Cultura 18.01.2023 13H39
"Guerra". Um filme humanista que quer ajudar a quebrar tabus da Guerra Colonial
Filme é realizado pelo programador do cineclube Lucky star e professor de Braga, José Oliveira, e Marta Ramos. Estreia esta quinta-feira, 19 de janeiro, numa sala na cidade dos arcebispos.
Um filme humanista que pode ajudar a quebrar tabus sobre a participação portuguesa na Guerra Colonial. Esta é a mensagem que o realizador, programador, fundador do cineclube Lucky star e professor de Braga, José Oliveira, espera que “Guerra” transmita aos espetadores.
O filme que já foi exibido, em março de 2020, no Festival Internacional de Cinema Documental de Navarra, em Espanha, estreia esta quinta-feira, 19 de janeiro, em cinco salas nacionais. Na cidade dos arcebispos, a longa pode ser vista no Nova Arcada sempre às 21h45.
"Guerra" é um filme que mistura ficção com histórias reais de ex-combatentes que participaram na Guerra do Ultramar nos territórios de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique. Tudo começa com uma reunião entre os antigos soldados. Uma cena em que no olhar de cada um está presente o sentimento de perda e saudade de colegas que não regressaram a Portugal.
José Oliveira, em entrevista à RUM, destaca o papel do ator principal e coargumentista, já falecido, José Lopes. "Ele queria fazer uma espécie de homenagem aos ex-combatentes", começa por revelar o realizador. Sem levantar o véu, o bracarense adianta que este foi um trabalho realizado entre 2017 e 2019, em Lisboa. A longa metragem conta com a participação de atores amadores, que viveram na primeira pessoa um dos períodos mais negros da história portuguesa, e que conjuga essas lembranças com a crise e presença da Troika.
Recorde-se que 90% da população jovem masculina do país foi mobilizada para a Guerra do Ultramar, que causou cerca de 10 mil mortos e 20 mil inválidos entre os soldados e mais de 100 mil vítimas entre os civis que viviam nas colónias.
Para José Oliveira este filme pode desbloquear a partilha da "verdade" de cada um. "Acho que Portugal nunca fez a catarse completa como os americanos que durante e depois da Guerra do Vietname retrataram esse momento em filmes e livros. Portugal esperou muitos anos e mesmo hoje não há grande coisa sobre o assunto", defende.
O realizador elenca o exemplo do próprio pai que acabou por se fechar nas suas memórias. Este trabalho é também uma despedida do ator principal José Lopes do cinema e, na ótica do realizador, da "própria vida", visto que faleceu sem ter chegado a ver o resultado final deste "Guerra".
Além dos atores amadores, que dão veracidade à história, o filme conta com a participação de Luís Miguel Cintra e Diogo Dória.
Marta Ramos e José Oliveira têm trabalhado em conjunto há pelo menos uma década, nomeadamente nos filmes “Times are changing, not me” (2010) e “35 anos depois, o movimento das coisas” (2015), que ambos rodaram com Mário Fernandes.
Neste momento, José Oliveira já está a trabalhar num novo projeto que terá como pano de fundo a Serra da Estrela e os grandes fogos de 2022.