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Tiago Barquinha

Academia 26.03.2020 07H38

Idosos. "Lidar com o medo e com a solidão são dois dos maiores desafios"

Escrito por Tiago Barquinha
A visão de José Ferreira-Alves sobre o momento que este grupo de pessoas atravessa.
O professor da Escola de Psicologia da Universidade do Minho alerta para a falta de medidas preventivas, aborda a questão dos lares e fala de um "mito".

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No período de propagação do novo coronavírus, José Ferreira-Alves considera fundamental existirem mais mecanismos de apoio social para os idosos. De acordo com o professor da Escola de Psicologia da Universidade do Minho, "lidar com o medo e com a solidão são dois dos maiores desafios" que estas pessoas enfrentam.


Numa primeira análise, o docente alerta para "um processo inverso" que está a acontecer actualmente. Antes da Covid-19 eram "promovidas as relações sociais com as pessoas mais velhas" e agora é solicitado o máximo de cautela nesse contacto. Explicando que, "em termos de saúde pública, o isolamento é um factor de risco para a saúde psicológica e para a saúde física", José Ferreira-Alves refere que "o ideal é que a promoção do cuidado nas relações e nos contactos sociais seja acompanhada com algumas medidas que não tirem completamente as relações sociais às pessoas mais idosas".


Associado ao isolamento social, o professor da Escola de Psicologia destaca a existência do medo da doença. Apesar de considerar que é algo "transversal" a toda a gente neste momento, teme que esse sentimento "afecte ainda mais os idosos", já que podem "sentir-se mais frágeis e com menos capacidade para combater o problema, em termos biológicos".


De acordo com a mais recente actualização da Direção-Geral da Saúde, até esta quarta-feira, devido à Covid-19, tinham morrido em Portugal 43 pessoas, 32 delas com 70 anos ou mais. "Se é noticiado que são o maior grupo de risco e que ainda por cima as pessoas que falecem por coronavirus são, em grande parte, idosas, claro que isso amplifica o medo".


Com o objectivo de combater esse sentimento e de ajudar os idosos a lidar com a solidão, o professor da Escola de Psicologia alerta para a necessidade de haver "uma estratégia comunitária". José Ferreira-Alves explica que é preciso fomentar várias iniciativas que "produzam uma sensação de que estas pessoas estão acompanhadas, de que não estão sozinhas e de que podem recorrer a alguém", como, por exemplo, "activando voluntários para pegar no telefone e ligar aos idosos".



Dos perigo dos lares e da respectiva falta de medidas ao "mito de que os idosos andam a ser irresponsáveis"


Os lares de idosos têm sido um foco de infecção na Europa e Portugal não foge à regra. "Há aqui uma certa falta de mobilização para criar orientações para serem seguidas no lares", começa por dizer o docente. O professor da Escola de Psicologia que se dedica, entre outras áreas, a investigar o comportamento dos idosos refere que "não se pode permitir que haja sequer uma pessoa infectada nos lares". "Devia haver uma indicação ou prescrição para que se tivesse o maior dos cuidados no diagnóstico com pessoas com Covid-19 nestes locais", afirma.


Os órgãos de comunicação social têm veiculados imagens de idosos que se recusam a permanecer em casa. Para a José Ferreira-Alves, a mensagem que está a ser passada não corresponde exactamente à realidade. O investigador vai mais longe e afirma que "a ideia de que as pessoas idosas andam a ser irresponsáveis é o maior dos mitos que anda a ser difundido".


Considerando que é "um erro grave colocar as questões de comportamento por grupos de idade", José Ferreira-Alves dá os exemplos da afluência da população a algumas praias portuguesas e às marginais da Póvoa de Varzim e de Vila do Conde, referindo que "a maioria das pessoas que estavam nesses locais não era idosa".

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