Regional 04.11.2021 07H00
Publicidade aos centros comerciais de 1.ª geração agrada a lojistas mas "não resolve" problemas
Campanha lançada pela Câmara Municipal e Associação Empresarial de Braga agrada aos lojistas destes centros comerciais, mas a medida parece não ser suficiente para a maioria dos comerciantes.
O primeiro centro comercial, chamado Centro Comercial Avenida, abriu portas, no coração da cidade de Braga, em 1995. Na época, assistia-se a uma revolução no comércio.
Mais de 25 anos depois, estes espaços estão praticamente vazios, sem lojistas e clientes. A maioria, dizem alguns dos comerciantes, são clientes fiéis, já antigos e que conhecem bem a loja. Clientes novos são escassos.
Na tentativa de atrair mais pessoas a estes centros comerciais de primeira geração, a Câmara Municipal e a Associação Empresarial de Braga (AEB) lançaram uma nova campanha. Chama-se 'Reencontro' e pretende dinamizar o Centro Comercial dos Granjinhos, Avenida, Gold Center, São Lázaro, Rechicho e Santa Bárbara, com descontos, animação cultural dentro dos edifícios e publicidade nas ruas.
A RUM foi perceber o que pensam os lojistas desta iniciativa. A nossa primeira paragem foi no Centro Comercial Santa Bárbara, na loja de Conceição Pereira, dedicada há 13 anos, sobretudo, à venda de roupa para cerimónia. Esta comericante diz que a campanha "é uma ajuda, mas não vai atrair mais gente", porque há vários problemas que têm que ser solucionados primeiro. Desde logo, o estacionamento, que, nas redondezas, diz Conceição, "é caro". A lojista tem já uma solução: um estacionamento a preços acessíveis nos rés-do-chão deste edifício, que está totalmente desocupado. "As administrações deixaram morrer os centros comerciais, nao investiram em infraestruturas, como elevadores ou escadas rolantes", lamenta Conceição Pereira, lembrando que o Santa Bárbara não tem acessos para pessoas com mobilidade reduzida.
Logo ao lado, Anabela Ferreira acolhe a medida com entusiasmo. Embora reconheça que pode "não ser o suficiente, vai ajudar, porque as pessoas acabam por vir mais e acabam por entrar nas lojas, que é o que faz falta".
Seguimos pela cidade até ao Gold Center. Mário Alves tem uma ourivesaria no primeiro piso, há 35 anos. Os clientes são os de sempre e, por isso, não se queixa do negócios. "Estas iniciativas ajudam sempre, mas não resolvem de todo", afirma. O tamanho do edifício leva o comerciante a estranhar a ideia dos espetáculos, mas agradece a publicidade, que é sempre uma ajuda. Mário Alves faz ainda críticas à administração, que "deixa muito a desejar". "Não zela pelo interesse dos lojistas, nem decoração de Natal colocam e isso mexe com o comércio", referiu ainda.
Ana Linhares tem há 30 anos a Loja das Surpresas, no último piso do Rechicho. "Era ótimo, é uma ajuda imensa para os lojistas", disse em relação à campanha. Ana deixa ainda outras sugestões: pintar o centro comercial e modernizar a entrada. Os clientes são os de sempre, embora entre gente nova, que, muitas vezes, são os filhos ou netos de clientes antigos. "Entram, compram e saem, não vão dar mais volta nenhuma. Este não é um centro comercial para as famílias verem as montras, porque infelizmente também não há muitas".
Ana Linhares já pensou mudar-se para outro local da cidade, mas o valor das rendas não a permite dar esse passo. Enquanto no centro comercial paga cerca de 300 euros mensais, numa loja de rua pagaria à volta dos dois mil. O mesmo acontece com Conceição Pereira, que paga 500 euros de renda no centro comercial Santa Bárbara, e com Camila Carvalho, florista há 15 anos no Rechicho. Embora também tenha morada no último piso deste centro comercial o negócio corre-lhe bem. Os lojistas destes espaços, diz Camila, merecem a ajuda da autarquia e AEB, que já havia promovido uma formação, em 2019, "que correu muito bem".
"A cidade não tem só os centros comerciais grande, também tem os pequenos que precisam de trabalhar", reforçou. Também neste edíficio os acessos a pessoas com mobilidade reduzida falham, nomeadamente nas casas de banho, e o estacionamento é outra dor de cabeça.
Voltamos ao Gold Center. Micaela Dourada trabalha numa loja de cosmética há dois anos e as ideias associadas ao Reencontro parecem-lhe "muito bem", porque o shopping "não tem dinamização nenhuma e assim vinha mais gente". "Eu não conhecia este shopping antes de vir trabalhar para esta loja", admitiu a jovem, que sugere alterações na entrada, para tornar o espaço mais atrativo.
Na generalidade, os clientes vão chegando para aguentar o negócio, que, à semelhança de outros, conta dias bons e dias maus. Apesar destes locais serem pouco frequentados, a renda é baixa e, por isso, compensa manter a morada nestes centros comerciais.