Academia 15.04.2025 15H32
Saúde mental. Estamos atentos aos colegas que nos rodeiam? Podemos ajudar?
Pedro Morgado e Carlos Almeida, os convidados do segundo episódio do UMIND, o podcast da UMinho dedicado à saúde mental e bem-estar que passa na RUM uma vez por mês.
Falar de saúde mental é importante e pode ser determinante para ajudar os nossos jovens estudantes. A Universidade do Minho (UMinho) já tem um plano, mas é “urgente falarmos de bem-estar e saúde mental”. No 2º Episódio do podcast UMIND que foi para o ar esta segunda-feira na RUM e que já podes escutar online, abordamos o que tem sido feito na UMinho em matéria de saúde mental e bem-estar, algumas particularidades de quem solicita apoio, mas também a missão que a instituição está a levar a cabo com o objetivo de chegar aos jovens antes que estes necessitem de solicitar algum tipo de apoio.
No entanto, não podemos esquecer outro aspeto importante: Tu, que és estudante da UMinho e estás a ler esta notícia, já paraste para pensar e refletir sobre os colegas que te rodeiam e que partilham a mesma sala de aula? Vês algum colega mais isolado, que não convive com os restantes, que transmite alguma ideia de solidão e de isolamento? Já procuraste falar com ele? Já o desafiaste a almoçar com o teu grupo ou a tomar um café? Por vezes a nossa atitude pode fazer toda a diferença.
A nossa atitude pode fazer toda a diferença
“É preciso monitorizar, informar, informar, informar e ter depois uma estrutura para acompanhar os estudantes que podem necessitar de diferentes níveis de intervenção”. Esta é a primeira mensagem de Pedro Morgado. Psiquiatra, professor na Escola de Medicina da Universidade do Minho e investigador.
Começamos nos psicólogos clínicos e podemos seguir até à referenciação para estruturas mais concretas. Na UMinho, o primeiro ponto de referência são os Serviços de Ação Social. Se és estudante e tens preocupações que te atormentam, procura ajuda. Se és colega de um estudante que consideras que precisa de ajuda, também tu podes fazer a diferença.
As situações são diversas. No caso da UMinho, de acordo com casos monitorizados, a maioria das situações está relacionada com estudantes deslocados, estudantes com dificuldades económicas e de habitação, começa por revelar Carlos Almeida, diretor do departamento de Ação Social.
A fase de entrada na idade adulta, que quase sempre coincide com a entrada no ensino superior, de descoberta da própria identidade, traz desafios acrescidos. “É propícia a que seja mais difícil experienciar algumas emoções, mais complicado lidar com algumas dificuldades e é também uma idade em que surgem também a maior parte das doenças psiquiátricas”, alerta Pedro Morgado, daí que o psiquiatra considere “urgente” monitorizar níveis de sofrimento e de doença, com áreas “com mais expressão de sofrimento e de doença”.
Carlos Almeida ressalva a preocupação da academia minhota nesta matéria. Segundo o responsável, “a maior parte das vezes é o estudante que procura esta ajuda junto dos SASUM”, mas exige-se uma intervenção “mais preventiva, que procure evitar o surgimento de determinados problemas”. O responsável assinala, na transição para o mundo académico, outras questões, nomeadamente a saída do ambiente familiar, sobretudo no caso de alunos deslocados. Por isso, há que intervir “logo no acolhimento” que pode ser “determinante”. É também uma missão para a UMinho e para os colegas. “Temos de apostar muito na literacia em saúde mental e bem estar. Informar sobre o que são condições que concorrem com o seu bem estar, seja na alimentação saudável como na atividade física, aliando condições para o alcance do sucesso escolar", explica.
