Cultura 27.07.2024 22H05
Morreu Mísia. Era considerada uma das mais originais fadistas portuguesas
O último disco de Mísia, Animal Sentimental, foi editado em 2022 e lançado em conjunto com um livro, uma espécie de autobiografia, onde a cantora relatou vários episódios da sua vida, entre eles, a luta contra a doença oncológica e um casamento onde foi vítima de violência.
Morreu a fadista Mísia, aos 69 anos, que ficará na história como uma das mais originais cantoras portuguesas. Ao longo dos mais de 30 anos de carreira, em que passou por consagrados palcos internacionais, Mísia gravou 13 discos, muitos deles, com fados assinados pelos maiores autores portugueses, como José Saramago, Lídia Jorge e Agustina-Bessa Luís.
A notícia foi dada pelo Richard Zimler, escritor americano radicado em Portugal, numa publicação na sua página de Facebook.
"Estou desolado, pois a minha velha amiga, a cantora Mísia, acabou de nos deixar. Partiu em paz, docemente, sem dores", pode ler-se.
Na página de Instagram, o Museu do Fado também recordou Mísia como uma "artista pioneira, intensa, poderosa, destemida" que "nunca precisou de certificados de legitimidade estética para traçar o seu próprio caminho".
"Ao longo de décadas, desenhou um percurso riquíssimo pontuado de tournées pelos grandes palcos do Mundo. Alguns deles, foi a primeira artista a pisar depois de Amália Rodrigues, 15 ou 20 anos mais tarde. A estreita colaboração com os maiores escritores e poetas portugueses contemporâneos, o diálogo com outras disciplinas artísticas - o cinema, a dança ou o teatro - as colaborações com Bill T. Jones, Sophie Calle, Isabelle Huppert, Maria de Medeiros, Iggy Pop, Adriana Calcanhotto ou Maria Bethânia, foram apenas algumas das múltiplas dimensões desta artista gigante a quem tanto devemos", pode ler-se na publicação.
Mísia, alter ego de Susana Maria Alfonso de Aguiar, deu nome ao primeiro trabalho da artista em nome próprio, em 1991, numa altura em que o fado ainda era visto como símbolo do Estado Novo. Em 1993, editou o álbum "Fado" e, em 1998, "Garra dos Sentidos", disco que lhe viria a valer o Prémio Charles Cross, em França. Em várias entrevistas, a fadista portuguesa deu conta que o seu trabalho só começou a ser valorizado em Portugal depois de ter sido distinguido no estrangeiro.
Em 2003, com o álbum "Canto", onde se alinharam textos de vários poetas e uma música de Carlos Paredes, Mísia venceu o Prémio da Crítica Alemã. Entre os álbuns que editou, destaque ainda para o "Para Amália", um disco duplo lançado em maio de 2015 de homenagem àquela que, para si, sempre foi uma inspiração, e para o "Do Primeiro Fado ao Último Tango", disco que editou aos 25 anos de carreira.
Em 2012, Mísia recebeu o Prémio Amália Rodrigues na categoria Divulgação Internacional, contando ainda com distinções como a Ordem das Artes e Letras de França, em 2011, a Ordem de Mérito Civil em Portugal e o Prémio Gilda no 33.° Festival Cinema e Donne, em Itália, pela sua participação no filme 'Passione', realizado por John Turturro.
Ler entrevista ao Expresso em 2010
c/SIC