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Liliana Oliveira

Academia 03.03.2020 19H27

Investigador da UMinho com estudo publicado em revista internacional

Escrito por Liliana Oliveira
Ronaldo Sousa, do departamento de Biologia da UMinho, viu estudo que avaliou o efeito das pequenas barragens numa espécie ameaçada, o mexilhão de água doce, divulgado, esta terça-feira, na revista “Science of the Total Environment”.
Ronaldo Sousa, investigador da UMinho, sobre o estudo

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O mexilhão de água doce quase desapareceu em zonas de pequenas barragens e, a jusante destas, já quase não se reproduz. O alerta é do investigador Ronaldo Sousa, do Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA) e professor do Departamento de Biologia da Escola de Ciências da UMinho, num estudo que publicado, esta terça-feira, na revista “Science of the Total Environment”.

A equipa avaliou 66 locais nos rios Mente, Rabaçal e Tuela, no distrito de Bragança.


“As zonas das barragens e as zonas a jusante eram altamente prejudiciais para a espécie, isto acontece porque as condições ambientais mudam com a presença das barragens. É uma espécie que prefere águas correntes, sem nutrientes, com uma barragem a água fica parada e começa a haver sedimentação, que para esta espécie é altamente prejudicial, uma vez que esta não consegue sobreviver nem se reproduzir nestas condições e acaba por desaparecer”, explicou à RUM o investigador.

Para Ronaldo Sousa seria “importante para a espécie um melhor controlo dos caudais”. “À medida que as barragens vão envelhecendo pode ser interessante que algumas delas sejam desactivadas”, acrescentou.

Em Portugal, segundo Ronaldo Sousa, a espécie “já teve uma distribuição mais ampla e acabou por desaparecer em vários rios no Norte”.


No entanto, “nos rios no parque natural de Montesinho, junto a Bragança, com as barragens as duas populações têm menos efectivos, porque foram afectadas, mas ainda existem quilómetros de rio a montante e alguns a jusante que ainda têm condições para a espécie persistir. A espécie não se vai extinguir assim tão facilmente em Portugal, nestes rios”, acrescentou o investigador.

A situação é diferente em alguns rios a nível europeu, onde “a espécie tem desaparecido por ameaça, com a introdução de espécies invasoras, poluição e perturbações humanas”. “É uma espécie muito susceptível e qualquer coisa que aconteça nestes rios é uma das primeiras a desaparecer2, informou Ronaldo Sousa.

Para o investigador da UMinho, a publicação do estudo na revista “Science of the Total Environment” é o reconhecimento da “qualidade do trabalho e do valor de conservação da espécie”, que é como “um indicador de um ecossistema muito limpo, ou seja, se a espécie está presente, quer dizer que o habitat tem muito boas condições, e isso tem um intresse científico grande”, finalizou.


Ronaldo Sousa, investigador da UMinho, autor do estudo que avaliou o efeito das pequenas barragens numa espécie ameaçada, o mexilhão de água doce.

Os resultados do estudo mostraram que os mexilhões de rio (Margaritifera margaritifera) são 98.5% mais abundantes acima da zona de influência das barragens e 97.4% abaixo destas estruturas.

No mundo há mais de 80 mil pequenas barragens (geram até 10 megawatts), que, ao contrário das de maiores dimensões, localizam-se em geral nas zonas de cabeceira das bacias hidrográficas. Essas áreas são habitat de muitas espécies, geram importantes funções e serviços e são usualmente menos perturbadas pela atividade humana, constituindo assim ecossistemas com alto valor de conservação. Porém, existem pressões crescentes para a construção das pequenas barragens acelerar nas próximas décadas, por isso importa avaliar como estas afetam a biodiversidade.


"75% das espécies europeias de mexilhões de água doce estão em risco"


O cientista estima, com base em estudos desenvolvidos pelo CBMA em conjunto com investigadores dos centros CIBIO, CIIMAR (ambos da Universidade do Porto), CITAB (Universidade de Trás-os-Montes Alto Douro) e CIMO (Instituto Politécnico de Bragança), que 75% das espécies europeias de mexilhões de água doce estão em risco. A sua equipa, que também trabalha em geografias como o Sudeste Asiático e o Norte de África, averigua a possibilidade de criar, em laboratório, juvenis para repovoar as zonas fluviais e as espécies mais afetadas em Portugal. Por exemplo, em Portugal, os casos mais preocupantes são, além de Margaritifera margaritifera, a Potomida littoralis (ameaçada) e Unio tumidiformis (vulnerável). Os bivalves têm funções relevantes, como filtrar na coluna de água, e são bioindicadores da qualidade da água. “Precisam, normalmente, de habitats com água corrente e, num sistema de água parada sob influência das barragens, não têm condições ambientais e desaparecem, inclusive nos primeiros quilómetros após as barragens, pois o habitat foi alterado", reforça.

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