Internacional 03.09.2025 17H09
Cortes de Trump levam ao nascimento de bebés com o HIV na África Oriental
Os cortes na ajuda humanitária na África Oriental levaram a casos de bebés infetados com HIV por falta de acesso à medicação, a um aumento de infeções potencialmente fatais e pelo menos a um caso de aborto indesejado. A conclusão é de um relatório da Physicians for Human Rights (PHR) que alerta para o impacto da interrupção do plano de emergência de combate à SIDA (PEPFAR) e denuncia a perda de décadas de progresso no combate ao vírus.
Um relatório da organização Physicians for Human Rights (PHR) revela que a interrupção abrupta do PEPFAR - o programa norte-americano de combate à SIDA - provocou em apenas 100 dias falhas graves no tratamento e prevenção do HIV na Tanzânia e no Uganda, países dependentes do programa.
Lançado em 2003, o PEPFAR já salvou milhões de vidas, sobretudo na África Subsaariana, mas desde o regresso de Donald Trump à Casa Branca que viu os seus fundos congelados, o que comprometeu o financiamento de vários dos seus programas essenciais.
Os efeitos do congelamento da ajuda humanitária
De acordo com os profissionais de saúde, pacientes e especialistas entrevistados pela organização PHR, os cortes da Administração Trump levaram a casos de bebés nascidos com o vírus, porque as mães não tiveram acesso à medicação, a aumento de infeções potencialmente fatais e a pelo menos um caso de aborto indesejado.
"Na verdade, sinto-me muito mal. As pessoas estavam novamente fortes e agora as suas vidas (estão) a começar a recair. É muito doloroso. As crianças que cresceram nas nossas mãos, que foram trazidas (para nós à beira) da morte e que nós criámos – agora são jovens. Agora, se elas voltarem para onde as encontrámos – realmente, isso afeta-nos muito. É como uma mãe ver os seus filhos morrerem de fome e ainda assim não ter nada para alimentá-los. Você vê alguém que está a recair lentamente. Algo deve ser feito", afirmou o diretor executivo de uma ONG de tratamento da SIDA, no Uganda.
A isenção parcial do governo dos EUA permitiu apenas a continuidade dos programas de prevenção em mulheres grávidas ou a amamentar, deixando grupos-chaves desprotegidos em risco, nomeadamente pessoas LGBTQ+, profissionais do sexo e pessoas que consomem drogas enfrentam criminalização e estigma.
Os autores do relatório defendem que a administração norte-americana deve "restaurar, renovar, preservar e proteger imediatamente o financiamento global da saúde para serviços essenciais de HIV" e "reautorizar o programa PEPFAR", de modo a haver "uma transição planeada, viável e transparente para a liderança e apropriação dos programas pelos países".
RTP