Quase metade dos doentes que recorrem à urgência do Hosp.Braga ficam com pulseira verde ou azul

O número de doentes pouco ou não urgentes que se dirigem à urgência do Hospital de Braga está a limitar o trabalho dos profissionais de saúde e pode colocar em causa o atendimento de pessoas que necessitam efetivamente de ir ao serviço. O cenário foi descrito pelo diretor dessa valência no programa ‘A Saúde Tem Voz’, emitido no domingo.
Este ano, até outubro, 45,4% das 158.644 pessoas que se deslocaram à urgência do Hospital de Braga foram triadas com pulseira verde ou azul, ou seja, com o cariz de pouco ou não urgente, respetivamente, próximo dos 46% registados no ano passado.
Falando de um valor “muito significativo”, Arnaldo Pires alerta para a importância de “reduzir a quantidade de doentes que recorrem às urgências hospitalares sem necessidade”. O diretor do serviço explica que esse cenário “acarreta uma sobrecarga do sistema de saúde, com os médicos e enfermeiros a serem alocados para doentes que poderiam ser observados noutros contextos, nomeadamente em centros de saúde”, e faz com que “não haja capacidade de resposta para aqueles doentes que realmente precisam de ir ao hospital”.
Recordando a altura mais delicada da pandemia, em que houve um “decréscimo significativo” no número global de atendimentos – de 2019 para 2020 foram menos 45 mil -, Arnaldo Pires considera que “as pessoas já perderam um bocadinho o medo”.
“Nesse período foi implementada a cultura de só ir à urgência em caso de necessidade extrema, de acordo com a Linha SNS 24 ou se fosse o médico de família a referenciar. Achávamos que que íamos mudar completamente a forma de atuar, mas a verdade é que agora as pessoas se estão a esquecer do que foi ensinado”, lamenta.
Sobrecarga também se reflete nos centros de saúde
O presidente do Conselho Clínico e de Saúde do ACES Cávado I – Braga também participou no programa deste domingo. Rui Macedo refere que “a pressão que se sente nos serviços de urgência dos hospitais também se verifica nos centros de saúde”.
De tal forma que, neste momento, explica, a estrutura que representa tem “acionado o segundo de três níveis de um plano de contingência para dar resposta à procura de consulta urgentes, de consultas abertas”. Esse patamar prevê um aumento desse tipo de consulta entre 42% e 50%.
Dando exemplos, o diretor do Serviço de Urgência, Arnaldo Pires, aconselha a ida ao hospital “a partir do momento em que existe falta de ar, dificuldade em completar palavras e em dizer o que sente, quando a febre persiste mesmo após a tomada do antipiréticos – Ben-u-ron ou Brufen -, apresentam tensões baixas ou quando afeta doentes imunossuprimidos ou doentes submetidos a oxigénio de longa duração”.
Por outro lado, “sintomas muito ligeiros como a dor de garganta, a febre que começou naquele dia, uma tosse seca sem outras queixas associadas ou alterações no débito urinário” recomendam uma chamada para a Linha SNS 24 e, se persistirem, a deslocação ao centro de saúde.