Numa sociedade que vive de forma cada vez mais isolada, o desafio torna-se ainda mais complexo. Aliás, Pedro Morgado lembra que “o grande desafio do nosso tempo” está aqui. “A pandemia fez com que as pessoas passassem mais tempo em casa. O pós-pandemia não recuperou o tempo que as pessoas antes passavam fora de casa. Temos vindo a reduzir o tempo que passamos fora de casa, temos vindo a aumentar o tempo que passamos à volta de dispositivos eletrónicos, a comunicar com pessoas mediados por aparelhos tecnológicos, e isto tem custos muito elevados na nossa saúde mental”, sustenta o especialista. Menos convivência presencial significa “menos laços” que “não dão conforto em momentos de dificuldade”.
Os estudantes precisam de saber a que porta vão bater numa situação de dificuldade. Mas a UMinho também pode apostar na adoção de comportamentos mais saudáveis, prevenindo estados de doença.
Estudantes deslocados são os que mais solicitam apoio, mas é importante que saibas que "nunca é tarde para procurar ajuda”
Ainda de acordo com o diretor do departamento de ação social dos SASUM, as solicitações surgem, na sua maioria, de estudantes em situação de deslocados. Trata-se da transição para uma situação nova e muitas vezes com dificuldades acrescidas, nomeadamente económicas e de habitação. Pedro Morgado corrobora, notando que “quanto mais fatores adversos maior a probabilidade de a pessoa adoecer”.
Além disso, é recorrente que as pessoas se encontrem numa situação de sofrimento e não se apercebam de forma atempada. “É muito comum, seja porque não nos apercebemos que ja não é o sofrimento normal, seja porque temos vergonha, seja porque há um juízo social que ainda é negativo". “Todos estes fatores levam a que muitas vezes, demasiadas vezes, se vá adiando o recurso a um profissional e isto vai ter custos, apesar de nunca ser tarde para procurar ajuda”, explica.
O psiquiatra refere também que nem todas as situações exigem uma consulta individual e nalgumas circunstâncias esse trabalho pode ser desenvolvido em grupo. “A consulta individualizada não é o único modelo de apoio. Temos vindo a fazer um esforço para diversificar as respostas, nomeadamente a intervenção em grupo, apoio na definição de modelos de estudo e preparação, questões relacionadas com a alimentação e na própria organização dos espaços", provoncando situações de convívio.
Nessa medida, a UMinho, além de outros apoios que presta, está a apostar na melhoria das condições que oferece, nomeadamente nas residências universitárias, através de espaços de convívio e de partilha, seja nas atuais como nas futuras residências em Braga e Guimarães. Uma cozinha comunitária e uma sala de estar na residência de Azurém é um dos exemplos recentes.
Uma vida mais partilhada. Precisamos de conviver mais na UMinho
Mas Pedro Morgado considera também que o plano da UMinho “é muito bom mas pouco ambicioso”, assinalando que há competências transversais que devem ser trabalhadas na própria formação, independentemente do curso. A acrescer a isso, “há muitos aspetos que estão para lá de um consulta”, nomeadamente dando atenção a questões como o tempo que passamos nas viagens entre a universidade e a nossa residência, por exemplo.
Resumindo: “Não deixemos de falar sobre aquilo que nos atormenta” é o conselho de Pedro Morgado
“Cultivar a saúde mental todos os dias é saber que dela faz parte, às vezes sentirmo-nos felizes, às vezes sentirmo-nos tristes, às vezes sentirmo-nos ansiosos. Mas quando a tristeza, a angústia, a ansiedade têm uma dimensão tão grande que tem um impacto no nosso dia a dia, nas nossas relações, vale a pena pararmos e falarmos com alguém. Pode ser um amigo, um colega e a seguir esse alguém deve ser um profissional que perceba de saúde mental. A mensagem é: não deixemos de falar sobre aquilo que nos atormenta”, aconselha.
Carlos Almeida sublinha que cada estudante que pretenda deve aceder ao gov.pt para solicitar os cheques psicologia ou jnutricao. Ainda assim, os SASUM estão presentes na residência universitária de Azurém com atendimento em psicologia clinica e psicologia da educação, além da intervenção em grupo, assim como no campus de Gualtar. Podes saber mais sobre as respostas da UMinho aqui