Regional 17.03.2021 14H58
"Existem lacunas evidentes na oferta da rede de equipamentos culturais em Braga"
Ausência de espaços para criadores e agentes culturais é clara no diagnóstico traçado pela equipa responsável pela estratégia 'Braga 2030'.
O Theatro Circo e o gnration são por enquanto os principais espaços culturais da cidade de Braga que continua sem ver o arranque da requalificação do S. Geraldo, ou da requalificação da antiga Escola Francisco Sanches. Pelo meio, o município descartou a requalificação da antiga Fábrica Confiança quem em 2013 foi adquirida pela autarquia para fins culturais. Joana Meneses Fernandes, coordenadora geral da estratégia cultural Braga 2030 assume que "será preciso olhar, repensar e reorganizar os equipamentos existentes numa perspetiva de complementaridades entre si".
Afastando a hipótese de construir ou requalificar um edifício para se tornar "uma grande catedral cultural", a responsável reconhece que "será necessário algum investimento infraestrutural, pelo menos na readequação desses equipamentos".
As lacunas existem no que respeita à oferta da rede de equipamentos culturais em Braga e "são muito evidentes e muitas vezes referidas", admite. Faltam espaços para os criadores e agentes culturais não só para o desenvolvimento do seu trabalho, mas também para o partilhar, segundo o diagnóstico realizado pela equipa coordenada por Joana Meneses Fernandes.
A antiga Escola Francisco Sanches, em S. Victor, poderá ser um dos aspetos relevantes nessa resposta. "Estamos a pensar naquilo que pode ser o contributo da escola para esta rede. Que valências os outros equipamentos não têm e que este novo nó na rede poderá dar resposta", admitiu.
O edifício S. Geraldo, arrendado pela autarquia à Arquidiocese a troco de 12 mil euros mensais continua por reabilitar. O município pretende requalificar o espaço e investir mais de 5Milhões de Euros para o transformar em Media Arts Center, mas até agora ainda não foi lançado o concurso público. Este futuro equipamento, esclarece a responsável, é mais um compromisso na dedicação de um edifício às media arts, mas que no futuro "servirá outros propositivos acolhendo projetos locais".
Questionada sobre o facto de a coligação Juntos por Braga - atualmente no poder -, não querer requalificar a antiga Fábrica Confiança e optar pela sua venda, Joana Meneses Fernandes afirma que a CEC "não será menos por não ter este ou aquele equipamento cultural, ou por não ter um museu de arte contemporânea ou por não ter na cidade licenciaturas ligadas às áreas artísticas". Argumenta que "é necessário identificar as áreas de trabalho que precisam de uma maior incidência e profundidade", referindo que "é preciso encontrar formas de ultrapassar essas questões". "Não devem ser vistas como inibidoras do sucesso de uma candidatura", finaliza.
O processo de debate e auscultação para a estratégia 'Braga 2030' sofreu com a pandemia. Isso mesmo foi admitido pela coordenadora geral da estratégia Braga 2030 que decorre da candidatura de Braga a capital europeia da cultura 2027. A cidade portuguesa vencedora será conhecida em 2023 e são onze as concorrentes, entre elas Braga e Viana do Castelo.
Em entrevista ao Campus Verbal na noite desta terça-feira, Joana Meneses Fernandes reconheceu que o processo de transição não decorreu da forma inicialmente pensada. "Esse processo de debate, de auscultação e de releitura do documento que gostaríamos de ter feito de uma forma muito mais participada sofreu, naturalmente, devido à situação. Não só esse momento em particular como depois a própria transição do processo", admitiu.
O envolvimento e mobilização da sociedade civil são elementos chave numa candidatura a capital europeia da cultura. O programa de auscultação 'Vamos falar?' visa aproximar os bracarenses da estratégia cultural da cidade. A coordenadora geral admite que neste ano de 2021 os processos que se seguem não estão calendarizados, também por causa da pandemia. Questionada pela RUM, Joana Meneses Fernandes disse que é "uma incógnita para Braga e para todas as cidades", reconhecendo que a Comissão Europeia e os membros do júri estão a acompanhar e "compreendem" os constrangimentos com que os grupos de trabalho se debatem nesta altura. "Temos de ter uma ideia muito concreta do que é que é o resultado deste processo, mas temos de ir encontrando a cada momento as melhores ferramentas para garantir que até ao final, esse encontro, reflexão e projeção conjunta de desejos acontece", explicou.
Refletir sobre questões como as alterações climáticas ou promoção da inclusão da igualdade "devem ser valores presentes no conceito e no programa artístico da candidatura", acrescentou aquela responsável. Num processo de construção que acontece durante uma pandemia, Joana Meneses Fernandes assume que as questões à volta da covid-19 também não podem ser colocadas de parte.
"A cultura é uma ferramenta poderosíssima para conseguir consciencializar os cidadãos sobre essas outras temáticas", declara.
Os espaços verdes são cada vez mais pensados tendo em vista fins culturais. A coordenadora explica que vários espaços da cidade serão valorizados para consumo cultural, cruzando com a espiritualidade, entre eles o futuro parque Ecomonumental das Sete Fontes.
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