer", uma forma de "guiar o estudante e apoiá-lo numa situação em que esteja indeciso".
O último de seis módulos deste questionário apresenta-se com a designação "E se?", direcionado para os alunos que estão convictos da sua decisão de abandonar o ensino superior.
Nos últimos três anos, o projeto tem sido testado junto de alunos do primeiro ano da Escola de Psicologia, onde teve, segundo a docente, “bastante sucesso”.
"Os próprios docentes que utilizaram a ferramenta ficaram mais esclarecidos e alerta para esta problemática. Muitas vezes, os próprios docentes não têm um conhecimento profundo sobre o assunto, portanto, penso que é uma boa opção", refere.
O Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior já reconheceu a importância desta questão. A Universidade do Minho terá um projeto financiado no sentido de minorar fatores de insucesso e abandono. Projeto esse que poderá reter algum do conhecimento já adquirido pelo Sunstar.
Recorde-se que a UMinho apresenta taxas de abandono na ordem dos 11%. Os dados foram avançados durante o seminário “Prontidão de carreira e apoio ao sucesso académico no ensino superior". No caso da licenciatura a percentagem é de 6%. Já nos mestrados é três vezes superior.