Academia 29.01.2021 15H43
Pandemia veio acelerar critérios de publicação científica
Explicações da virologista Maria João Amorim, do Instituto Gulbenkian de Ciência, à margem do II Simpósio em Bioquímica Aplicada na Universidade do Minho.
A pandemia do novo coronavírus veio acelerar os critérios de publicação científica. A afirmação é da virologista Maria João Amorim, do Instituto Gulbenkian de Ciência, que participou esta sexta-feira no II Simpósio em Bioquímica Aplicada da Universidade do Minho com a palestra "Novos paradigmas em biologia celular e na introdução das células com vírus da gripe A".
Esta quinta-feira, o Instituto de Saúde Baseado na Evidência, da Faculdade de Medicina de Lisboa, revelou que as publicações biomédicas iniciais sobre a covid-19 apresentam problemas de qualidade. Entre Janeiro e Setembro de 2020, foram publicados 84 mil artigos. "Apenas 15% ou menos vêm alguma vez a ser publicados em revistas científicas", pode ler-se.
À RUM, a virologista explica que segundo critérios "normais" utilizados no passado, cada trabalho "iria demorar cerca de seis meses até ser publicado". Isto, na opinião da especialista, iria retrair o avanço científico em relação à Covid-19.
No entanto, não esconde que existe um lado negativo. "As coisas são publicadas antes de serem revistas ou avaliadas por pares. Há coisas muito boas e coisas muito más a serem publicadas em simultâneo, o que torna todo o processo mais difícil", declara.
Já em relação às normas orientadoras da Organização Mundial de Saúde, do Centro Europeu para a Prevenção e Controlo de Doenças e dos próprios Governos, Maria João Amorim lembra que no caso do SARS-COV-1 os especialistas sabiam que o vírus "só começava a ser transmitido depois dos primeiros sintomas". Logo, não seria necessário utilizar máscara, pois aos primeiros sintomas os cidadãos deveriam permanecer em casa.
A virologista confessa que o processo foi "demorado", mas o certo é que com o SARS-COV-2 é possível ser veículo de transmissão do vírus, mesmo sendo assintomático. Em relação às mais recentes polémicas sobre as máscaras de proteção, a virologia alerta que as máscaras servem principalmente para proteger os outros de serem infetados.
O II Simpósio em Bioquímica Aplicada da Universidade do Minho vai estender-se até às 19h00.
O Simpósio vai lançar um livro de resumos com os melhores trabalhos científicos dos estudantes do mestrado em bioquímica. Os três melhores serão apresentados durante o dia de hoje por Catarina Medeiros da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Tomás Werner da Universidade do Minho e Paulo César-Silva da Universidade do Minho, mais propriamente do CBMA.