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Vanessa Batista

Academia 29.04.2021 20H50

1º estudo clínico sobre perturbações obsessivo-compulsivas é da UMinho

Escrito por Vanessa Batista
Investigação estará a cargo do investigador Pedro Morgado, vencedor do FLAD Science Award Mental Health no valor de 300 mil euros.

A Universidade do Minho é a primeira instituição no mundo a realizar um estudo clínico para testar a eficácia de um novo fármaco (pramipexole) para doentes com perturbação obsessivo-compulsiva. A garantia é deixada aos microfones do UMinho I&D por Pedro Morgado, ele que é o primeiro vencedor do FLAD Science Award Mental Health.


"É algo pioneiro no país e a nível internacional ainda nenhum ensaio foi concluído", começa por explicar o investigador do Instituto de Ciências da Vida e da Saúde (ICVS) da Escola de Medicina da Universidade do Minho. Neste momento, há conhecimento de uma breve experiência no Reino Unido, em que foi realizada "uma única administração do fármaco" e "observado" os efeitos quer no cérebro do doente com a patologia quer nas pessoas que reportavam melhoria dos sintomas.


Este é um passo importante para a medicina a nível mundial, visto que 50% dos pacientes com doença obsessivo-compulsiva demonstra resistência aos tratamentos convencionais com recurso a antidepressivos.



O que são as perturbações obsessivo-compulsivas (POC)? 


A perturbação obsessivo-compulsiva é uma doença psiquiátrica que atinge cerca de 4% da população em Portugal. Esta patologia é caracterizada por "obsessões" que passam por "pensamentos intrusivos, ou seja, que aparecem no cérebro contra a sua vontade e que porque são contraditórios à sua natureza provocam um intenso sofrimento e ansiedade".


Por outro lado, existem as chamadas "compulsões" caraterizadas pela adoção de "comportamentos repetitivos e que não têm outra função que não aliviar o sofrimento provocado pelas obsessões". A título de exemplo, uma constante necessidade de limpar ou lavar as mãos, evitar números pares ou ímpares ou obrigatoriedade de ter objetos numa determinada ordem. Estes podem ser os principais sinais de alerta da patologia.


As POC foram introduzidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) na lista das dez condições mais debilitantes em todo o mundo.


As perturbações obsessivo-compulsivas são hereditárias?


Segundo o investigador Pedro Morgado não existem dados suficientes que permitam perceber se esta é uma patologia que nasce com as pessoas ou surge fruto do stress do stress crónico e infeções ao longo da vida.


A genética é "um fator de risco moderado", uma vez que existem famílias em que a doença está mais presente que em outras, mas ainda não conseguimos identificar um gene ou uma alteração no cérebro das pessoas que permita dizer que uma pessoa vai ter a doença e outra não".


Recorde-se que o investigador da UMinho e psiquiatra no Hospital de Braga vai receber 300 mil euros, na sequência do prémio FLAD Science Award Mental Health. Nos próximos três anos, a equipa vai acompanhar 100 pessoas com a patologia e realizar um estudo clínico com 50 pessoas.


De realçar que as POC coexistem por diversas vezes com outras doenças como a depressão. Pedro Morgado declara que esta é uma das patologias que mais complica o tratamento destas perturbações. Contudo, perturbações de ansiedade e pânico também estão ligadas às POC, o que as torna ainda mais “incapacitantes” e aumenta o nível de “sofrimento” dos pacientes.


“O Serviço Nacional de Saúde (SNS) tem de investir para fornecer melhores respostas”.


Esta é a posição do investigador em relação à resposta do SNS às perturbações do foro psicológico e psiquiátrico. “Toda a organização do SNS está feita a pensar, também do ponto de vista do financiamento, nas outras especialidades. Precisamos de montar melhores respostas”, afirma.


O psiquiatra confessa que estão a ser dados alguns passos no sentido de criar “equipas multidisciplinares em maior ligação com os cuidados primários”, contudo é necessário que a sociedade seja “mais exigente com os decisores políticos”. Para Pedro Morgado a “sociedade está adormecida” em relação às doenças psiquiátricas.

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