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FOTO: JOSÉ DELGADO. LUÍSA CAEIRO NO MOMENTO EM QUE DISCURSOU DA VARANDA DO EDIFÍCIO DA CÂMARA DE BRAGA
Elsa Moura

Regional 24.04.2024 13H11

Luísa Caeiro. A voz feminina que se ouviu no 26 de Abril em Braga. "Foi assustador e empolgante"

Escrito por Elsa Moura
Luísa Caeiro e Alberto Jorge Silva abriram à RUM as portas da sua casa para recordarem o histórico comício da tarde de 26 de Abril de 1974 em Braga. O dia em que Braga saiu à rua para celebrar a queda do fascismo.
Declarações de Luísa Caeiro e Alberto Jorge Silva no espaço de grande entrevista da RUM 'Campus Verbal'

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Luísa Caeiro. É este o nome da única mulher que discursou na tarde de 26 de Abril da varanda do edifício da Câmara de Braga, no comício organizado pelo Movimento de Democratas de Braga. Passaram cinquenta anos, mas os momentos que antecederam o discurso estão ainda bem presentes. Luísa Caeiro era professora no Liceu Sá de Miranda, mas nunca tinha falado em público. “É assustador quando se chega à varanda e se olha para aquela multidão. Aquele espaço estava preenchido de gente e de bandeiras, de flores e ter de falar… eu acho que a minha voz saiu muito fraquinha, que quase nem se ouvia, foi a sensação com que eu fiquei”, explica. Ainda assim, o companheiro de uma vida, Alberto Jorge Silva, recusa que a multidão não tenha escutado aquele discurso. Nesta entrevista conjunta, apressou-se a contrariar a ideia. “Pelo contrário, talvez dois tons acima até do costume”, atira. Luísa Caeiro assume que houve uma mistura de sentimentos. “É ao mesmo tempo um momento empolgante. No fundo estava a representar muita gente e isso assusta e depois deu-me responsabilidades no futuro. Tive que assumir determinadas posições porque as pessoas achavam que eu tinha tido muita coragem e era necessária gente com coragem para determinadas lutas”, refere. Luísa Caeiro acabaria depois por se envolver no movimento sindical e no movimento de gestão das escolas.


Em entrevista exclusiva à RUM, a então Professora do Liceu Sá de Miranda recorda a mensagem que passou nessa mítica tarde, um dia depois da Revolução, quando Braga saiu à rua para celebrar a liberdade. “A mensagem, fundamentalmente era chamar as mulheres para acordarem para a luta, para defenderem os seus direitos, para lutarem junto com os homens”, diz.


Alberto Jorge Silva recorda também outro sinal daquele dia 26 de Abril. Nesse comício “começaram a aparecer os penetras que toda a vida foram democratas”, diz com tom irónico. “Um tipo que lá estava era do piorio, mas já estavam a fazer-se ao piso da democracia. Tinham um passado muito difícil de limpar, mas a verdade é que muitos deles o limparam”, vinca.


O comício foi preparado num curto espaço de tempo, em casa e depois no escritório de Humberto Soeiro. Advogado e um dos mais destacados opositores ao fascismo, foi no seu escritório que se realizaram muitos dos encontros daqueles que lutavam contra a ditadura. E nessa reunião logo depois de confirmada a revolução, Luísa Caeiro “foi escalada para falar ao povo em nome das mulheres”. O documento terá sido redigido em conjunto.


A entrevista completa no programa Campus Verbal pode já ser escutada em podcast, e tem reposição em antena esta quinta-feira, 25 de Abril, entre as 14h00 e as 15h00 nos 97.5FM.


Recorde-se que o comício do dia 26 de Abril em Braga será recriado esta sexta-feira à tarde, na Praça Municipal, através do grupo Malad’Arte. A assistir estarão vários dos protagonistas do Movimento de Democratas de Braga, antigos militares e cidadãos que saíram rua para festejar, entre eles Luísa Caeiro e Alberto Jorge Silva.

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