Regional 11.09.2025 11H13
Ala de alimentação do mercado de Braga não convence. Saída da Living Markets adiada
A Living Markets, do grupo Sonae Sierra, foi criada propositadamente para gerir a praça de alimentação do mercado municipal de Braga em 2021. Com uma concessão de 100% dos espaços por 25 anos, no início de 2024 cedeu 50% ao grupo Érre e agora pretendia passar os restantes 50% à CI360 Desenvolvimento Imobiliário, Lda. mas a decisão fica adiada até à entrada em funções do futuro executivo.
A praça de alimentação do Mercado Municipal de Braga poderá conhecer um novo figurino, no futuro. A Living Markets, que começou por pegar no projeto após a requalificação do equipamento, não terá conseguido alcançar os seus objetivos financeiros. De 100% da concessão, passou para 50% no início de 2024, quando cedeu ao grupo Érre metade da concessão, também com o aval do executivo municipal de Braga. Um ano depois depois e após mensalidades em atraso entretanto liquidadas junto do município de Braga, propôs passar os restantes 50% para uma outra empresa de Braga, a CI360 Desenvolvimento Imobiliário, Lda., detida por Ronaldo de Oliveira. No entanto, no início desta semana e quando tudo parecia estar encaminhado para se concretizar, a oposição no executivo municipal de Braga pediu à maioria que retirasse o ponto da agenda da penúltima reunião camarária do mandato, empurrando o assunto para o próximo executivo municipal.
Foi em maio deste ano que a Living Markets, após notificação do município, liquidou a dívida que já superava os 105 mil euros, algo só tornado público com a minuta da última reunião camarária. No momento do pagamento acionou uma das cláusulas do contrato que permite a passagem da concessão para outra empresa.
Living Markets alega que empresa sugerida "está em posição de implementar uma operação com melhor adequabilidade às caraterísticas do local"
A RUM contactou a Living Markets para conhecer as motivações apresentadas pela empresa para sugerir a saída imediata da concessão. Na resposta foi mencionado apenas que "a Living Markets apresentou à Câmara Municipal de Braga a cessão a favor de uma empresa, com histórico de operações em Braga e que está em posição de implementar uma operação com melhor adequabilidade às características do local, acrescentando mais valor à operação do Mercado Municipal de Braga".
Fica para o novo presidente decisão sobre modelo da praça de alimentação do mercado
Na reunião camarária desta segunda-feira, a maioria admitiu que a Living Markets não atingiu até agora os objetivos e o espaço não está a funcionar como todas as partes pretendiam. Acontece que na ótica dos vereadores do PS e da CDU, transferir os 50% da concessão para "uma empresa criada há um ano e sem experiência neste setor" será um risco ainda maior. Foi lançado um apelo para que se refletisse sobre a estratégia atual para encontrar uma solução que possa finalmente ser bem sucedida e Ricardo Rio acedeu ao pedido, ainda que sublinhasse que há um contrato em vigor.
A praça de alimentação do Mercado Municipal de Braga poderá assim conhecer um novo figurino.
Mas recuemos ao início e aos 100% da concessão da Living Markets por um prazo de 25 anos a troco de uma renda mensal de 4 mil euros por toda a área dedicada à restauração. Em agosto de 2021, a Living Markets, do grupo Sonae Sierra foi responsável pela abertura desta nova valência. Antes disso, construiu o conceito, deu nome ao espaço e investiu nos diferentes balcões que seriam posteriormente alugados a empresas da área da restauração para ali apresentarem os seus produtos e estimularem os respetivos negócios.
Restaurante no piso superior nunca funcionou, mesmo com a entrada do Grupo Érre em janeiro de 2024
Toda aquela área, concessionado por 25 anos, pretendia a criação e gestão de novos conceitos de mercados urbanos, trazendo “uma nova vida ao espaço” e contribuindo “para uma nova centralidade daquela zona do centro histórico da cidade", algo que até agora parece não ter acontecido. Desde 2021 até outubro de 2025, em nenhum período aquela área de restauração esteve 100% ocupada e nunca entrou em funcionamento o grande espaço superior que seria dedicado a um só restaurante.
À hora de almoço, durante a semana, são raras as vezes em que as mesas se encontram preenchidas e os estabelecimentos a funcionar a 100%.
E porque o negócio não corria como se esperava inicialmente, em janeiro de 2024 surge o grupo Érre, reconhecido pelas suas competências nas áreas de tecnologias de informação, ambiente, sistemas de informação geográfica, FTTH, comunicação e gestão de eventos, detido por Ramiro Brito, entretanto também presidente da Associação Empresarial do Minho.
