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Fotografia: José Brás/ RUM
José Brás

Regional 14.09.2025 10H19

Semana Santa de Braga é "sustentável", mas há espaço para melhorar

Escrito por José Brás
Ponderados os resultados para os 300 mil visitantes da Semana Santa 2025, a pegada carbónica por visitante, por dia, “ronda os 27,3 kg de CO2 e as emissões totais da Semana Santa ascendem às 8.183 toneladas de CO2”.
Palavras de Luís Filipe Silva, cofundador da Mossgreen, e de Avelino Marques Amorim, cónego e presidente da Comissão Organizadora da Semana Santa, a propósito do estudo de impacto ambiental:

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A Semana Santa de Braga “é mais sustentável que um festival de música ou um único jogo de futebol do Mundial”. O carro, que é o meio de transporte predileto dos visitantes da festividade religiosa, e os turistas são as variáveis que mais contribuem para o impacto ambiental do evento religioso que se estende ao longo da última semana da quaresma. Os resultados do estudo que foca o impacto ambiental da Semana Santa de Braga foram apresentados esta semana na Sala do Serviço Educativo do Tesouro-Museu da Sé de Braga.


De acordo com Luís Filipe Silva, cofundador da Mossgreen, a consultora ambiental bracarense responsável pelo estudo, “a grande maioria dos visitantes, 57%, usa o carro particular, sendo que o uso do autocarro e da camioneta também têm algum destaque”. Em menor escala fica o comboio com “12% dos visitantes a usarem este meio de transporte”.


A par destas conclusões, o consultor revelou também que os turistas, ainda que só representem 5% do total de visitantes, são quem mais contribui para a pegada ecológica da festividade. “A realidade é que 14 mil turistas geram mais emissões de carbono do que 286 mil residentes e excursionistas combinados”, sublinha.


Considerados outros fatores como o consumo de água e a produção de resíduos sólidos, uso de papel e vidro, o impacto da celebração “não sendo residual”, também “não assume uma grande relevância”.


Ponderados os resultados para os 300 mil visitantes da Semana Santa 2025, a pegada carbónica por visitante, por dia, “ronda os 27,3 kg de CO2 e as emissões totais da Semana Santa ascendem às 8.183 toneladas de CO2”. Quando comparados com valores de outros eventos de larga escala, a Semana Santa “é um evento que tem um impacto comparativamente mais baixo”, revela o consultor.


Sabemos hoje que um jogo mundial de futebol consegue emitir entre 44 mil e 72 mil toneladas de CO2. Temos o caso do Festival Boom que recebe apenas 40 mil visitantes e tem um impacto de 8.616 toneladas de CO2.


Segundo Luís Filipe Silva, isto só é possível porque a Semana Santa de Braga tem um “forte carácter local”, os visitantes “apresentam um consumo moderado” e não existe “uma infraestrutura temporária e excedentes energéticos assinaláveis”.


"Este evento é muito inovador, por isso, é difícil compará-lo com outros eventos. No entanto, naquilo que existe disponível, tanto a nível de relatórios e estudos internacionais, a Semana Santa é muito mais sustentável que muitos festivais de música, que um jogo de futebol do Mundial. Podemos dizer até, pelo padrão de consumo e as características dos próprios visitantes, que este evento tem uma pegada comparativamente inferior a outros eventos", sublinha.


Recomendações passam pela reformulação da comunicação e o incentivo ao uso do transporte público


Tendo em conta que o transporte, em especial o uso do automóvel, representa 75% da pegada ecológica da Semana Santa, a principal recomendação assinalada pelo estudo foca-se no uso do transporte público. Este fator é especialmente notável se for tido em conta que “uma boa parte percentagem dos visitantes da Semana Santa tem origem num corredor litoral” que vai da Corunha até Lisboa, colocando assim o uso do comboio como “uma via para mitigar alguns dos impactos da Semana Santa”.


Para além do estabelecimento de um protocolo com a CP, Luís Filipe Silva acredita que “parceria com os TUB poderia ser reforçada caso fosse possível privilegiar os autocarros elétricos nos interfaces”.


No que toca à comunicação, “é importante que haja a consciência de que se a comunicação para os públicos estrangeiros aumenta, a pegada ecológica da Semana Santa também aumenta, exponencialmente”, por isso, é preferível “focar a comunicação nos públicos nacionais e regionais”, sublinha o consultor.


Comissão organizadora com "consciência" da sua pegada ambiental


Para o cónego e presidente da Comissão organizadora da Semana Santa, Avelino Marques Amorim, estes valores não são uma novidade até porque “sendo a Semana Santa um evento religioso, à partida,a pegada ambiental seria menor”.


Esta convicção não impede, contudo, a comissão organizadora de perceber “os pontos onde pode melhorar”.

“Há aqui alguns aspectos onde podemos melhorar, nomeadamente na colaboração com as instituições locais. Há também estas sugestões de podermos ter iniciativas compensatórias, porque o ideal seria a pegada zero. E queremos caminhar pelo menos o mais próximo desse objetivo”, garante o pároco.


Mais do que agir sobre “dados imaginados” ou ter “apenas uma hipótese”, o objetivo deste estudo é “dar uma percepção muito real do que a Semana Santa causa”, remata.

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