Academia 20.07.2023 21H00
Zona entre a Póvoa de Varzim e Caminha pode vir a ser considerada área marinha protegida
Investigadores do projeto "Atlântida" descobriram meia centena de espécies ao largo de Viana do Castelo.
A zona entre a Póvoa de Varzim e Caminha pode vir a ser considerada área marinha protegida. Graças ao projeto “Atlântida”, coordenado pelo CIIMAR, da Universidade do Porto, e que conta com a colaboração da Universidade do Minho e da Universidade de Trás-Os-Montes e Alto Douro, foram identificadas mais de 200 espécies, algumas das quais eram conhecidas apenas na Galiza ou no sul de Portugal.
Em entrevista ao UMinho I&D, o coordenador do projeto da parte do CBMA – Centro de Biologia Molecular e Ambiental da UMinho, Pedro Gomes, adianta que foram identificados, numa frente com mais de 20 quilómetros, esponjas de profundidade, populações de gorgónias bem conservadas e corais duros que geralmente só ocorrem a maiores profundidades nunca antes inventariados.
Alguns dos registos conhecidos neste âmbito ao largo de Viana do Castelo têm mais de um século e resultam de capturas acidentais, logo não estão atualizados nem indicam a distribuição, o estado das populações e a sua importância no ecossistema, nomeadamente como habitat para os recursos pesqueiros.
"Temos realmente aqui um espaço que tem surpreendido especialistas na área com quem nós trabalhamos e que não estavam a contar que nós tivéssemos este espaço relativamente bem preservado na nossa costa", diz.
A pesca de arrastão continua a ser o principal inimigo da biodiversidade marinha. A equipa identificou espécies da família dos corais de crescimento lento, ou seja, em 50 anos cresceram 50 centímetros. Ora, o investigador fala na necessidade de encontrar um "equilíbrio", ou seja, trabalhar com os pescadores no sentido de sensibilizar e não proibir, pois caso contrário poderá ter efeitos contrários.
"Os pescadores têm de entender que realmente aquilo é importante para eles, que se os fundos tiverem qualidade eles vão ter mais peixe. São locais de criação, são berçários, são zonas de abrigo, são zonas de alimentação,
portanto, se os fundos estiverem em condições, nós temos mais estoque de peixe", explica.
Em 2022, o reitor da Universidade do Minho referiu que estaria para breve a instalação do Instituto Multidisciplinar de Ciência e Tecnologia Marinha, na Estação Radionaval da Apúlia, contudo, até ao momento nada foi concretizado. O investigador do CBMA acredita que este polo poderia fazer a diferença para dar continuidade a este trabalho. Outra das necessidades passa por uma embarcação.
Entre 2021/2023, foram realizados mais de 200 mergulhos, na zona da Póvoa de Varzim até Caminha, o que equivale a cerca de 500 horas no mar.
O projeto “Atlântida” é financiado pelo Programa Norte2020. Em paralelo, o CBMA está a dinamizar o projeto “River2Ocean”, que visa apresentar soluções socioecológicas e biotecnológicas para a conservação e valorização da biodiversidade aquática na região do Minho.