'Concerto' é o nome da mais recente criação do investigador Tiago Cadete e tem como base uma plateia vazia a servir de palco para 20 caixas de som que difundem múltiplas vozes de migrantes latino-americanos que vivem na Península Ibérica.

O espetáculo, que "desafia um olhar crítico sobre a relação histórica entre Portugal, Espanha e a América Latina", será apresentado no Theatro Circo esta sexta-feira, em dose dupla, às 19h30 e às 22h00.

Aos microfones da RUM, o criador conta que o projeto nasceu ao abrigo do programa europeu 'Stronger Peripheries: A Southern Coalition', sob o lema 'having a voice', e que parte de um conjunto de testemunhos de migrantes latino-americanos que vivem nos dois países.

'Concerto' coloca o público no palco do Theatro Circo para escutar ao que Tiago Cadete apelida de um "concerto fantasmagórico de vozes". "Neste espetáculo as pessoas podem escutar essas perceções, interpretações e visões sobre a migração, mas com esta particularidade: as pessoas não estão nem palco, nem na plateia, são as vozes delas que formam este conjunto, este ensemble, de alguma forma", explica.

História, memória, identidade e migração são algumas das temáticas que Tiago Cadete tem vindo a trabalhar ao longo dos últimos anos. A partir de questões como "Quem são os novos migrantes?" e "Que desejos têm quando migram para o país que os colonizou?", o projeto, que assume o formato de uma instalação de grande escala, convida a refletir sobre a migração.

Tiago Cadete, que foi migrante no Brasil durante quase 10 anos, revela que, apesar de já ter abordado a questão brasileira em trabalhos anteriores, ou seja, "os migrantes portugueses no Brasil e os migrantes brasileiros em Portugal", ainda não tinha trabalhado esta nova perspetiva até surgir a oportunidade com o projeto europeu.

"O projeto tinha dois parceiros, Espanha e Portugal, e eu pensei que, sendo estes dois países, de alguma forma, os principais agentes de colonização da América Latina, seria interessante pensar esses migrantes latino-americanos a viverem nestes dois países e que referências e observações trazem", esclarece.

Para Tiago Cadete trata-se de uma "oportunidade única", porque além do espetáculo refletir sobre um tema "tão importante na contemporaneidade", o público poderá escutar "o que é que essas pessoas têm a dizer sobre o seu processo migratório".