Cultura 12.04.2025 12H32
Prémio Vítor Aguiar e Silva entregue a "um dos nomes maiores da poesia portuguesa"
Fernando Guimarães recebeu, esta sexta-feira, o prémio atribuído pela Associação Portuguesa de Escritores e pela Câmara de Braga, reconhecendo que esta distinção representa "o interesse que se pode ter pela poesia".
“É, sem grandes dúvidas, um dos nomes maiores da poesia portuguesa e, do meu ponto de vista, o maior poeta português vivo”. As palavras de José Manuel Mendes, presidente da Associação Portuguesa de Escritores (APE) descrevem Fernando Guimarães, poeta que, ontem, recebeu o Prémio Vida Literária Vítor Aguiar e Silva.
O júri foi unânime na escolha e, de acordo com José Manuel Mendes, “com a plena consciência da justiça que representava uma tal escolha”. O prémio, no valor de 20 mil euros, homenageia “um mestre incomparável e uma figura nuclear da cultura portuguesa e não apenas da literatura”.
Aos 97 anos, Fernando Guimarães recebe a distinção da Associação Portuguesa de Escritores e da Câmara Municipal de Braga. Estreou-se em 1956 e publicou duas dezenas de coletâneas. O percurso, evidenciou o presidente da APE, tem sido “fiel a opções muito claras desde o início”. “Estamos no centro de uma personalidade que, tendo elaborado uma obra poética a muitos níveis, não só desafiadora como claramente futurível, se situa no espaço das nossas leituras diletas, dos nossos reencontros sucessivos”, acrescentou, dando nota da “poesia singular” que caracteriza o premiado.
“Um prémio literário representa, sobretudo, o interesse que se pode ter pela poesia. Quer dizer, ele chama, sobretudo, a atenção para a poesia e é essa a importância dele”, disse Fernando Guimarães. O escritor evidenciou ainda o facto de lhe ser atribuído um prémio com o nome de Vítor Aguiar e Silva, “uma pessoa que dedicou ao estudo da literatura portuguesa uma atenção prodigiosa”. “Tudo isso me honra muito”, frisou.
Fernando Guimarães
Embora reconheça que a poesia, “no século XIX, era apreciada por “um público relativamente vasto”, Fernando Guimarães sublinha que nesse tempo havia “eram poucos, mas eram quase todos os que se interessavam pela poesia”. “Hoje, os leitores são múltiplos e, portanto, os interesses também são diferentes e múltiplos. A poesia, por vezes, não tem aquele acolhimento que, por exemplo, poderia ter no século XVI, nas cortes, e que aparece nos cancioneiros. Estamos, portanto, num tempo do romantismo. Agora, as preocupações talvez sejam muito orientadas para uma dimensão tecnológica da comunicação e a poesia talvez tenha recuado quanto ao número de leitores”, admitiu. Ainda assim, Fernando Guimarães olha para a poesia como “uma linguagem”, que “tem uma importância muito grande”, desde logo porque se associa à comunicação.
Para o presidente da Câmara, Ricardo Rio, o Prémio Vida Literário Vítor Aguiar e Silva “não deve ser felicitado”, porque “é um gesto de gratidão que se realiza publicamente perante um autor que acaba por ser merecedor deste tributo”. “Nós temos procurado, através das mais diversas formas, estimular o gosto pela leitura, o gosto pela literatura, desde tenra idade, com a intervenção que vamos fazendo pelas escolas. Esse trabalho é absolutamente fundamental para sermos uma cidade mais desenvolvida e com outro patamar, obviamente, de capacitação das suas pessoas, dos seus cidadãos, com os benefícios que isso traz para todas as dinâmicas, sejam elas culturais, sociais, económicas ou outras que uma cidade pode ter”, finalizou.
Nas anteriores edições, foram distinguidos, com este mesmo prémio, João Barrento e Lídia Jorge, mas também Miguel Torga, Sophia de Mello Breyner Andresen, José Saramago, Óscar Lopes, José Cardoso Pires, Eugénio de Andrade, Urbano Tavares Rodrigues, Mário Cesariny de Vasconcelos, Vítor Aguiar e Silva, Maria Helena da Rocha Pereira, João Rui de Sousa, Maria Velho da Costa, Manuel Alegre.