Na ocasião, este novo parceiro surgia com um propósito: "dinamizar a Mesa na Praça, aproximando a comunidade bracarense ao espaço que, para além da oferta gastronómica, apresenta um cartaz cultural mensal com intervenção de artistas da região", podia ler-se. Admitindo que se tratava da "entrada numa área de negócio nova e completamente desconhecida”, o CEO mencionava a “experiência em comunicação e dinamização cultural”, com o propósito de “abrir novos caminhos”. Já o new business manager da Sonae Sierra, Marco Massano, declarava que esta colaboração com o grupo Érre aportava “um significativo valor ao projeto Mesa na Praça, quer pela sua notoriedade junto da comunidade local, quer pelo seu ‘expertise’ em áreas tão estratégicas como a comunicação e a cultura". Depois disso e até aqui não se registaram alterações significativas.
Living Markets acumulou dívida de rendas ao município num valor total de 105 mil euros, entretanto liquidado
Desconhecendo-se as razões, a Living Markets começou a acumular uma dívida com o município de Braga de não pagamento de rendas que superou os 105 mil euros. Notificada pela autarquia, a empresa, em 30 de maio de 2025, procedeu ao pagamento do valor da dívida, tendo solicitado que fosse abatido no montante global da dívida, o valor da caução (€ 24 000,00). Naquela ocasião, a Living Markets solicitou igualmente a autorização do Município para a cessão da sua posição contratual no contrato de concessão, nos termos e para os efeitos do disposto na cláusula 19º do Caderno de Encargos que é parte integrante do Contrato de Concessão, a favor de uma sociedade por quotas denominada CI360 Desenvolvimento Imobiliário, Lda., detida por Ronaldo de Oliveira. “Em resultado da cessão da posição contratual, passará a ser a referida sociedade por quotas CI360 Desenvolvimento Imobiliário, Lda a prosseguir a exploração da Concessão tal como melhor consta do Contrato de Concessão, estando assegurada a transmissão a seu favor dos contratos celebrados com os lojistas da Mesa na Praça", pode ler-se no documento submetido a reunião de câmara, mas que acabou sem efeito. A maioria pretendia aprovar esta passagem, mas depois das solicitações de PS e CDU recuou, deixando a decisão para o futuro executivo.
Ricardo Rio assumiu que a maioria "ficou um pouco desencantada com o resultado final deste processo de concessão". "Gostaríamos que tivesse outra dinâmica que infelizmente não conseguiu durante estes anos. Se isso é responsabilidade da Sonae ou fruto do modelo é algo que o tempo poderá responder", disse. Admitindo que não existindo nenhuma posição "ortodoxa" em relação a esta aprovação, o próximo executivo vai ter de decidir "continuar com ele ou extinguir".
Em que ramo atua a Ci360 Desenvolvimento Imobiliário, Lda?
Com morada na Avenida da Liberdade [Edifício Liberdade Street Fashion], em Braga, a Ci360 Desenvolvimento Imobiliário, Lda, com capital social de 1.000 Euros apresenta na sua descrição de atividade as seguintes valências:
"Administração e exploração de imóveis próprios ou de terceiros, compra e venda de imóveis próprios, arrendamento e subarrendamento de imóveis, bem como a prestação de serviços na área do imobiliário e atividades afins. Atividades de alojamento em casas particulares para fins turísticos de curta duração, turismo de habitação, turismo rural e organização de atividades turísticas. Prestação de serviços de publicidade e marketing".
Associação Empresarial de Braga está interessada no espaço. PS sugere que seja ouvida
A oposição nunca acreditou neste modelo e rejeitou-o desde o início. Artur Feio, do PS, considera que "não vale a pena insistir neste modelo". "Se uma empresa como a Sonae não consegue dinamizar um espaço daqueles, não nos façam acreditar que uma empresa criada há um ano possa fazer esse papel", notou. Os socialistas assinalaram ainda a disponibilidade recente da Associação Empresarial de Braga que defende em última análise um modelo de gestão público privado. Pretende "repensar o espaço e dinamizá-lo de forma diferenciada e sugerem que um novo executivo possa ouvir a associação empresarial com o objetivo de "criar a tal centralidade que nunca aconteceu até hoje".
Já para o vereador da CDU, a grande valência do mercado municipal é "o abastecimento dos bracarenses" considerando que "não surpreende que um esquema de praça da alimentação na prática tenha redundado num insucesso". "Temos dúvidas que venha a ser um sucesso, mas deixamos isso em aberto, naturalmente", conclui Vítor Rodrigues.