Academia 04.07.2025 18H04
"Isto é Gaza" apresenta na UMinho "exemplos reais" da guerra através da fotografia, relatos e desenhos
Exposição está patente, até 30 de julho, no átrio do CP 2, do campus de Gualtar, da UMinho.
Alshaarawi Salem tem 40 anos e completou o doutoramento em Optometria e Ciências da Visão na Universidade do Minho. Com raízes em Beit Lahia, uma pequena cidade no norte de Gaza, pretende ser a voz daqueles que ainda permanecem num terreno onde a todo o instante se teme pela vida.
Na abertura da exposição "Isto é Gaza", no átrio do CP2, no campus de Gualtar, lembrou os nove irmãos que permanecem em Gaza. O mais novo foi o único sobrevivente a um ataque, onde perdeu o olho esquerdo. “Israel destruiu a maioria dos hospitais em Gaza”, denotou Alshaarawi Salem.
Enfrentou “muitos obstáculos” em Gaza, quis tornar-se médico “para servir as suas pessoas”. Defendeu a sua tesa, em Portugal, em 2024, mas não conseguiu “festejar” o momento de sucesso académico, porque vê o seu país em guerra, perdeu a casa e muitos amigos.
“Graças à nacionalidade portuguesa e ao Governo, conseguiu evacuar meus pais durante a guerra”, disse Alshaarawi Salem, acrescentando que não via os progenitores “há quase dez anos”. Os pais chegaram a Braga magros e quase sem conseguir falar, devido ao cenário de guerra que viveram em Gaza.
Exposição "leva ao público exemplos reais" do que se passa em Gaza
Até 30 de julho, está patente no CP 2, no campus de Gualtar da UMinho, a mostra "Isto é Gaza", que inclui duas exposições. São fotografias, desenhos e testemunhos que documentam o conflito armado entre Israel e Palestina.
Vincenzo Riso, do Grupo para a Reflexão e Contacto pela Palestina da Universidade do Minho, explica que o objetivo desta iniciativa é “divulgar estas histórias e o reconhecimento de o número de vítimas diário corresponde a vidas de pessoas”. “Esta iniciativa pode influenciar, porque leva ao público exemplos reais, seja em termos de imagens, de histórias pessoais, nomes, retratos ou desenhos”, acrescentou.
Vincenzo Riso deu o exemplo da Universidade de Bolonha, que, a 18 de junho, aprovou uma “deliberação explicita da condenação da ação do Estado de Israel”. “Pode ser uma solução política, mas a universidade exige o respeito pelo direito internacional e pelos direitos humanos”, apontou ainda o docente.
Para Vincenzo Riso, “calar é consentir”.
A exposição “Isto é Gaza” apresenta duas vertentes do mesmo tema: “Uma é a testemunha do genocídio, através de fotografias que remontam ao ano passado, porque, entretanto, o fotógrafo conseguiu sair de Gaza; a outra, ‘Gaza, Arte como Pulmão’, é uma iniciativa de artistas que quando conseguiram sair demonstraram, através do desenho, de forma mais evidente e literal o sofrimento e a tragédia que se vive em Gaza”.
Na inauguração da exposição, o reitor Rui Vieira de Castro disse que “este sobressalto deve ser assinalado e deve ser valorizado”. “Não podemos confundir as lideranças dos países com os povos. Eu sempre defendi que deveríamos encontrar plataformas de entendimento e de aproximação, que permitissem construir relações de uma outra natureza para o futuro, precisamente entre as comunidades e os povos”, afirmou o reitor.
Rui Vieira de Castro lembra que “no caso do conflito em Gaza, a posição da universidade foi a de condenar de forma absolutamente veemente as instituições que, de alguma forma, de um lado ou do outro, subscreviam posições em favor da guerra”. “Temos que manter pontes com todas as instituições, porque essas pontes podem vir a ter um papel importante no desenho do próximo futuro”, finalizou.