Academia 03.02.2022 20H30
Em Portugal "não é clara a divisão entre recursos e reservas de lítio"
Carlos Leal Gomes, considerado um dos maiores especialistas em depósitos minerais de lítio, foi o convidado desta semana do UMinho I&D.
De acordo com Carlos Leal Gomes, professor no Departamento de Ciências da Terra da Universidade do Minho e investigador do Laboratório de Paisagens, Património e Território, "não é clara a divisão entre recursos e reservas de lítio", em Portugal.
Considerado um dos maiores especialistas em depósitos minerais de lítio, o convidado do UMinho I&D refere que das oito áreas previstas para o concurso de prospeção de lítio, no Norte do país, é a região de Boticas que está mais próxima dessa realidade. Quanto a Montalegre, o investigador defende que o minério "não é bom", logo a exploração acaba por ser "pouco viável", segundo a informação avançada pelas empresas.
Carlos Leal Gomes alerta para o facto de, em Boticas, as jazidas conhecidas datarem da década de 90 e, desde então, pouco mais ter sido descoberto. "A empresa que lá anda tem sondado à volta desses alvos", declara.
Portugal tem as maiores reservas de lítio da Europa e as oitavas maiores do mundo.
Esta premissa é recusada pelo geólogo. Aos microfones da Universitária, Carlos Leal Gomes explica que países da América do Sul como a Argentina, Bolívia ou Chile têm, possivelmente, 80% das reservas mundiais, logo Portugal terá uma percentagem "ínfima" desses recursos.
Contudo, de acordo com o professor da UMinho, Portugal terá "em muito boas condições" lítio sobre forma mineralógica em depósitos ideais para produção cerâmica, mas desadequados para a produção de lítio.
Recorde-se que esta semana foi revelada a avaliação ambiental estratégica que excluiu a Serra de Arga das áreas abrangidas pelo concurso nacional para a prospeção de lítio que irá só avançar em seis das oito regiões onde foi identificado um potencial da existência deste minério.
Portugal poderá ser o centro da refinação de lítio na Europa.
A Galp e os suecos da Northvolt anunciaram um investimento de 700 milhões de euros numa operação de mineração em larga escala que é suposto começar a debitar lítio tratado já em 2026. Esta refinaria ficará situada no Porto de Sines. Este afastamento da metalurgia do Norte do país, onde se acredita que esteja a "fonte" de lítio do país, demonstra que esse centro metalúrgico não está a ser pensado para o lítio português, mas sim, para aquele que será importado do exterior.
Neste momento, investigadores da UMinho estão a estudar a existência de lítio em países africanos, nomeadamente, Países de Língua Oficial Portuguesa.
Que problemas ambientais podem resultar da exploração de lítio?
Quando o objetivo do Governo português passa por criar "grandes desmontes a céu aberto", isso poderá, sim, ter impactos ambientais. A movimentação das rochas, não apenas as que contêm lítio, podem libertar sulfuretos com enxofre gerando "uma drenagem ácida" assim como metais pesados em solução.
O impacto territorial é outras das questões que devem estar em cima da mesa, visto que será necessário consumir 7 a 10 vezes o diâmetro da corta a céu aberto.
O investigador alerta para a possibilidade de áreas com alta importância natural virem a perder essa vocação para virem a ser consideradas zonas mineiras, o que na sua ótica "não tem sido pensado".
Lítio pode não ser o futuro.
Durante a entrevista ao UMinho I&D, Carlos Leal Gomes refere que a indústria tem por tendência a necessidade de escolher um material, como neste momento é o caso do petróleo, e utilizar o mesmo para diversas funcionalidades prementes no dia-a-dia dos cidadãos.
Ora, o lítio poderá não ser a resposta. Caso a mobilidade sustentável venha a ser massificada pelo uso de baterias de lítio, o investigador alerta para o facto de as baterias para funcionarem necessitarem de outros elementos como é o caso do níquel e do cobalto. O problema é que estes dois elementos "não são tão abundantes no mundo e estão nas mãos de territórios cuja posse governativa é altamente instável".
Entrevista completa para ouvir aqui.