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Laurinda Leite (Foto: Ariana Azevedo / RUM)
Ariana Azevedo

Academia 30.06.2025 19H19

Reforma Curricular transforma ensino básico na Guiné-Bissau com apoio científico da UMinho

Escrito por Ariana Azevedo
A coordenadora científica do projeto RECEB, Laurinda Leite, esteve à conversa com a RUM no programa UMinho I&D. Manuais, audioaulas, tablets e formação contínua estão a transformar a realidade nas salas de aula daquele país africano.
A coordenadora científica do projeto RECEB, Laurinda Leite, esteve no UMinho I&D:

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Corria o ano de 2015 quando a Reforma Curricular do Ensino Básico da Guiné-Bissau (RECEB) arrancou. O projeto, que começou praticamente do zero, está a mudar o panorama educativo do país. Promovido pelo Ministério da Educação guineense, com apoio de instituições como o Banco Mundial, a UNICEF e a Fundação Calouste Gulbenkian, conta com o apoio científico da Universidade do Minho desde o início.


Laurinda Leite, do Centro de Investigação em Educação da UMinho, é a coordenadora científica do projeto, que já levou manuais escolares, guias pedagógicos e materiais didáticos a milhares de salas de aula. Em 2025, o novo currículo foi finalmente alargado a todas as escolas públicas da Guiné-Bissau.


"Quando começámos, há dez anos, não havia praticamente nada. Os professores trabalhavam com tópicos soltos de programas dos anos 90, sem manuais, sem guias e, na maioria dos casos, sem acesso à internet. Ensinar era um exercício de improviso constante", recorda a docente, em entrevista ao UMinho I&D. 


Além do currículo reformulado, o projeto desenvolveu audioaulas e materiais em suporte digital, integrados numa aplicação Android offline, criada por um ex-aluno da UMinho, e instalada em mais de seis mil tablets distribuídos aos professores. "Não podíamos simplesmente entregar 400 ou 500 ficheiros soltos. Era essencial garantir que o acesso fosse simples, estruturado e que os conteúdos não se perdessem nem fossem apagados acidentalmente", explica a coordenadora do RECEB. 


As audioaulas, inicialmente previstas para gravação na Guiné-Bissau, estão a ser gravadas nos estúdios da RUM, com recurso a vozes de estudantes guineenses que frequentam a Universidade do Minho. Esta é uma ferramenta que "além de ajudar os alunos, se torna numa ferramenta preciosa para os professores na preparação das suas aulas", assume Laurinda Leite, acrescentando que alguns professores "enfrentavam dificuldades sérias com a pronúncia correta, concordância de género e número, e até com a leitura em português. Muitas dessas questões resultam da influência do crioulo e de outras línguas nacionais, onde essas regras gramaticais simplesmente não existem". 


Aposta na formação de professores é marca do projeto


Outro pilar do projeto é a formação contínua de professores, que integra duas frentes: uma de natureza pedagógica, para promover metodologias de ensino mais eficazes, e outra de formação científica, centrada nas áreas de Língua Portuguesa, Matemática e Meio Físico e Social. A coordenadora do RECEB vinca que há "muitos professores que não têm formação de base ou estão afastados dos conteúdos há décadas. Dizem-nos, por exemplo: ‘Estudei geometria, mas nunca mais ensinei, esqueci tudo’. E é isso que estamos a tentar recuperar. A formação é fundamental, embora saibamos que o que fazemos é ainda, em muitos casos, um ‘penso rápido’ face à dimensão do problema."


Além do ensino regular, o projeto inclui também um programa de educação acelerada para alunos em atraso escolar, cuja primeira fase já está em implementação. A segunda fase está a ser preparada para o próximo ano.

Nos meses que se seguem, será também revista a educação pré-escolar e arrancará o novo currículo do segundo ciclo do ensino básico, que incluirá disciplinas inovadoras como História e Geografia da Guiné-Bissau e uma língua estrangeira.


Questionada sobre as mudanças já visíveis no terreno, Laurinda Leite destaca o impacto direto que a introdução dos manuais escolares teve nas escolas e nas comunidades. "As crianças, só por terem manuais, ficam felizes. Não tinham nada", sublinha. 


O impacto real do projeto começa a perceber-se nas salas de aula: há uma procura cada vez maior de alunos nas escolas de Bissau. 


A entrevista completa de Laurinda Leite ao UMinho I&D está disponível em podcast



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