Regional 15.03.2021 19H23
Braga. Reabertura do comércio no primeiro dia de desconfinamento ainda a meio gás
Esta segunda-feira, o país começou a primeira fase do desconfinamento. Depois de dois meses encerrado, o comércio de bens não essenciais voltou às vendas ao postigo. Em Braga, nem todos quiserem reabrir.
Braga, 15horas. O número de pessoas nas ruas do centro da cidade já dá sinais do desconfinamento que o país inicia esta segunda-feira, 15 de Março. O momento era há muito desejado por comerciantes e clientes. A tarde solarenga também é um fator atrativo, mas a reabertura de portas, ainda que muito condicionada, fez aumentar o movimento. No entanto, nem todos os empresários abriram as portas. Muitos consideram que a venda ao postigo não é viável para todas as atividades. À RUM, o diretor-geral da Associação Comercial de Braga (ACB), Rui Marques, adiantou que apenas cerca de "20% dos associados" reabriu a porta esta segunda-feira, nomeadamente empresas ligadas à beleza, como cabeleireiros e estética, e à moda.
"É difícil vender ao postigo", ourivesaria
Outro há que, mesmo concordando com esta ideia, decidiram abrir portas porque a necessidade assim obriga. É o caso de José Pitães, proprietário de uma ourivesaria a que dá nome e que caminha para sete décadas de porta aberta. "É difícil vender ao postigo, porque estamos a mostrar um tabuleiro de anéis e a pessoa pode fugir, mas a necessidade obriga-nos. Ainda assim, estamos a fazer apenas pequenos serviços", esclareceu o proprietário. Depois de um ano díficil, sem cerimónias, como casamentos ou batizados, as vendas desceram quase 50% e "os apoios não vieram logo, nem foram suficientes". Do negócio sai o ordenado de quatro elementos da família, mas o número de clientes foi reduzindo "até pela falta de dinheiro", confidenciou José Pitães. A expectativa está em 2021, sobretudo no verão e no Natal.
"Tivemos mais de 10 clientes e a manhã correu bem", loja de roupa infantil
Na Rua do Souto, uma das principais artérias comerciais no coração da cidade, encontrmaos Joaquim Cunha, proprietário de uma loja de roupa para criança, que permence na família desde 1957. É a loja mais antiga da cidade no que a roupa de bebé diz respeito e enfrentou em 2020 "um dos piores anos de sempre". Os proprietários não pagam renda, mas, ainda assim, os dias de negócios passam dias difíceis. O número de clientes é muito variável, mas a quebra de faturação rondou os "40%, sendo que até setembro rondou os 50%". "Perdemos o lançamento da coleção nova, a Páscoa, a Braga Romana e os batizados e comunhões", detalhou.
Hoje, a portas voltaram a abrir e já havia clientes à espera do lado de fora. "Tivemos mais de 10 clientes e a manhã correu bem", acrescentou. Joaquim Cunha admite ter recorrida ao online, onde efetuou algumas vendas, mas, frisa, "as pessoas gostam de ver as peças", por isso o negócio online não é o forte da marca.
"Vendi apenas cinco coisas", loja de recordações
Logo abaixo, encontramos uma loja de artigos regionais, aberta ao público há 11 anos. António Martins, o responsável, revela as dificuldades sentidas ao longo do ano que passou. Com o estabelecimento a viver muito dos turistas que chegam à cidade e procuram recordações, e com o turismo em suspenso, as quebras na faturação foram visíveis. "Às vezes, entravam aqui mil pessoas por dia e passaram a entrar 50", exemplificou.
O vendedor aponta ainda a "falta de dinheiro" como justificação para as quebras nas vendas. Esta segunda-feira, o negócio continuava "fraquinho", tendo vendido "apenas cinco coisas". "É uma boa ideia de estar a abrir, poque as pessoas vão-se começando a mentalizar que há negócios abertos", confirmou. O ano de 2021 prevê-se difícil. "Se der para os gastos vai ser muito bom", disse António Martins, que viu a situação financeira "mais equilibrada" com a saída, por opção, de uma das duas empregadas que tinha. "O ano passado foi só tirar dinheiro do banco para injetar na loja", lamentou.
"A agenda está a ficar completa para o resto da semana", salão de cabeleireiro
Um cenário bem diferente vivia-se junto aos salões de beleza. Num salão de cabeleiro junto aos jardins de Santa Bárbara, a reabertura "foi maravilhosa". Segundo a proprietária, Teresa Ribeiro, a ansiedade de voltar era muita e, por isso, "a agenda está a ficar completa para o resto da semana". Esta segunda-feira, até ao início da tarde "já cerca de 15 clientes" tinham passado pelo salão, para cortar, pintar e tratar do cabelo. Apesar de todas as dificuldades, a proprietária assume que "2020 foi um ano positivo", ainda que se tenham sentido quebras na faturação, devido aos períodos de confinamento. Com "clientes fiéis", as expectativas que Teresa guarda para os restantes meses deste ano "são boas", até porque, com o desconfinamento gradual, chegam também as cerimónias religiosas, como casamentos, batizados e comunhões.